Engajamento Cosmico IV: (e)Ventos Radioativos
"Achei tendência"

Engajamento Cosmico IV: (e)Ventos Radioativos


Radiação Divina

Passeando pelos céus do mundo todo, essa estrela não faz distinção entre países, raças e times de futebol. Perante o "Rei dos Céus", somos todos iguais.

Por muito tempo associou-se o Sol aos mais poderosos deuses e deusas do universo.

Dos desertos do Antigo Egito aos templos xintoístas japoneses, pessoas do mundo todo encontravam no Sol traços de divindade.

Apesar de possuir status de "rock star" (sic) entre os terráqueos, nossa estrela é apenas uma dentre bilhões de outras espalhadas pela galáxia.

Isso mesmo, GALÁXIA.

Quando estendemos nossos horizontes para além da Via Láctea, nossa agora "pequena" estrela se torna uma dentre TRILHÕES de outras, muitas destas de tamanho demasiado extenso para descrever aqui.

O universo é um lugar medonhamente vasto onde nem mesmo a coisa mais rápida que se tem notícia, a LUZ, consegue percorrê-lo rápido o suficiente para satisfazer os padrões humanos de velocidade.

A luz é capaz de ir do Ponto A ao Ponto B a cerca de 300.000m/s.


TREZENTOS MIL METROS POR SEGUNDO.


Apesar da pressa, ela ainda assim leva cerca de OITO MINUTOS para sair do Sol e dar o ar da graça aqui na Terra.

Se por algum motivo o Sol desistisse de seu título divino e desaparecesse de vez, levaria cerca de oito minutos para que pudéssemos notar sua ausência, o que seria uma pena já que não sobraria tempo para postar tal fenômeno nas redes sociais e com isso gerar um baita engajamento.

Estaríamos ocupados demais morrendo.


Ondas Radioativas

A história da comunicação humana se estende por milhares de anos.

De pinturas rupestres criadas há milhares de anos atrás até os memes da Gretchen dos dias atuais, sempre adaptamos nossa comunicação ao tempo onde ela se faz necessária.

Um extraterrestre desavisado chegaria a conclusão de que pouco evoluímos como espécie e partiria frustrado rumo a outro planeta em busca de vida mais inteligente.

Um observador mais atento, no entanto, ficaria fascinado ao embarcar pela história humana e descobrir a riquíssima diversidade de idiomas, dialetos, alfabetos e tudo o mais que compõe a complexa comunicação entre os espécimes do Homo Sapiens.

Sempre buscando evoluir, lançamos mão de uma série de artifícios tendo como objetivo aperfeiçoar nossas habilidades comunicativas.


Em meados do século XV, um destemido ourives alemão de nome Johannes Gutemberg, acaba por inventar uma engenhoca genial: a prensa móvel.

Se antes as escrituras, sagradas ou profanas, eram um privilégio das elites eclesiásticas e reais (e nem sempre seguindo essa ordem), agora poderiam ser escritas, reescritas, traduzidas e espalhadas por toda a Europa Medieval.

Tal máquina tornou capaz a produção de cerca de 3,600 páginas de texto por dia. Para se ter uma ideia da evolução, a média de produção à mão (comum na época) era de pouco mais de uma dezena por dia.


Uma das grandes descobertas dessa época fora o fato de que notícias ruins viajam tão rápido quanto o vento.


Uma das maiores revoluções da história humana estava em curso e seus efeitos foram sentidos não somente na Europa Medieval, onde abalou as estruturas de regimes já decadentes, como também lançou as bases para outras revoluções futuras, como a Renascença. Esta, por vez, impulsionou o compartilhamento de ideias revolucionárias de forma exponencial.

Independente da distância geográfica e temporal, ideias revolucionárias eram agora capazes de viajar cada vez mais rápido e distante, não respeitando fronteiras cuidadosamente desenhadas nos mapas cartográficos de uma Europa cada vez mais conectada e efervescente.

