Metaverso, um ensaio.

Metaverso, um ensaio.

Quem não deseja encontrar uma forma de expressar-se integralmente? Ao menos, muitos de nós almejam encontrar formas de ter sucesso, no sentido das conquistas possíveis. Quantas vezes você saiu do cinema com aquela vontade de voar, ser invisível, mais forte, mais bonito ou bonita, rápido ou tudo isso ao mesmo tempo? 

Sonhar é uma capacidade humana incrível, promove a criação de cenários irreais que podem motivar a sua concretização. Contudo, nem tudo está ao alcance de todos. A vida é cruel em seus aspectos mais terrenos. Tem quem nasceu com maiores aptidões que outros. Somos iguais biologicamente, mas absurdamente diferentes em nossas composições socioeconômicas. Não é justo mesmo, ao menos no que tange pensar justiça como sinônimo de igualdade de capacidades. Não somos capazes igualmente e o próprio mundo da fantasia dos super heróis mostra isso. Sou arqueiro, de verdade, mas se pudesse escolher quem seria entre os Avengers, o Hawkeye não seria minha primeiro opção nem de longe. Tendo o bilionário Ironman ou o Semideus Thor à disposição no cardápio, o Gavião Arqueiro ficaria relegado às tarefas menores, talvez não menos importantes no contexto de um mundo uno, mas menores certamente e assim escolheria os “mais capacitados” os mais poderosos. Quem não? 

Parece-me adequado pensar que quanto mais avançamos em nossa história, que coloquemos nossos pés na antiguidade. Aquilo que resiste ao tempo é como espada forjada em fogo ardente, venceu as intempéries da cronologia. Uma das quase infinitas ideias antigas, no caso grega é o conceito de Hybris ou Húbris. Imagine, que em sua origem, este conceito estava imerso em uma visão de mundo cosmológico. Isso significa que de largada havia uma crença de que tudo no universo (não no Metaverso) tem seu lugar, sua função, sua aptidão, seu vocare! Desta forma uma laranja não poderia ser uma pera e vice versa. Mantendo este princípio em mente, cada um dos seres humanos também teria seu papel mais adequado, mais ajustado ao cosmos. Desrespeitar seu encaixe no mundo é o mesmo que desequilibrar toda esta universal regência. Isso sendo verdade, quer dizer que O Gavião arqueiro só poderia ser o Gavião Arqueiro e assim Thor só poderia ser Thor. Ao ser o que se é, poderá ser o seu melhor. Essa é um pouco da lógica por trás do pecado de Hybris. Pecado porque uma vez cometido e continuamente cometido se está desequilibrando o cosmos e ao fazê-lo o mesmo tenderá ao caos. 

Não precisamos navegar muito nas redes sociais para encontrar promessas das mais variadas que quase garantem que qualquer um pode ser o que bem entender, basta acreditar e querer. Isso seria verdade se esta informação viesse com uma pequena bula orientando os efeitos colaterais desta aplicação. No mínimo o aviso: “Você pode ser tudo que você pode ser e não o que você quer ser.” As histórias heróicas dos garotos e garotas que saíram da favela e viraram celebridades mundiais levam a crer que se pode ser o que se bem entender. Contudo, basta uma pequena análise racional para derrubar esta hipótese. Um pequeno levantamento estatístico já seria o suficiente. Quantas pessoas estão em situação de baixa renda e quantas delas de fato alçou voos espetaculares? Quantos jogadores de futebol existem? Quantos são os “bonados?” Quantos artistas absolutamente talentosos existem e quantos são aqueles que vão além to Tik Tok? A estatística é cruel, porém mais cruel é alimentar uma esperança vazia. Imagino que muitos que estejam lendo estas palavras agora devam estar sentindo um certo receio, raiva ou até mesmo ódio, pensando “Como você ousa dizer estas coisas??? Como você ousa tirar a esperança de tantas pessoas?” “Quem é você para dizer que não sou capaz?” Realmente difícil lutar contra o sonho humano e uma esperança flamejante que perdura até o leito de morte, quando possivelmente a vida toda passa frente aos olhos e sobre a qual se pondera pensando o que realmente deveria ter sido feito e não foi, pois buscou aquilo que não lhe cabia, que não lhe era adequado e por isso tentou, mas jamais conseguiu. 

O Acaso é forte e mesmo os mais talentosos podem não vingar, enquanto outros aparentemente menos “aptos" parecem ter mais sorte. Talvez seja isso mesmo, o acaso que lhe concede chances únicas e quando se aproveita podemos chamar de sorte mesmo. 

O Conhece-te a ti mesmo já vem nos orientar sobre a busca verdadeira. Mas, vivemos, em muitos casos, a busca do outro, da sociedade, daquilo que não nos é mais intimo e genuíno. Tarefa árdua demais, cansativa, penosa, sofrida. Como diz um de meus mentores, Marcello Arias Danucalov, quando se é lagartixa não adianta tentar ser jacaré, tem que ser lagartixa, bombada, bonita, esbelta, de sucesso, mas ainda lagartixa. Difícil aceitar tal condição cercado por jacarés e leões. 

Esta tarefa de se conhecer, se descobrir e ao fazê-lo apresentar-se por inteiro ao mundo é trabalho árduo, por vezes de uma vida inteira. Agora imagine a possibilidade de se criar um avatar, 3D, virtual, de mentirinha. Viver uma vida que não é a sua. Uma fuga da própria realidade. Imagino que para as lagartixa tendo a oportunidade de ser jacaré não a desperdiçará. Temos sim direito de ganhar mais dinheiro, melhorar nossa condição social, mas ser bilionário, mundialmente famoso é outra história e para poucos, como você já deve ter notado. No fundo sabemos a nossa real, aceitar é o problema. Frente a esta labuta das pesadas que é pisar em nosso próprio terreno, surgindo a oportunidade de nos distanciarmos ainda mais do solo que nos pertence, potencialmente agravaremos a crise de identidade pela qual se passa hoje. 

Mas, claro, tudo isso é apenas um ensaio, um devaneio, uma possibilidade talvez não tão possível, talvez apenas virtual, mas vai que calha de ser uma verdade? 

Tiago Petreca, Sócio Fundador da Kuratore, Country Manager getAbstract Brasil, Autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow” - tiago.petreca@kuratore.com.br

Alessandra Gonzaga, Ph.D.

Mentora de Inteligência Emocional | Mestre em Psicologia Clínica | Doutora em Gestão de Pessoas | Certificada Korn Ferry | Analista Comportamental

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Tudo no universo tem sua 'vocare'. Lindo!

Ricardo Abiz

Founder at SppockAI - SpkLearn - Gethub

3 a

Tiago Cardoso Petreca meu amigo, já o tinha na mais alta estima, mas após ler este artigo extremamente bem abordado, de uma profundidade que no mínimo merece várias leituras afim de subtrair o tanto que nos é oferecido só me faz sentir privilegiado em o ter no meu estreito círculo de quem chamo de amigo. Parabéns pelo texto, sua profundidade coroa o conhecimento que incansavelmente você busca e gentilmente compartilha com todos nós.

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