MINHAS ANOTAÇÕES: PLOTINO
No século III d.C, o Império Romano encontra-se em declínio. Foi neste ambiente de crise que surgiu o neoplatonismo tendo como o seu principal formulador o filósofo Plotino. Este sistema se desenvolveu em Alexandria depois do platonismo judaico com Fílon e do cristão com Clemente e Orígenes e fez sua a carcteristica fundamental de ambos, ou seja, a realização de uma síntese do pensamento filosófico com o religioso, mas foi um encontro da filosofia com as religiões pagãs orientais. Plotino é considerado um dos principais pensadores da língua grega do mundo antigo. A intenção do neoplatonismo era fornecer às classes cultas e aos espíritos elevados uma visão da vida que pudesse competir com a visão do judaísmo e do cristianismo, seja como expressão doutrinal, seja como impulso do espírito em direção aos mais elevados cumes da moral e da mística. O neoplatonismo supera definitivamente a antiga religião mitológica. Para Plotino, as divindades do mundo grego são expressões poéticas de atributos divinos e criações fantasiosas do sentimento popular. Deus é único em si mesmo, totalmente distinto do mundo, e a sua natureza não pode ser expressa por ideias e conceitos humanos. A sua perfeição e transcendência são tais que tornam impossível qualquer contato direto entre Deus e as criaturas. As criaturas procedem de Deus sem que ele o saiba.
Plotino nasceu no ano 205 d.C. em Licópolis Deltaica, no Egito e morreu aos 65 anos de idade no ano 270 d.C em Campânia na Itália, estudou em Alexandria. Morou também em Roma onde fundou uma escola. Seus escritos foram organizado por um de seus discípulos chamado Porfírio, que os dividiu em seis grupos de nove livros cada um. A obra toda recebeu o nome de Enéadas. O neoplatonismo de Plotino é sem dúvida uma retomada do pensamento de Platão, mas de um modo original. Plotino evita o dualismo platônico. Assim Plotino retoma a filosofia clássica e busca um único princípio para tudo o que existe. Para ele este princípio é o Uno: Deus, de quem tudo decorre. Tal decorrência se faz por uma maneira que Plotino denomina PROCESSÃO, algo como irradiação da luz, que se propaga sem contudo esgotar a sua fonte única, imutável e imóvel. Na processão, no entanto, as emanações do Uno não seguem indefinidamente. Há, segundo Plotino, momentos em que elas se fixam, como que olhando para trás, "lembrando" do Uno de onde saíram. Essa "parada" é a conversão, e nesse momento se forma o que Plotino denomina de HIPÓSTASE. Para Plotino a primeira hipóstase é o próprio Uno. A segunda, que se fixa pela conversão em direção ao Uno, é o Nous(inteligência). A terceira e última hipóstase é a Alma(Psique), o princípio que anima a vida e que, por isso, constitui as coisas sensíveis, nelas encarnando na condição de sua essência. Por fim, no término da processão encontra-se a matéria. Essa não é uma hipóstase, pois não é fruto de conversão. A matéria é antes o esgotamento da processão, como a luz que vai se extinguindo até apagar-se completamente. Segundo Plotino, o homem reproduz nele mesmo a processão e a conversão: ele pode decair em direção à matéria, ou, se elevar em direção ao Uno, fazendo com que sua alma contemple o que o próprio homem tem de Inteligência, deste modo ele pode se aproximar do divino Uno. Para Plotino, o dever moral do homem, que, na medida em que se realiza pela contemplação, coincide com a própria filosofia. Portanto, Plotino, representa uma retomada da filosofia num momento em que ela parecia estar em baixa. Ele faz isto recuperando o que havia de mais significativo na tradição filosófica, mas num pensamento inovador como se formulasse um resumo dessa tradição filosófica e a ultrapasse para além dos limites a que ela havia chegado. Na verdade, o neoplatonismo tenta fazer uma síntese do pensamento religioso com o pensamento filosófico. A síntese que Plotino tenta realizar é entre a filosofia e as religiões pagãs orientais. Ele leva às últimas consequências o ideal grego de buscar um e único princípio de tudo o que existe, cujo o nome só poderia ser UNO. Perfeito, o Uno é imóvel, pois, segundo Plotino, "os seres felizes são imóveis em si mesmos; basta-lhes ser o que são". Mas, por outro lado, o Uno não pode deixar de ser fonte de todas as coisas, porque "desde que um ser chega a seu ponto de perfeição, ele engendra; ele não suporta permanecer em si mesmo, mas produz um outro ser". Na verdade o que Plotino faz é elaborar ao falar do Uno, este Uno é um mistério, é indizível, o que ele faz é elaborar a noção desse indizível de acordo com os procedimentos da tradição filosófica ocidental, isto é, por meio do Logos. Mas mesmo sendo indizível pode-se filosoficamente dizer algo, deve-se dizer algo, nem que for por aproximações e por negações. Por aproximação chega-se a noção do Uno, pois a unidade esta´em todo lugar.
