Mola no fundo do poço

Mola no fundo do poço

Há pessoas que nascem, vivem e morrem sem ser notadas, enquanto outras tantas parecem ter vindo ao mundo com luz própria, prontas para fazer a diferença, ser exemplos de inquietude, deixar um legado, inspirar. A história dos indivíduos de espírito aguerrido costuma ser de sucessivos desafios, mas sobretudo de muita, muita superação. Sabe por quê? Porque pessoas assim não têm medo de se arriscar, e, oras, com o risco vêm algumas quedas. O que diferencia o corajoso é que há tempos ele descobriu que no fundo do poço há molas. Em outras palavras, compreendeu que os ciclos da vida envolvem altos e baixos, quedas e arrebatamentos, então nada justifica o medo de tentar.

Você que se sente desesperançado, pensando que não há retomada possível após um insucesso, saiba que está completamente enganado. Nada acabou para você, viu? Pelo contrário, se se der uma chance, logo vai descobrir o gigante poderoso que habita sua alma. Conheço alguém cuja trajetória ilustra bem isso. Aceita um pouco de inspiração nesta semana?

Então vamos falar de Higyna Josita e sua notável história de superação. Aos 26 anos de idade, ela tinha o coração partido, os bolsos vazios e uma filha para criar, além da certeza de que chegaria o momento em que a sua persistência seria devidamente recompensada. E foi o que aconteceu quando, ao se tornar juíza de Direito, algo que ela almejava desde muito jovem, a vida dessa paraibana arretada mudou completamente. Embora a condição de juíza não significasse, é claro, a solução de todos os seus problemas, sair do fundo do poço para chegar, como ela diz, “à cidade chamada vitória” foi um divisor de águas, uma experiência, segundo a própria, inenarrável.

Consigo imaginar a alegria que ela experimentou ao perceber que o seu sonho tinha se realizado. Conquistar algo muito desejado faz mesmo o corpo ser invadido por uma energia indescritível. É um misto de assombro, satisfação, orgulho e sensação de dever cumprido. Seres humanos sonham com realizações sublimes, embora, por outro lado, às vezes custem a despertar do sono profundo que os impede de enxergar as placas indicativas do caminho a ser seguido. Felizmente, é sempre tempo de fazer uma correção de rumos. Para tanto, é imprescindível um plano flexível, isto é, que possa sofrer algumas alterações de última hora sem grande prejuízo.

Antes, ainda, precisamos estar aptos a reconhecer nossa zona de conforto. Isso dá trabalho. Muito trabalho. A imparável Higyna sabia disso e até criou um mantra todo seu, ao qual recorria sempre que o desânimo e a vontade de desistir vinham à tona: “Bora vencer, menina!“. Essa voz que lhe renovava o vigor era a mesma que murmurava ao pé do ouvido: “Sempre existe uma oportunidade de vencer”. A vitória chegaria, ela não tinha dúvida, mas para isso só havia um caminho: continuar correndo atrás do seu sonho, persistindo em fazer tudo o que era possível para realizá-lo.

Aqui cabe uma observação. O maior desafio, até mesmo para os indivíduos mais focados, são os tumultos emocionais que surgem ao longo da vida. As emoções que acompanham situações como a de uma jovem que se vê sozinha com um filho para criar invadem os pensamentos sem pedir licença. E como incomodam! Quem não é suficientemente resiliente pensa mesmo em desistir.

Não foi o caso de Higyna. O sonho de ser juíza era mais forte nela do que qualquer pensamento inoportuno. Ela era imparável. Se as pessoas em geral se concentram no curto prazo e tendem a desanimar quando falta dinheiro e sobra medo, as imparáveis só cogitam tal possibilidade quando estão num beco sem saída. Só então desistir lhes passa pela cabeça. Ainda assim, o sonho maior permanece firme no horizonte.

Quando se tem propósito, é mais fácil não se perder. Problemas? Existem, é claro, mas não devem perdurar indefinidamente. Em vez disso, devem ser resolvidos de pronto. Nada de entrar em negação! Palpiteiros de plantão, pessimistas? Também atravessarão nossa estrada. Almas fracas como essas, inaptas quando se trata de concretizar os próprios sonhos, tentarão nos convencer de que nós também somos assim.

Para nossa sorte, da mesma forma que gente ruim aparece para minar nossa energia, pessoas iluminadas também surgem lá e cá em nossa trajetória. Nossos pais são os primeiros, sempre prontos para dar bons conselhos ou, se for o caso, um ou outro merecido puxão de orelha. A mãe da nossa imparável fazia isso muito bem. “Minha filha, case primeiro com seu contracheque”, recomendava, cheia de sabedoria. Conselho útil que, para dizer o mínimo, incutiu em Josita amor-próprio e racionalidade que podem ter feito toda a diferença em seu futuro.

Na marcha para realizar sonhos grandiosos, é preciso ser pragmático e racional. Gente imparável como Higyna consegue o que quer por possuir habilidades únicas? Não deixa de ser. Elas e eles são capazes, por exemplo, de abandonar hábitos ruins e substituí-los rapidamente por outros que favorecem o cumprimento de metas e objetivos. Ter um desempenho melhor que a média costuma ser um bom parâmetro. Seguir um plano como esse impõe, obviamente, sacrifícios, mas o resultado é uma força inacreditável, capaz, inclusive, de ajudar na superação das dores físicas e espirituais.

Lembre-se: a vida nunca nos sujeita a um desafio para o qual não estejamos preparados. É trazer para a superfície a força que reside em cada um de nós. É despertar nosso gigante adormecido. É nos deixar ser catapultados para a autorrealização, ainda que pelas molas do fundo do poço. Ao fim e ao cabo, as melhores decisões são tomadas a partir dos erros e dos fracassos. Em síntese, é a experiência que engrossa a pele e caleja a alma.

“O maior prazer da vida é fazer o que as pessoas dizem que você não pode fazer.” – Walter Bagehot (1826-1877), jornalista e empresário britânico.

VITÓRIA COUTINHO

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