Meu amigo Neno...

NENO… passadas umas horas e depois de te ver deitado naquele sofá e a “descansar de forma serena”, como tantas vezes te vi nos nossos estágios,começa a cair-me a ficha de que, de facto, nos vais privar com a tua ausência física.

Talvez por isso sinta necessidade de te prestar uma simples homenagem com um pequeno texto e um vídeo que quem é teu amigo vai entender…

Senti tristeza, revolta, ao procurar entender porquê.

Passei algumas horas a recordar os teus vídeos, as tuas fotos, que, religiosamente, enviavas aos amigos.

A recordar as nossas conversas e desabafos, muitas vezes sobre a percepção que as pessoas têm de nós, ou a “solidão” do sucesso, do poder e do mediatismo.

Não raras vezes as pessoas vêem em nós aquilo que querem que sejamos, e no fundo…somos simples mortais, com fragilidades e momentos de tristeza que nos invadem a alma, como qualquer um.

Mas, depois, e embora concordasse contigo, saía sempre das nossas conversas com a certeza que existiam pessoas…e existia o NENO.

Confesso-te que, no início, até parecia tentado a duvidar. Podiam mesmo existir pessoas com o carácter que sempre fizeste questão de transparecer? Seria possível tanto altruísmo?

A resposta estava na convivência diária contigo. Nessas alturas, percebia-se uma coisa, tu eras mesmo muito mais do que alguém pode imaginar.

Sabes que as poucas vezes que me chateava contigo era quando assistia ao que não suportava, ao aproveitamento de que eras, algumas vezes, alvo. Daqueles que talvez nunca tenham percebido a tua verdadeira DIMENSÃO.

Talvez só quem tenha tido o privilégio de te acompanhar é que percebia o que representavas para as pessoas, e que nós, mesmo que, por momentos, estivéssemos em termos institucionais/hierárquicos noutro patamar, só nos

podíamos sentir orgulhosos, honrados e abençoados por te termos, por fazeres parte de nós.

Mas fizeste-o SEMPRE com uma subtileza, humilde e classe para que sentíssemos que estávamos ao teu nível. Mas não estávamos. Nunca ninguém esteve, nunca ninguém alcançará a tua dimensão humana. Às vezes rematavas com: “Ó SR.ARMANDO MARQUES O DIFÍCIL É FAZER SIMPLES…”

Sabes que guardarei também para a vida uma das tuas últimas frases…” MEU AMIGO NÓS ÉRAMOS FELIZES E NÃO SABÍAMOS…”

Mas, além deste texto, queria partilhar algo. Um dia fomos ao Luxemburgo, representar o Vitória. O NENO, o presidente Júlio e eu. O amigo Antunes foi-nos buscar ao aeroporto e fomos até ao centro da cidade, onde estacionámos num parque subterrâneo.

Apostei com o NENO, à frente de duas pessoas, que se chegasse à superfície e ninguém o reconhecesse em 30 segundos, eu pagava-lhe 10€. Ao contrário, pagava ele.

Resultado? Quando o NENO chegou à rua batemos de frente com um semáforo onde estava parado um taxista português. Sabem quem ele reconheceu? Resposta fácil, claro: o NENO. Abriu a porta do carro, veio tirar uma foto com o NENO, deixando o carro parado no semáforo. O sinal passou para verde/amarelo e voltou a ficar vermelho, mas nem por isso o homem deixou de ficar com a selfie.

Conclusão: o NENO perdeu a aposta… 5 segundos!

Moral da história? Talvez a verdadeira dimensão do NENO fosse algo imperceptível, ou até esteja agora a ser mais perceptível, mas nós tínhamos entre nós uma pessoa que era ENORME, mesmo que pela forma de estar, parecesse o nosso vizinho do lado, simpático, que nos cumprimenta.

NENO, como este texto já vai longo, digo-te que no dia 10/06/2020, precisamente há um ano atrás, no Facebook, escrevi um texto a justificar os nomes dos 10 atletas que mais me marcaram na minha vida associativa.

Claro que te escolhi, não só pela qualidade futebolística que era muita, mas essencialmente porque tinhas sido, és, e serás o melhor SER HUMANO QUE CONHEÇO!

OBRIGADO NENO!