Minhas reflexões sobre o Assédio Moral no ambiente de trabalho
Muito me assombra em pleno século XXI ainda termos casos de assédio moral no trabalho (e como temos!). A impressão é que muitas empresas não avançaram nos modelos de gestão que prezam pela inteligência e pela evolução dos colaboradores.
É uma violência que na maioria das vezes se passa silenciosa na empresa. Quem agrediu se coloca como superior, quem sofreu a agressão se sente incompetente, aniquilado(a), e muitas vezes nem se dá conta de que foi vítima de abuso moral. Por medo, insegurança, por achar que está errado(a), quem sofreu a agressão se silencia e se desestimula, perde a autoestima, gradativamente se desestabiliza e fica mais frágil.
O assédio moral se configura por colocar o trabalhador ou trabalhadora em situações constrangedoras, de dúvidas sobre suas funções, em situações sem ética, sem coerência, predominando uma relação instável, sem confiança, onde a vítima se questiona sobre seu valor, se sente culpada. Quem agride psicologicamente tem a necessidade de diminuir alguém e assim reforçar seu poder. São pessoas perversas, que sabem muito bem como manipular os outros e, para olhos de alguns, são pessoas de sucesso, pois é isso que aparentam.
E para quem pensa que assédio moral são somente casos de humilhação que ferem a dignidade da pessoa publicamente, exemplifico alguns casos que podem ser considerados assédio, aqueles mais silenciosos, que nem todos percebem, mas que podem destruir a pessoa, fazendo com que ela se sinta incompetente:
- Privá-lo de informações úteis para o seu trabalho;
- Retirar o trabalho que normalmente lhe compete;
- Atribuir-lhe sistematicamente tarefas inferiores ou superiores ou não coerentes às suas competências;
- Pressioná-lo para que seus direitos não se façam valer como prêmios e férias;
- Colocar em jogo seu salário e seu emprego;
- Agir de modo que não obtenha promoção;
- Dar-lhe instruções impossíveis de se executar;
- Criticar a vida privada;
- Sobrecarregar de trabalho ou impedir a sua continuidade;
- Afirmar que tudo está errado.
Esses e outros casos estão descritos no livro Antimanual de Gestão, de Valquíria Padilha. Vale a pena ler para entender pouco mais sobre o assunto e investigar se isso acontece com alguém da sua empresa.
E caso perceba que alguém está sendo vítima, mais importante do que entender o que é assédio, é agir contra ele. Entender que é preciso expor, para que ele deixe de acontecer. Muito embora aconteça mais frequentemente nas relações de hierarquia no sentido chefe - subordinado, o sujeito perverso só poderá continuar agindo contra outras pessoas se a organização assim o permitir. Essa é a grande questão quando se expõe. Não se trata de incriminar ou culpar, mas de tirar a ignorância e a neutralidade da organização quanto aos acontecimentos para dar a chance aos outros de um trabalho emocionalmente mais saudável.
De acordo com Hirigoyen (2013, p.11), ainda no livro acima citado, "Por meio de palavras, aparentemente inofensivas, alusões, sugestões ou não ditos, é efetivamente possível desequilibrar uma pessoa, ou até destruí-la, sem que os que a rodeiam intervenham. O agressor - ou agressores - pode assim enaltercer-se rebaixando os demais, e ainda livrar-se de qualquer conflito interior ou e qualquer sentimento, fazendo recair sobre o outro a responsabilidade do que se sucede de errado... Trata-se de perversidade no sentido de perversão moral".
O site www.assediomoral.org, afirma que o assédio moral é tão grave, que pode levar à depressão, desencadeamento ou agravamento de doenças pré-existentes e até a morte. Com isto, e sabendo que o assédio no trabalho existe desde que o trabalho existe, enfatizo a importância de uma cultura voltada para as pessoas, onde a gestão preza pela escuta e pela observação. Essa violência é difícil de ser detectada, é invisível, é psicológica, não é um ferimento que se vê, e por isso passa muitas vezes de forma silenciosa pela organização. Devemos observar o comportamento das pessoas, a proatividade, o desempenho, a alegria e o interesse na empresa e no trabalho. Se algo mudou, pode ser sinal de que esta pessoa esteja sofrendo assédio moral.
Importante saber também que os seres humanos podem ter reações diferentes. Um estudo feito por Barreto (2006), entrevistando homens e mulheres, revelou que mulheres costumam chorar, homens não. Ambos têm dores generalizadas. Homens têm mais desejo de vingança e são mais propícios à vícios. Mulheres sentem mais tontura e dores de cabeça. Homens sofrem mais com pressão alta. Não é uma regra, mas são pontos de atenção para os gestores.
Torço pelo dia que os colegas de trabalho cuidarão uns dos outros, defenderão uns aos outros, tornando toda e qualquer gestão negligente visível para os olhos da organização. Torço para que as empresas entendam que a gestão improvisada, com falta de clareza nas funções e acúmulo de tarefas, torna o ambiente propício para assediadores. Torço para que as empresas sejam capazes de estabelecer dispositivos de gestão de pessoas que sejam capazes de regular certas posições de comando, como por exemplo, gestores que reinam sozinhos em sua posição sem nenhum tipo de auditoria de seus comportamentos, que acabam manipulando e machucando seus colaboradores. Torço para que tenhamos consciência de que o trabalho seguro, em um ambiente de confiança, é aquele que permite uma vida saudável. E, por fim, torço para que as empresas construam uma cultura tão boa a ponto de não permitirem a perversão moral e sim, que a ética e o desenvolvimento das pessoas e seus relacionamentos sejam o ponto forte da organização.
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4 aExcelente artigo Tatiana. As empresas precisam criar mecanismos para facilitar denúncias de assédio moral, como setor de compliance, por exemplo, mas mais que isso, que as denúncias gerem resultados e não sejam apenas um mero canal de arquivamento de informação.
Business Administrator | Payables Analyst
4 aQue texto Tatiana Takimoto! Isso acontece o tempo todo e em qualquer país. Ótimo conteúdo 😘🙏
Engenheiro de Telecom em busca de recolocação
4 aTriste ainda vivenciarmos este tipo de situação. Empresas são feitas de pessoas e é a soma delas e a contribuição de cada uma que faz o resultado total. Nada mais justo que tornar o ambiente agradável e acolhedor para as pessoas que durante quase um terço do dia passam juntas. E este tipo de comportamento não deve ser utilizado e nem tolerado pela alta gerência. E esta deve ser uma bandeira de todos.
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4 aEssas situações são mais normais do que deveriam, infelizmente! A frase clichê "seja a mudança que você quer ver no mundo" é exatamente isso, Tati, continue colocando seu propósito em prática que você vai conseguir fazer muito! Tamo juntas! 👊🏼❤
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4 aMuito legal! A evolução de cada um de nós, como ser humano, gestor, pai/mãe, amigo, colega, e por ai vai, deve ser uma "constante sem fim", pois sempre temos o que aprender com as pessoas ao nosso redor, especialmente quando necessitamos e devemos manter a saúde mental em sua plenitude para que tudo ao nosso redor conspire positivamente, especialmente nos dias de hoje, com tantos desafios... Adorei a abordagem Tatiana Takimoto, e tenho os mesmos desejos que você! Vamos levantar esta bandeira! O legal é saber que muitas empresas têm essa visão e preocupação! Em frente! Parabéns!