Minha história com a dupla AveCruz
Eu não escondo de ninguém que o meu time do coração é o Esporte Clube Avenida. Por motivos óbvios: meu avô (Bruno Seidel I) foi presidente do clube por três mandatos (foi na gestão dele, inclusive, que o clube comprou o terreno onde construiu o Estádio dos Eucaliptos). Ele também foi um dos primeiros jogadores do time (fundado em 1944) e chegou a ser capitão, técnico e preparador físico (coisas do futebol raiz).
O rival do Avenida é o FC Santa Cruz, popularmente chamado de "Galo", que é bem mais antigo (fundado em 1913). Inclusive, o Avenida foi fundado a partir da dissidência de alguns jogadores (inclusive meu avô) que eram "reservas mal aproveitados" do rival. Nos anos 1970, os dois clubes chegaram até a "fundir-se" temporariamente, virando um time só (coisas do futebol raiz).
Apesar da rivalidade com o Galo, eu nunca tive um sentimento de ódio pelo adversário, algo tão comum em dérbis. Até porque, sendo bem honesto, eu não sou um torcedor muito presente e envolvido com o Avenida como talvez deveria ser. Eu mal acompanho o time nos campeonatos que ele participa e dá pra contar nos dedos as vezes em que fui ao estádio. Logo, eu não consigo torcer contra o Santa Cruz, com exceção do clássico AveCruz. E só costumo manifestar meu envolvimento com o clube quando ele é Campeão ou quando atinge uma façanha (avenidenses fervorosos talvez me odeiem por isso).
Durante os anos 1990, quando o Avenida estava com o departamento de futebol desativado, o Galo era o único representante do futebol santa-cruzense no Campeonato Gaúcho. Chegou até a permanecer durante muitos anos na 1ª Divisão, sempre enfrentando os adversários poderosos da dupla Grenal (e sempre dando trabalho). É bem provável que eu tenha assistido a mais jogos do Galo, no Estádio dos Plátanos, do que do Avenida, no Estádio dos Eucaliptos.
Ainda assim, foi no ano de 2009 que eu tive a oportunidade de conhecer mais de perto os dois clubes que representam o futebol da minha cidade. Na ocasião, eu recém tinha sido contratado como Auxiliar Administrativo na Assessoria de Comunicação da Unisc (Asscom), que estava passando por uma reformulação com a chegada do novo coordenador, Everson Carvalho de Bello (o melhor chefe que eu já tive na minha vida). E o Avenida recém tinha subido para a 1ª Divisão do Gauchão (depois de 10 anos na Série B).
E o que uma coisa tem a ver com a outra? Bom, o marketing esportivo era o chão do Bello e, na época, a Unisc estava num excelente momento financeiro, com bastante visibilidade e prestígio a nível estadual. Ter dois times da cidade disputando o campeonato estadual era, sem dúvidas, um feito e tanto (apenas Porto Alegre e Caxias do Sul tinham mais de um representante na elite). Logo, patrocinar ambos os clubes era uma forma de surfar nessa onda e ter o nome da universidade associado a um dos principais campeonatos estaduais do Brasil. Mais do que isso: a nossa ideia era ir além da relação de marca e patrocínio.
Na época, a Asscom tinha os melhores profissionais de propaganda da cidade (o talentosíssimo Everton Teixeira era quem encabeçava o nosso time de Criação). E a gente tava muito a fim de mostrar serviço em ações que iam além do tradicional trabalho de branding institucional. Trabalhar diretamente com dois dos maiores clubes de futebol do estado era, para um bando de "vassouras novas", uma grande chance de nos divertirmos enquanto mostrávamos serviço. E foi com esse espírito que eu encarei aquela campanha.
O Bello teve a ideia de fazer uma parceria com o grupo Gazeta, que detinha os maiores veículos impresso e de rádio da região, para abraçar a campanha conosco. Eles entrariam com toda a parte de mídia e divulgação, enquanto a Unisc e seus profissionais de criação desenvolviam as peças publicitárias, que iam de anúncios a spots de rádio, além do marketing de guerrilha (outra marca muito forte da "gestão Bello"). Os clubes, por sua vez, ganhavam ampla visibilidade e presença garantida na mídia local. Todo mundo saiu ganhando!
O curioso é que, apesar de estar muito pilhado com aquela campanha, eu ainda era um torcedor pouco envolvido com o futebol local. Nunca dei muita bola para os times e os campeonatos nacionais. Meu interesse por futebol se resume a Copa do Mundo (principalmente), Champions League, Eurocopa e competições internacionais. (eh, eu sei! sou um torcedor bem coxinha)
Ainda assim, foi durante a disputa do Campeonato Gaúcho de 2009 que eu desenvolvi uma das principais skills que eu tenho como comunicólogo: a de mestre de cerimônias. E foi tudo muito por acaso! Durante o jogo entre Santa Cruz e Esportivo, na noite do dia 11 de fevereiro, nos Plátanos, fui informado, minutos antes do início da partida, que eu teria que pegar o microfone e conduzir uma ação de marketing com os torcedores no meio do campo (?). Quem meteu essa pilha, no dia, foi o meu colega Fabrício Gianezini, coordenador do marketing esportivo. Apesar de já ter brincado de falar em público com o microfone em outras ações da Unisc, nada se comparava com estar no meio do campo e falando com uma plateia de milhares de torcedores.
