Modelos de remuneração hospitalar e sustentabilidade dos sistemas de saúde
O Brasil ainda utiliza hegemonicamente o modelo de Pagamento por Serviço (Fee For Service), que induz sobreutilização de procedimentos em saúde, sem a devida avaliação dos resultados. Este fato foi corroborado pelos dados da ANS, os quais apontam que em 2018, na saúde suplementar, apenas 4% dos valores pagos aos prestadores de serviços foram realizados por meio de outros modelos de remuneração alternativos ao Fee For Service– FFS (ANS, TISS/2018).
As formas de remuneração de prestadores de serviços que privilegiem a qualidade e não o volume de procedimentos executados é chamado de Pagamento por Performance. Este parece ser um caminho sem volta, mediante a convicção de que a sustentabilidade do setor saúde perpassa por avanços necessários na eficiência da gestão dos recursos financeiros e no alcance de melhores resultados em saúde. Embora, hoje nós ainda estamos no início desse processo. O valor em saúde prioriza a melhoria da atenção à saúde e, como consequência, a sustentabilidade do sistema.
O valor em saúde é o equilíbrio entre três aspectos da assistência:
I. Experiência assistencial do paciente;
II. Desfechos clínicos de alta qualidade; e
III. Custos adequados em todo o ciclo de cuidado com vistas à sustentabilidade do
sistema de saúde
Uma das coisas que me chamou atenção em relação a implantação do Pagamento por Performance foi o fato de quanto a TI é importante para a sua implantação, pois, a monitoração de indicadores de processos e resultados é fundamental para a devida remuneração dos profissionais.
Como aliado e fortalecedor da modalidade do Pagamento por Performance temos o Triple Aim, que foi desenvolvido nos Estados Unidos como um modelo integrado de otimização e performance dos serviços de saúde. No seu formato figurativo de tripé, cada ponta influencia a outra,
Um exemplo que pode representar a figura do Triple Aim seria uma ponta representando a tendência do aumento na expectativa de vida que vivemos, o que, estatisticamente, resulta em uma maior incidência de doenças crônicas na população, que seria a segunda ponta e por fim, se levarmos em consideração o avanço da tecnologia, saberes e recursos, podemos otimizar tratamentos, melhorando mais o conforto para o paciente, e isso com certeza resulta em um impacto econômico, a terceira ponta da sua figura representativa.
A questão central do Triple Aim está baseada na missão de melhorar a saúde e os sistemas de saúde ao redor do mundo, com foco na experiência do paciente, na saúde populacional e na redução de custos per capita.
Ter um comportamento de liderança com ações de alto impacto é uma forma de alcançar os objetivos do Triple Aim.
Há dois valores que são essenciais para um líder ser relevante: um motivo para iniciar um projeto, um objetivo ao qual está comprometido, contudo, para que tais valores sejam fortes o suficiente para se ter uma liderança efetiva eles precisam nascer dentro do próprio líder.
Não é possível pedir emprestado um motivo nem alugar de outra pessoa um objetivo! eles devem nascer no mais íntimo do líder de modo que, aconteça o que acontecer, seja qual for o sucesso ou o fracasso que possa se encontrar pelo caminho, eles não tenham força de remover esses valores do seu interior.
Um dos princípios mais importantes que permeiam o fenômeno da liderança é o que afirma que não há liderança sem propósito. Toda liderança pressupõe um destino, um alvo, uma finalidade. Cabe aos líderes em saúde examinar cuidadosamente as suas próprias práticas de liderança, e avaliar como podem alinhar esses comportamentos com os seus esforços e estratégias para produzir resultados.
Para estruturar a liderança de alto impacto, os líderes devem concentrar os seus esforços:
- Em uma liderança impulsionada por pessoas e pela comunidade - Devem traduzir a forma como cada indivíduo na organização contribui diariamente para a experiência do paciente.
- Na criação da visão e construção da vontade para a mudança - A falta de clareza aumenta o medo, resulta no desalinhamento de esforços, e suscita barreiras à mudança.
- Na entrega de resultados - Todos os níveis de um serviço de cuidados de saúde devem ter resultados e custos sistematicamente monitorados e revisados.
- No desenvolvimento das capacidades - desenvolver capacidade de melhoria têm vantagem estratégica quando se trata de acelerar e sustentar a melhoria de nível estrutural, além de promover novas ideias e soluções.
No setor saúde o debate será constante, os objetivos para a saúde da população permanente. Cabe a cada um de nós achar um lugar ou o lugar, a sua e a minha posição. Com este reconhecimento e imbuídos do propósito poderemos contribuir e garantir uma assistência segura e eficiente para as pessoas/população.
Até a próxima !!
Caroline Carapiá Ribas Lisboa
Coordenação de Serviços e Sistemas de Saúde| Gerente de Programas de Saúde
4 aExcelente reflexão Carol! O propósito transcende os objetivos. Pode estar implícito na missão das instituições, não se precifica mas se traduz na qualidade e no desempenho do serviço ou produto entregue. Um grande abraço.
Médico Pediatra e Atenção Primaria Consultor ISEED Fundador e Pesquisador MMB Treinamento, Pesquisa & Inovação
4 aExcelente texto, Carol! Vc traz uma visão clara sobre como poderia ser a remuneração por desfechos nos sistemas de saúde, tendo o triple aim como pano de fundo. Mas, o papel da liderança em assumir riscos talvez seja o grande diferencial na implementação de estratégias inovadoras, que no setor saúde, tem sido um obstáculo difícil de ser transposto.
Gestor de Qualidade, Riscos Corporativos e Compliance - Unimed de Santa Bárbara D´Oeste e Americana
4 aMuito bom, Caroline! O que tenho observado no pay for performance (P4P), entretanto, é que, nas aplicações em desenvolvimento, os fatores de avaliação de desempenho têm se aproximado muito mais de aspectos administrativos de aderência a práticas preconizadas pela fonte pagadora do que efetivamente de resultados assistenciais (ou simplesmente desfechos). Assim, pelo que tenho conseguido acompanhar, os métodos P4P têm se aproximado mais de um formato de gestão de corpo clínico "ampliado" do que de um value based healthcare (VBHC) de fato. Talvez pelo fato de a medição dos desfechos ainda estar longe de ter modelos econômicos pacificados.
Gestão em Saúde, Gestão da Qualidade, Ciclos de Melhoria Contínua, Planejamento Estratégico, GreenBelt
4 aExcelente Carol!👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