Ideias radicais como o socialismo, nacionalismo e outros "ismos" viajavam Europa afora sem pagar passagem aos monarcas da época, o que obviamente causou revolta nesse meio pois taxar informações era uma das poucas coisas para o qual tal classe de indivíduos pomposos servia.

Mas não somente de más notícias vive o homem.


Marés Radioativas

As descobertas no campo científico estavam a todo vapor das máquinas da época, possibilitando uma contínua revolução de conceitos e uma constante quebra de paradigmas, conduzindo uma descoberta à outra e assim sucessivamente, numa velocidade assustadora de sucessões em tempos onde tal coisa ocorria somente a cada década ou quando algum monarca tinha a indecência de ser morto nos Bálcãs.

No verão de 1896, um desses monarcas, decidido a trazer o monopólio de informações de volta às mãos de ferro da nobreza, acaba por inventar uma engenhoca capaz de transmiti-las pelo ar, longe das mãos sujas do proletariado.

Por coincidência, tal engenhoca acabou por revolucionar a comunicação humana mais uma vez, o que talvez despertasse uma dose de inveja ao detentor do título de "revolucionário das comunicações" anterior, mas para a sorte do monarca, tal indivíduo encontrava-se morto há séculos.

O nome do nosso herói não era Rádio mas sim Guglielmo Marconi.

Sua invenção, apesar de ser justamente um rádio, era chamada de "telégrafo sem fio" pois, como é possível imaginar, dar nome à coisas ainda inexistentes não era coisa digna de pessoas sãs, ainda mais numa época onde se acreditava que o manicômio era o lugar perfeito para pessoas metidas a espertas.

Marconi era um desses sujeitos metidos a espertos e, após escapar por pouco de passar as férias num asilo para espertinhos, chega a conclusão de que as terras Italianas não eram férteis à ideias revolucionárias. Ele decide então usar do seu bom-senso para levar sua mais nova invenção para a maior potência mundial de então: o Império Britânico.

A Inglaterra vitoriana era a terra do sucesso muito antes disso virar moda no outro lado do Atlântico.

E oceanos eram a especialidade dos britânicos.


A conquista dos sete-mares possibilitou a conquista dos cinco continentes numa demonstração ímpar de poder até então jamais vista na história mundial e tal feito só fora repetido meio século depois pelos filhos bastardos da Coroa Inglesa, que usaram da mesma tática de domínio marítimo para conquistar boa parte do planeta.

O fato de o mundo inteiro ter caído na mesma manobra tática duas vezes seguidas faria qualquer observador extraterrestre ainda simpatico à raça humana morrer de desgosto.

Felizmente, ainda tínhamos alguns espécimes espertos entre nós.

Nosso herói italiano e seu "telégrafo sem fio" causaram rebuliço no fértil solo britânico ao transmitir a primeira mensagem sem fio em mar aberto da história, partindo da ilha de Flat Holm até Lavernock.

Após algumas tentativas frustradas, um ar de desesperança pairava sob ambas as costas do mar de Bristol. Aliado ao clima frio e chuvoso típico da região, o cenário era desolador em todos os sentidos.

Grupos de engenheiros bigodudos aguardavam ansiosamente por qualquer som que fizesse tamanha miséria valer a pena.

Após alguns minutos deliberando se deveriam repensar suas decisões de vida, todos são pegos de surpresa após um ruído cortar o silêncio sepulcral.

Era a tão esperada mensagem de Marconi.

A mensagem lia:


"Você está pronto?"


Prontos ou não, todos concordaram que tal feito era digno de entrar para a história e fizeram justamente isso ao imortalizá-la em livros da tal disciplina desde então.

Essa descoberta não passou despercebida pelos ingleses que logo adotaram o monarca italiano e sua engenhoca como membros honorários do Império.


Marketing Intercontinental

Na virada do século, Marconi decide por expandir sua mensagem para além de terras britânicas e bola um plano ambicioso: transmiti-la através do Atlântico Norte, conectando o Império Britânico aos Estados Unidos.

Já a algum tempo o italiano se encontrava numa luta constante contra as forças humanas que buscavam superá-lo na corrida na corrida tecnológica pela supremacia das ondas de rádio.