Recomendados pelo LinkedIn
Como mestre de cerimônia, eu deveria convidar alguns torcedores VIPs sorteados para participar de uma brincadeira de chute a gol no intervalo do jogo. Eram cinco torcedores do Galo que deveriam ir até o centro do campo, pegar a bola e acertar a goleira lá do meio (sem goleiro, óbvio). Confesso que estava meio nervoso, mas quando peguei o microfone e vi que seria muito mais fácil do que imaginava, a coisa fluiu.
Os cinco torcedores do galo sorteados compareceram no centro do gramado para chutar a gol. Eu peguei o microfone e saí falando sem hesitar (sem aquela de “Ei! Teste! Som!”). O som também estava atrasado (eu ouvia minha voz em eco, o que me atrapalhou um pouco). Eram quatro homens e uma mulher chutando a gol. Os quatro homens erraram e a única mulher, que foi a última a bater, acertou. Parecia até combinado. Não me intimidei e até berrei ao estilo dos locutores esportivos: “Gooooolll!” Foi muito, mas muito divertido!
Depois daquela apresentação, fui novamente chamado para bancar o mestre de cerimônias quatro dias depois (dia 15/2). Era uma linda e quente tarde de verão. Desta vez, num evento bem mais importante. O mais aguardado pelos avenidenses: o jogo contra o Grêmio, nos Eucaliptos.
A partida era válida pela última rodada da primeira fase e poderia até classificar o Avenida, em caso de vitória. Naquela ocasião, houve uma mobilização muito maior em termos de marketing, pois o jogo seria televisionado para todo o estado. E o cerimonial não seria apenas no intervalo, mas também antes do início da partida, com direito a presença das rainhas do Gauchão 2008 (Bruna Molz) e a musa do Avenida (Sancler Frantz). Outra atração bacana era a presença dos nossos “Caça-Fantasmas” da Unisc: os colegas Neni & Sarrafo utilizavam uma espécie de bazuca que arremessava camisetas para torcida. A galera ia à loucura com aquele clima de "evento de abertura".
Apesar da nítida predominância de gremistas no estádio (o que já era de se esperar), foi um espetáculo muito bonito. Havia mais de 3 mil pessoas nos Eucaliptos naquele domingo. Confesso que eu fiquei com um friozinho na barriga antes de ligar o microfone, mas deu tudo muito certo. A única parte chata foi o resultado do jogo: vitória do Grêmio por 2 a 1. Também pudera, o tricolor estava com um time que tinha craques como Jonas (autor de dois gols no jogo), Tcheco, Souza, Réver e Victor (o técnico era Celso Roth). Chegou até a semifinal da Libertadores naquele ano.
Minha terceira e última participação como mestre de cerimônia naquele Gauchão foi em mais um jogo do Grêmio na cidade. Dessa vez, contra o Galo, que estava fazendo uma campanha bem melhor do que a do Avenida. O confronto entre os dois times aconteceu no Estádio dos Plátanos, no dia 8 de março. Mais uma vez, houve um incrível trabalho de marketing antes da partida. E eu já estava bem mais preparado, confiante e descolado.
Foi a minha melhor apresentação como mestre de cerimônia naquele Gauchão. Eu chegava a puxar o grito da torcida do Galo e do Grêmio, que fizeram uma bonita festa naquela tarde. E quem se deu melhor na partida foi o time da casa: o Santa Cruz venceu o Grêmio por 3 a 2.
O Avenida acabou eliminado na primeira fase do Gauchão e por pouco não foi rebaixado. Já o Galo conseguiu a façanha de terminar a fase de grupos na liderança do grupo, mas não resistiu ao mata-mata e acabou sendo eliminado pelo Juventude. O Gauchão de 2009 chegou ao fim no dia 19 de abril, quando o Inter venceu o Caxias por 8 a 1 no Beira Rio e se sagrou campeão pela 39ª vez.
Para mim, o que ficou de mais marcante, naquele Gauchão, foi o início da minha atuação como mestre de cerimônia em grandes eventos. No ano seguinte, cheguei a apresentar dois jogos de basquete da Seleção Brasileira, em amistosos contra o Uruguai disputados em Santa Cruz do Sul (no Arnão) e em Porto Alegre (no Tesourinha). Foi outro grande evento esportivo de projeção nacional organizado pela Asscom! Também cheguei a apresentar o campeonato brasileiro sub-21 de vôlei de praia, disputado em novembro de 2009, em Santa Cruz. De lá pra cá, foram incontáveis atuações como mestre de cerimônia em eventos da Unisc e fora. Eventos de altíssimo nível como a Exponential Conference (São Paulo) em 2018 e 2019, BS Festival (Porto Alegre) e tantos outros. E de pensar que tudo começou ali, no Gauchão de 2009.
Foi graças a essa experiência com os clubes de Santa Cruz do Sul que eu acabei dando o pontapé inicial numa nova trajetória da minha carreira como comunicólogo. Apesar de não ter um grande envolvimento com o "futebol raiz" do interior do estado, a minha relação com esse esporte e com o marketing esportivo me proporcionou grandes oportunidades de evolução profissional. Tudo graças a esses dois times que representam Santa Cruz do Sul no disputado cenário do futebol gaúcho. Obrigado por tudo, dupla AveCruz!
Marketing full service. Desenvolvo projetos, planos e campanhas de comunicação, marketing digital, produção cultural e audiovisual.
2 aBons tempos em que o mais importante era a realização, não o rótulo!
Diretor Sesc Santa Cruz do Sul
2 aGrande lembrança Bruno, lembro que foi uma baita campanha onde conseguimos a potencializar os dois clubes. Abraços ao amigo.