A Mitologia da Inovação

A Mitologia da Inovação

O advento da Nova Economia e os resultados extraordinários obtidos pelos gigantes da Internet (Facebook, Amazon, Apple, Netflix, Google...) nesses últimos anos, colocaram em foco questões como a necessidade da transformação digital das empresas, de se tornarem inovadoras e ágeis, para não sucumbir à concorrência - ou à disrupção. Clientes, fornecedores e os próprios funcionários, por sua vez, têm demandado cada vez mais, maior facilidade, personalização, simplicidade e velocidade na interação com produtos e serviços oferecidos. Nessa “corrida do ouro” que se transformou a busca de inovação, muitas empresas criaram expectativas irrealistas, ações inadequadas e investimentos a fundo perdido, afastando-se da possibilidade de sucesso, da essência do que realmente é inovação. Considerando isso, o artigo buscou “na fonte", ou seja, com um dos principais expoentes da Administração, Peter Drucker (1), o que é mito e realidade em relação à inovação - conceito tão difundido e pouco compreendido. 

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Mito #1 A inovação é “nova”. Johan Schumpeter, consagrado economista austríaco, escreveu em seu livro "Die Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung (The Theory of Economic Dynamics), que a dinâmica normal da economia não ocorre pela “otimização da alocação dos recursos econômicos” ou pelo atingimento de um “equilíbrio” entre os agentes, mas pelas constantes e radicais mudanças ocasionadas pelas inovações, trazidas pelos empreendedores. Schumpeter foi o criador do termo "destruição criativa". Um pequeno detalhe: esse livro foi escrito em 1911…

A Teoria da Administração, e mais especificamente as disciplinas ligadas ao empreendedorismo e à inovação, ganharam corpo formal através de Peter Drucker. A partir de 1950, sob sua coordenação, um pequeno grupo de executivos começou a se encontrar e discutir sobre esses temas na Graduate Business School de Nova York. Esse grupo era formado por empreendedores, executivos de grandes empresas (IBM e GE), e setor público (incluindo a arquidiocese de Nova York). A partir dessas discussões e conclusões, Drucker começou a estruturar o que sabemos hoje de gestão, empreendedorismo e inovação. Definitivamente, a inovação não é nada “nova”. Todas as estratégias e técnicas, todos os “design thinkings” e “dilemas dos inovadores” (4) são basicamente evoluções desse corpo de conhecimento.

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Mito #2 -   As maiores inovações são as tecnológicas. O container, uma inovação nada “high-tech”, criada por volta de 1950, gerou um volume de comércio marítimo internacional 4 vezes maior. Cyrus McCormick, inventor de equipamentos agrícolas, criou a compra parcelada, para facilitar a vida dos fazendeiros e aumentar seu poder aquisitivo. Isso possibilitou que milhares de fazendeiros pudessem pagar pelas máquinas com o resultado de suas colheitas, não com suas poupanças. Esses são apenas alguns exemplos de como a inovação não precisa ser "high-tech" ou “grandiosa” para ter um impacto na economia. Por impacto na economia quero dizer a capacidade de gerar emprego. Baseado nessa definição, estudos mostram que, nos EUA, a partir de 1965, 40 milhões de empregos foram gerados. Os principais responsáveis? As empresas de "low-tech" ou "no-tech", em geral médias e pequenas. Apenas 5 ou 6 milhões destes foram gerados pelas empresas de "high-tech" (2).

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Mito #3 - Inovação é “inspiração”. Até o final do sec. XIX, acreditava-se que as “invenções” eram fruto de "musas inspiradoras", para poucos privilegiados. Os inventores eram personagens excêntricos, que viviam à margem da realidade cotidiana e dos negócios, reclusos em seus laboratórios. Quando da eclosão da 1a. GG, o termo "invenção" passou a ser chamado de "pesquisa", uma atividade sistemática e objetiva, planejada e organizada, com alto grau de previsibilidade de seus resultados. Da mesma forma, veremos adiante que a inovação é um processo meticuloso e sistemático de busca de oportunidades, o qual encerra uma disciplina, princípios e muita “transpiração” - sem nenhuma “inspiração”.

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Mito #4 - O inovador tem um perfil aventureiro. A imagem popular do inovador - criada por Hollywood e pelo Vale do Silício - faz com que parecerem um cruzamento de Super-Homem com cavaleiro da távola redonda. Na verdade, a maioria dos inovadores são figuras nada românticas, mais propensas a gastar horas sobre uma projeção de cashflow do que à caça de riscos. Claro que inovar é arriscado - assim como qualquer outra atividade econômica. Como diz Peter Drucker, “Defender o passado é mais arriscado que criar o futuro”. Isso é tanto mais verdade quanto entramos na Nova Economia, onde o ritmo das mudanças é bem maior. De qualquer forma, e em qualquer tempo, os inovadores serão tão bem sucedidos quanto (a) consigam identificar e confinar os riscos e (b) sistematicamente analisarem as fontes de oportunidade de inovação, identificarem e trabalharem sobre elas. Os inovadores de sucesso são conservadores. Não são atraídos pelo risco, mas focados em oportunidade. Nesse sentido, veremos em artigos posteriores como funciona a “disciplina” da inovação.

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Mito #5 - Startups têm mais chance de inovar com sucesso. Existe, portanto, uma metodologia e princípios que regem o empreendedorismo e a busca de inovação (“Entrepreneurial Management”), princípios esses que se aplicam a pequenas, médias e grandes empresas, assim como ao setor privado e ao público. Grandes corporações inclusive, possuem vantagens: já possuem um mercado, recursos humanos e competências gerenciais (3). Entretanto, empreender não é natural, e portanto as empresas precisam aprender essa disciplina e praticá-la, para ter sucesso. Casos como o da 3M, DuPont, Johnson&Johnson, assim como de tantas outras grandes corporações, atestam o quanto os grandes são excelentes inovadores e criadores de novos produtos, negócios e modelos de negócio.

A principal mensagem aqui é que a inovação não é exclusiva de startups, nem é fruto de |inspiração”. Tampouco necessita ser “high-tech” para gerar resultados expressivos para a empresa ou para a economia. Pelo contrário, a inovação é fruto de muita disciplina, de exploração sistemática de oportunidades e do confinamento inteligente de riscos. 

23 de Abril de 2019 Sergio Hartenberg Cena Digital | www.cenadigital.co | sergio@cenadigital.co |


Notas

  1. Drucker, Peter F.. Innovation and Entrepreneurship. HarperCollins e-books. Edição do Kindle.
  2. Claro que o emprego gerado pelas empresas de high-tech tem crescido relativamente, desde então. No entanto, uma vez que a mão-de-obra high-tech é por demais especializada, essa indústria não é capaz de gerar empregos na mesma proporção que as indústrias “no-tech” ou “low-tech” - pelo contrário, pode estar inclusive reduzindo a quantidade de empregos.
  3. As grandes empresas têm também desvantagens conhecidas, tais como os “silos funcionais”, falta de comunicação e de transparência de informações, assim como cultura cristalizada. No entanto, a literatura é cheia de exemplos de conglomerados que souberam vencer essas barreiras e se tornaram verdadeiras máquinas de empreendedorismo e inovação.
  4. The Innovator's Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail (Inglês), 11 jul 2016, por Clayton M. Christensen.

#transformaçãodigital #digitaltransformation #innovation

Parabéns Sergio. Excelentes artigos. Motivadores.

Maria Aparecida Bondezan

Gerente de negócios na Nfq Advisory, Solutions, Outsourcing

5 a

Execelente artigo!!

Jorge Manhães∴

Security Manager INTERLIRA on behalf of NEXANS

5 a

Excelente artigo, vale ler até o final e reler quantas vezes for necessário.

Muito bom, sempre disse que a inovação é o resultado de muita disciplina e gestão de risco!

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