O que ele não contava era que a mãe-natureza também estava afim de entrar na disputa pelas maiores ondas e esta enviou algumas contra suas bases de transmissão, como uma mensagem de aviso a todos que ousassem desafiá-la.

Mas teimoso como era, aceitou o desafio de vencer a mãe-natureza no seu próprio jogo.

Se não pudesse controlar as ondas pelo mar, iria controlá-las pelo ar.

Mesmo após as marés de azar, Marconi decide persistir e no dia 12 de Dezembro de 1902 realiza mais um feito histórico ao transmitir a primeira mensagem de rádio intercontinental, finalmente conectando a América do Norte ao Império Britânico.

A histórica mensagem lia:


"S"


Muito se especula a respeito do real significado dessa mensagem.

Alguns acreditam que a mensagem está incompleta e que a aparente ambiguidade seja fruto da incapacidade humana de compreender o real significado dela e que somente o tempo dirá o que ela realmente quis dizer.

Outros acreditam que a tal "mensagem" fora resultado de mera interferência atmosférica e que tudo não passou de mais um truque por parte da mãe-natureza.

Independente das teorias, Marconi saiu por cima e algum tempo depois tornou possível a primeira conversa intercontinental via rádio, realizada entre o presidente americano Theodore Roosevelt e o Rei Edward VII do Império Britânico.

Tal insistência em conectar os grandes chefes-de-estado da época não fora mera coincidência, Marconi era, além de um inventor genial, um grande homem de negócios.

Suas peripécias intercontinentais renderam-lhe enorme fama e fortuna em ambos os continentes, em jogadas de marketing tão geniais quanto suas engenhocas eletrônicas.

Mas mesmo após tamanho sucesso, nosso italiano destemido ainda não se encontrava a salvo dos golpes-baixos da mãe-natureza.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Jonathan Mello

  • Engajamento Cósmico V: Quebrando o Gelo

    Engajamento Cósmico V: Quebrando o Gelo

    Era uma bela noite de primavera no dia 12 de Abril de 1912. As águas do Oceano Atlântico se encontravam errantes como o…

  • Epifania Meteórica

    Epifania Meteórica

    ❝Naquele dia, quando as estrelas caíram, era como se fosse uma cena de um sonho. Nada mais, nada menos que uma bela…

  • A Honestidade É um Prato Que Se Come Frio

    A Honestidade É um Prato Que Se Come Frio

    Desde a infância escutamos de nossos responsáveis que devemos sempre contar a verdade, somente a verdade e nada mais…

  • Mídias Sociais: Matando a Curiosidade

    Mídias Sociais: Matando a Curiosidade

    Uma empresa pode ter dois, três, DEZ mil seguidores, mas se nem 10% deles de fato interage com a empresa, o que se tem…

  • AI: A Writer's Best Friend

    AI: A Writer's Best Friend

    Humans have been pushed to their limits by the recent quest for ever-increasing production since the 1700s. Ironically…

  • Google My Business Playbook I: How NOT to Choose Your Name

    Google My Business Playbook I: How NOT to Choose Your Name

    Welcome to Google, your name, please. How often do you change your actual business name? I doubt it happens very often.

  • Your Papers, Please

    Your Papers, Please

    Não basta FALAR inglês, no país onde diploma virou commodity, TER um papel comprovando sua estadia em "Dãblim" vale…

  • Trânsito de Ideias

    Trânsito de Ideias

    Seja entre amigos de longa data ou desconhecidos, uma boa conversa amigável é sinal de uma interação social saudável…

  • Geopolitizando I: A Sedução Como Arma

    Geopolitizando I: A Sedução Como Arma

    Quatro séculos de hegemonia Han trouxeram enorme prosperidade as povos do vale fértil chinês. Tamanho case de sucesso…

  • Engajamento Cósmico III: Sopa De Crustáceos

    Engajamento Cósmico III: Sopa De Crustáceos

    Há cerca de 252 milhões de anos atrás, os grandes oceanos primordiais ferviam em vida. Para o azar dos seus habitantes,…

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos