Moldados pela cultura

Moldados pela cultura

Hoje estou particularmente animado, pois começo esta semana mais uma atividade desafiadora: ser professor da Gran Faculdade. Embora eu trabalhe na área da educação há 18 anos, 12 deles como empreendedor, nunca ministrei aulas no sentido formal, em cursos com início, meio e fim. Isso está prestes a mudar, então tratei de me preparar muito bem para a nova missão, começando por extensas pesquisas sobre Cultura Organizacional, tema das minhas aulas da Graduação em Administração e dos novos cursos de MBA que em breve lançaremos. Em meio às leituras, não demorou nada para eu perceber que abordar o assunto de maneira ampla seria pertinente também neste espaço, sobretudo para os meus seguidores que também são concurseiros, cujos desafios podem ser enormes a depender do contexto cultural em que estão inseridos. 

Em geral, as pessoas não se dão conta do papel crítico da cultura na vida de qualquer um. Entendida como conjunto de valores, crenças, comportamentos, tradições, símbolos e práticas que caracterizam um grupo social, a cultura é tão poderosa que legitima, por exemplo, a existência de múltiplas línguas mesmo em países diminutos como a Suíça. Na Nigéria, outro país relativamente pequeno, pode haver maioria muçulmana ou cristã conforme a região. Já em nosso Brasil, de dimensões continentais, é fácil notar como os costumes ao mesmo tempo unem e separam nordestinos e sulistas; amazonenses e gaúchos; paulistas e cariocas. Costumo dizer que há vários Brasis dentro deste Brasilzão. Quem discorda?

O fato é que, sem compreender como somos profundamente influenciados pela cultura a nossa volta, fica bem mais difícil ter sucesso em qualquer projeto. As escolhas que fazemos, quer no campo profissional, quer na esfera pessoal, são guiadas pelos valores culturais que internalizamos. Isso ficou claro para mim quando morei nos EUA. Residindo em Nova Iorque, capital financeira do mundo, e estudando em uma instituição focada em finanças, logo identifiquei nos colegas uma subcultura orientada para o mercado financeiro. Aliás, quase segui essa carreira, mais para acompanhar o grupo que por entusiasmo pessoal. Veja o impacto que o meio no qual eu me encontrava teve em mim.

Sabia que nem o nosso modelo mental, que acreditamos ser autêntico, escapa a esse tipo de influência? A renomada psicóloga Carol Dweck, especialista no tema, revela que a mentalidade voltada ao crescimento individual, por exemplo, é mais presente em ambientes que valorizam esforço e perseverança. A pesquisadora coletou inúmeros dados indicativos de como indivíduos com esse modelo mental também são mais resilientes e propensos a alcançar sucesso acadêmico e profissional. Significativo, não?

Infelizmente, porém, a cultura à qual estamos integrados nem sempre é benéfica assim. Eventualmente, ela pode ser bastante opressiva, como no caso dos concurseiros, que enfrentam o desafio diário de persistir nos estudos apesar da falta de estímulo positivo e de apoio. Esse grupo é dos maiores alvos das crenças limitantes características da nossa cultura, tanto que já perdi a conta dos entrevistados no canal Imparável que me relataram sofrer com comentários como “pobre não passa em concurso” ou “lugar de mulher não é na polícia”. 

Essa influência nociva do meio pode e deve ser repelida. Para tanto, o concurseiro precisa primeiro fazer uma avaliação sincera do ambiente e das pessoas a sua volta e, não menos importante, dos próprios hábitos e personalidade. Depois, ele deve considerar alguns ajustes. Talvez o problema seja simples de resolver, bastando, por exemplo, encontrar um espaço mais favorável ao estudo, um lugar onde ele tenha menos contato com as pessoas e situações que lhe causem desconforto.

Mas talvez se trate de algo mais profundo. Não raro, o concurseiro constata que seu maior obstáculo são as próprias crenças autolimitantes. É o caso de quem, no fundo, se acha velho, novo ou “burro” demais para estudar para concurso. Influenciado por valores culturais que estão na base dessa mentalidade, ele acaba se sabotando a cada oportunidade de demonstrar que está errado em pensar assim.

Nessa hipótese, a solução passa por desenvolver uma identidade mais forte e autoconfiante. Para tanto, cercar-se de gente apta a impulsioná-lo é essencial, ao garantir suporte emocional e prático. Pode ser uma boa ideia formar grupos de apoio com outros concurseiros. Acredite, a simples experiência de conversar com gente capaz de compreender como você se sente é libertadora.

Pois bem, querido leitor. Este quase-professor de Cultura Organizacional afirma com toda a segurança: o meio cultural que nos circunda molda tanto o nosso modelo mental como as nossas ações mais corriqueiras. E aconselha: jamais subestime o poder que a cultura tem sobre você. Em vez disso, trate de usá-la a seu favor quando for benéfica e de promover ajustes quando não for. Crie uma subcultura de crescimento ao lado de pessoas dispostas a trabalhar por isso e impressione-se com o impacto positivo dessa decisão em sua vida.

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