Mineiro por inteiro
Há 10 anos, conversando em São Paulo com Pedro Parente, à época presidente da Bunge, fui questionado sobre Camilo Pena. Disse-lhe eu que estava muito bem, ativo, participando de reuniões e eventos na ACMinas e na Fiemg. Pedro me revelou que gostava dele, o respeitava muito e queria vir a Belo Horizonte para revê-lo. Quando fui surpreendido pelo falecimento do ministro Camilo Pena, o primeiro pensamento que me passou pela cabeça foi a dúvida: será que, desde então, eles haviam se encontrado?
Além dos políticos mineiros, no estrito senso do conceito - aqueles que concorriam a cargos eletivos e construíram sua imagem pela polidez no trato, competência no ouvir, habilidade para a busca de convergências e senso do bem comum -, entre os quais se destacaram JK, Tancredo Neves, Magalhães Pinto e Milton Campos, na segunda metade do século passado, Minas Gerais forneceu ao país gestores públicos de elevada competência.
Os técnicos mineiros, muitos egressos da UFMG, forjados na CEMIG, no BDMG e nas empresas estatais, cujas sedes ainda estavam aqui, no Estado, foram profissionais que aliaram conhecimento técnico, espírito público e aspiração para fazer presente o sonho do desenvolvimento, antevisto por Stefan Zweig para o futuro. Entre tantos, relembro Lucas Lopes, Amaro Lanari Junior, Fernando Reis, Israel Vargas, Francisco Noronha e Luís Aníbal Fernandes.
Camilo Pena foi um desses visionários. Descendente de Afonso Pena, começou sua carreira na então Cia. Vale do Rio Doce, transferindo-se para a CEMIG, chegando à sua presidência. Foi secretário da Fazenda do Estado de Minas Gerais e ministro de Indústria e Comércio no governo Figueiredo. Sua trajetória profissional atesta sua incontestável liderança. Por onde passou deixou um legado de competência, equilíbrio, desprendimento e integridade.
Seu único ato político, deixar o ministério do presidente Figueiredo por não concordar em apoiar a candidatura de Maluf à presidência no Colégio Eleitoral, foi feito com respeito ao governo que servia e com total discrição.
Com seu comportamento, Camilo Pena nos deixou lições de simplicidade, que só os grandes líderes possuem. Na última vez que me encontrei com ele, em evento na ACMinas, ao vê-lo sair sozinho, o acompanhei até à porta do prédio, imaginando que haveria um carro à sua espera. Foi surpreendido, quando me falou que iria tomar um taxi. Antecipei-me para conseguir algum disponível no intenso movimento do trânsito de meio-dia da Avenida Afonso Pena. Ele sentou-se no banco da frente ao lado do motorista, agradeceu-me e se despediu. Nunca mais eu o vi.
Desconfio que Camilo, de nós, espera não apenas saudades, mas que possamos dar continuidade aos seus sonhos e ao seu legado de compromisso público, integridade e simplicidade. Foi um exemplo de mineiro por inteiro.
Membro do Conselho de Administração do BRB - Banco de Brasília S.A.
3 aTive a imensa sorte de iniciar minha carreira no setor público em 1979 tendo como ministro Camilo Pena e como meu chefe imediato o então Secretário de Tecnolgia Industrial, José Israel Vargas. Foi um aprendizado que perdurou por toda a minha vida profissional.
Excelente artigo! Precisamos de mais "Camilo Pena"s. Abs.,