Minas é o segundo estado com maior número de novos casos de câncer de próstata até 2025
No mês de novembro, marcado pela campanha de conscientização sobre o câncer de próstata, segundo tipo de tumor que mais atinge homens no mundo – atrás apenas do de pele não melanoma – Minas Gerais ocupa a vice-liderança de um ranking que, infelizmente, não é motivo de comemoração: a cada ano do triênio 2023-2025, são esperados por aqui 7.970 novos casos da doença, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). O estado fica abaixo apenas de São Paulo, cuja estimativa é de 16.830 diagnósticos no mesmo período.
Ainda de acordo com o INCA, o envelhecimento populacional é um dos principais fatores relacionados aos novos diagnósticos. A análise da entidade de saúde é respaldada, inclusive, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em junho do ano passado: o grupo de mineiros com 65 anos ou mais passou a representar 10,9% do total da população do estado em 2022, ante 8% em 2012.
Mais do que qualquer outro tipo, o câncer de próstata é considerado um tumor da terceira idade, ou seja, quanto mais velho o paciente, maior é a chance de diagnóstico.
Geralmente, no estágio inicial, a doença é silenciosa. Às vezes o paciente pode ter o que chamamos de Disúria e Polaciúria. A primeira é caracterizada por dor, queimação, ardência ou desconforto ao urinar, ou após o ato de urinar. Já a segunda refere-se ao aumento da frequência das micções, ou seja, micções com intervalos menores. Em fases mais avançadas, emagrecimento repentino e dor óssea, indicando metástase – a disseminação da doença para outros órgãos - chamam atenção.
Para evitar a descoberta em fase tardia, o que dificulta as chances de cura, é fundamental a adesão do homem ao exame urológico anual partir dos 50 anos de idade, conhecido como toque retal.
Durante o método, se insere um dedo no ânus do paciente, utilizando luva e lubrificante, e analisa-se a região por cerca de 10 segundos. A textura da próstata, normalmente, é fibroelástica. Isso significa que áreas endurecidas apalpadas durante o exame podem sinalizar para a presença de doença neoplásica. Diante dessa suspeita o urologista solicita uma ultrassonografia transretal, seguida de biópsia para confirmar o diagnóstico.
Felizmente, o preconceito contra o toque retal tem diminuído significativamente nos últimos anos. Sou oncologista desde 1995. Na década de 90 e no início dos anos 2000, falar deste exame era um assunto muito complexo, carregado de machismo e ignorância. Hoje, as pessoas estão mais conscientes de sua importância.
Essa informação é reforçada por uma pesquisa inédita encomendada ao Instituto Datafolha pela plataforma Omens e pelo Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL): de acordo com o levantamento, 95% dos brasileiros reconhecem a importância do exame de toque retal para o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Além disso, 88% avaliam que fazer o exame não interfere na masculinidade dos homens.
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Além de identificar o tumor, o toque retal pode ainda encontrar outros sinais de doença na próstata, como prostatite (inflamação da próstata) e hiperplasia (aumento da próstata).
Outra avaliação, é o exame de PSA, teste feito a partir da coleta de amostra de sangue do paciente para medir a quantidade de uma proteína, o Antígeno Prostático Específico (PSA), produzida pelas células epiteliais da próstata. O valor de referência do PSA fica em torno de 2,5 nanogramas (ng) por mililitro (ml) de sangue. Ela pode estar um pouco aumentada em pacientes a partir dos 60 anos e não necessariamente significar doença. É um dado dentro de um conjunto de questões utilizadas para se chegar ao diagnóstico, mas isoladamente não é o principal parâmetro.
Tratamento em doença ainda precoce salva vidas
Quanto mais precocemente for o diagnóstico, maior será o sucesso do tratamento. Nessas situações, intervenção cirúrgica será o caminho mais assertivo. Já em fase mais avançada, há hoje, uma série de terapias com antiandrogênicos bem poderosos que aumentam a sobrevida de forma significativa e controlam a enfermidade. Eles, porém, não são curativos, mas paliativos.
Os benefícios ao fazer o toque retal e todos os exames necessários e recomendados são infinitamente maiores e melhores. Quem ainda deixa de se prevenir por pura ignorância e preconceito, compromete a saúde e até mesmo a vida.
Alexandre Chiari, Oncologista