Meus dois centavos sobre Layoffs.

Meus dois centavos sobre Layoffs.

Tema delicado.

Especialmente por eu não ter participado de nenhum e ter amigos que infelizmente estavam incluídos em listas de Layoffs.

Mais especialmente ainda por que eu vou usar todo meu pragmatismo para falar desse assunto. E por isso peço desculpas antecipadas.

Não tem um dia que eu não agradeça pelo mundo AINDA não entender direito o que é a área de TI. Eu, um ateu convicto, sinto a proximidade com o divino por notar que políticos e empresários não têm a menor ideia do que é a área de TI.


Políticos não sabem como taxar TI.

Empresários e gestores não sabem como gerir TI.


Até parece que foi ontem, mas foi em 2021 quando eu presenciei um CEO DE FRENTE para os gráficos de produtividade da sua empresa e, mesmo após eu ter explicado a ele, ele me perguntou: "tá, mas isso significa que os times estão entregando mais tarefas por dia?"

E esse é o princípio do meu diagnóstico sobre layoffs: empresas de TI estão sendo geridas como se construir um software fosse igual a construir um prédio. Com todo respeito à engenharia civil.

Há quase 50 anos o "Mítico Homem-Mês" já nos explicou que "nove mulheres não dão a luz a um bebê em um mês". E até repetimos o bordão. Mas em pleno 2023 as empresas de TI continuam contratando como se a razão do sistema não atender às necessidades do cliente fosse meramente falta de braço.

A famosa "bolha da TI" que muitos vinham comentando: eu já presenciei programas onde empresas literalmente perguntavam a transeuntes se eles queriam trabalhar com TI. Davam 3 meses de curso intensivo para ensinar as pessoas a programar do zero. E contratavam essas pessoas como estagiários, depois.


Quantidade em TI não é qualidade.

E, com isso, não quero nem por um segundo dizer que as pessoas em listas de layoffs não possuem qualidade.

O problema é que TODAS AS EMPRESAS DE TI criam estruturas militarizadas de comando-controle, replicando estruturas de gerenciamento de projetos de engenharia civil para criarem software.

E quando o resultado projetado não chega, os gestores ainda tem a PACHORRA de expressarem surpresa.

É basicamente o modelo econômico de esquerda: "bóra nos endividar para fomentar o crescimento, o lucro virá naturalmente!"

É um sistema frágil: no primeiro revés do mercado o modelo da empresa não se sustenta. O lucro não aparece, mas os boletos sempre nos encontram. Pregam e exigem tanto a resiliência, mas a empresa em si não tem um modelo que consiga suportar e se recuperar de crises. Quanto mais esperar que as empresas tenham um modelo robusto. Muito longe do modelo anti-frágil.


TI não é (nem nunca foi) sobre pessoas, tão pouco sobre a qualidade delas.

TI é sobre a QUALIDADE DO TEU SISTEMA DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO.

Quanto melhores os dados que você tiver na entrada do teu processo de desenvolvimento, provavelmente você terá melhores insumos para desenvolver a feature que realmente vai agregar no processo de valor do seu cliente. E esse é um processo científico: somente com o software em funcionamento na frente do teu cliente é que você terá o insumo para saber o próximo desenvolvimento.


TI é sobre QUALIDADE de entrega.

Uma única entrega bem feita provavelemente é o que mantém teu sistema com aderência ao mercado. É por causa de UMA feature que o teu sistema é o preferido dos teus clientes. As estatísticas mostram que mais de 80% das entregas da tua empresa são usadas no máximo duas vezes pelo teu usuário.

Essa única entrega é o que paga toda a tua operação até hoje. Você não precisa criar uma linha de montagem para entregar mais e mais features todos os dias para seu cliente. Provavelmente seu cliente sequer precisa de todas essas features. Uma boa empresa de TI mantém um código limpo o suficiente para atender as mudanças necessárias por legislação, tecnologia e modas cíclicas. Uma boa empresa de TI garante que a maior parte do seu investimento seja em entender o mercado, entender os clientes, entender o contexto em que está inserida e, assim, passar a criar MVPs com risco protegido para expandir sua capacidade de atender o cliente.


Empresas de TI crescem em qualidade, de acordo com as descobertas científicas que fazem. Problema, hipótese, teste, teoria, novo problema, nova hipótese, novo teste, nova teoria, etc...

Nesse cenário, a contratação de pessoas não pode se dar por números estipulados em reuniões de diretores. Céus, eu já tive que engolir OKR level CEO "chegar a mil funcionários no final do ano!". PRA QUÊ?


Nesse contexto, basta ver os números de contratações das empresas: entopem a empresa de pessoas, buscam número e não qualidade, o número de pessoas dificulta a comunicação interna, o resultado projetado não se materializa... e na primeira adversidade do mercado, a empresa despreparada sai pela tangente da solução mais fácil: cortar as pessoas que não estão dando o resultado esperado por que a empresa não criou sua posição sabendo o resultado que poderia atingir.


Nesse cenário, continuo preocupado com meus colegas de agilidade.

Agilidade é justamente sobre cortar todo o lero-lero da empresa e focar a empresa para o seu objetivo: atender tão bem o cliente que o cliente fique tão feliz com a empresa a ponto de derrubar caminhões de dinheiros nas contas da empresa.

E quando eu digo "cortar todo lero-lero da empresa", foco que eu disse "empresa". É papel do agilista trazer todos os fatos e dados para a empresa como um todo. Agilista precisa conseguir sair de uma conversa com o estagiário pronto para emendar uma reunião com o CEO e o principal cliente. E estar pronto para apresentar fatos e dados, tocar na ferida e propor planos de ação para que a empresa cumpra seu objetivo.

E se você, gestor, não está pronto para ouvir as verdades que a agilidade tem para te trazer, nem contrata o agilista. Sério. Continua com teu modo "pipa" de trabalhar.

E se você agilista não está pronto para enfiar o dedo na ferida, manda uma mensagem no privado. Eu te ajudo. É meu interesse que a agilidade seja vista como solução dos problemas, não como um enfeite para a empresa dizer que é "legal" para o mercado.


Eu tô é cansado de empresa mal gerida. Empresa despreparada para enfrentar o mercado, agindo por convicção de gestores em vez de pesquisa séria. Empresas que sequer entendem a própria posição frente aos clientes. Gestores cheios de si em reuniões internas. CEOs prepotentes e sem capacidade básica de compreensão do que têm nas mãos, tomando decisão estratégica ruim atrás de decisão estratégica desastrosa para, depois que a tragédia está concretizada, resolver suas incompetências com "reestruturações" da empresa e lista de layoffs.


Eu tô aqui para chutar bundas e fazer as coisas acontecerem. E as bundas para chutar já acabaram. Ao que parece, literalmente. Qual vai ser a tua próxima solução genial quando as tuas estratégias falharem novamente, gestor? Vai continuar gerindo a tua empresa como se fosse uma mesa de cassino em Las Vegas, ou vai arregaçar as mangas e fazer teu trabalho de escalar o teu modelo de gestão para ele ser anti-frágil?

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