O empenho maior de Plotino é dirigido para o absoluto, para as nossas relações com ele e com as coisas. Para Plotino a existência do absoluto pode ser conhecida sem necessidade de demonstrações. O obsoluto pode ser visto por nós em todas as coisas que provém dele, de todo o universo, que dele procede e por ele existe. As dificuldades que surgem em torno da sua existência vem de imagens falsas que procuramos representar a sua realidade. O absoluto transcende qualquer determinação de lugar como também qualquer existência determinada, dele pode-se dizer somente que é, Plotino chama o absoluto de o UNO.
Podemos dizer que as bases do pensamento filosófico-religioso de Plotino a respeito do absoluto são: conceitos de simplicidade e transcendência. Tais conceitos exigem que se exclua do UNO qualquer qualidade positiva. Por este motivo, Plotino é considerado o fundador da teologia negativa.
Ao UNO não se pode atribuir nenhuma qualidade positiva porque isso importaria em reconhecer-lhe composição e, consequentemente, em rebaixa-lo ao nível de criaturas. Por isso, a ele não se pode atribuir nada: nem a vida, nem o ser, nem a virtude, nem o pensamento. O UNO está acima de todas as coisas. Nós não o conhecemos inteiramente, apenas em parte, isso nos permite falar dele sem, contudo, exprimirmos propriamente a ele mesmo. O UNO é a qualidade suprema do qual se originam todas as outras coisas. As coisas procedem do UNO de modo tal que deixam intacta a sua unidade. Isso através do processo de emanação, isto é, as coisas procedem dele sem que ele saiba, sem subtraírem nada de sua perfeição. O UNO é a potência de todas as coisas, se ele não existissem nada existiria. As coisas procedem por emanação e não por criação, mas elas não provém todas de uma vez, mas em certa ordem. Vem primeiro as matérias perfeitas e em seguida as menos perfeitas. No topo vem o UNO, depois a inteligência(Nous), em seguida a vida, logo depois vem a Alma Universal, depois a alma de cada homem e por fim a matéria.
A missão própria da alma é restabelecer a unidade original das coisas, reconduzindo-as todas ao UNO. Mas esse retorno da alma ao UNO é fruto da liberdade. O ritmo da vida situa-se entre as necessidades biológicas e liberdade espiritual, entre instinto e vontade. As etapas do retorno da alma ao UNO são três: acesse: liberta-se do domínio do corpo e dos sentidos; contemplação: conhecimento do UNO mediante a filosofia; êxtase: união mistica, com o UNO. Pela êxtase a alma supera o conhecimento filosófico, une-se ao UNO e confunde-se com ele. Já não há dois, mas um. Esta é a síntese filosófica e religiosa de Plotino. O fim do homem é Deus.
É a filosofia sempre de volta.