Existe um antigo ditado que diz 02 orelhas para uma boca, se valendo da importância de escutar mais do que falar. Isto me traz a reavaliação dos sentidos para observação, porque quando deixamos de nos preocupar com a fala e prestamos atenção ao cheiros, aos sons, aos toques e ao paladar, tendemos a nos reconectar com o presente, aguçar nossa percepção sobre o que acontece ao nosso redor e resignificar nossa fala. Quero trazer alguns exemplos para não parecer muito filosófica:
- É muito comum ouvir atualmente: "Faltam profissionais qualificados", contudo temos uma outra fala: "Neste século ser curioso e constantemente querer aprender é fundamental para se manter atualizado, ter empregabilidade e conseguir novas oportunidades". Não parecem dois grupos que não se encontram, falando? Se a curiosidade é o motor propulsor do aprendizado, se vivemos em constante mudança, não é natural que a qualificação aconteça durante o processo do trabalho, portanto, fazendo? E para isto acontecer a contento para os dois lados, a empresa precisa estar disposta a investir algum tempo no profissional que contrata para qualquer função, e o profissional precisa aprender continuamente, se resignificar e ter bons fundamentos de português e matemática para receber este investimento da empresa? Onde esta a ponte para estes dois grupos se encontrarem? Em minha observação recente, em diversos segmentos e modelos empresariais, a ponte será construída a partir do momento que pararmos de falar e observarmos em cada contexto onde estão os gaps que precisam ser corrigidos para agir de forma cirúrgica, parando de falar , arregaçando as mangas e fazendo.
- Também tem sido muito comum falar do etarismo, o que chega a ser espantoso porque envelhecemos a partir do dia que nascemos e se não morrermos cedo em nossa jornada da vida, poderemos envelhecer e celebrar cada dia no planeta, aprendendo, viajando, trabalhando, consumindo e colaborando com a troca de experiências. Por outro lado temos empresas que acreditam que pessoas 50+ ou 60+ e assim por diante, não são mais produtivas, ou são caras, ou não aprendem mais, e por um estudo recente de conflito geracional publicado pela
Maturi
em parceria com outras empresas, identificamos que se alinharmos a comunicação e o respeito entre as diversas gerações dentro da empresa, ganharemos um potencial de oportunidades e soluções incríveis para os negócios. Inclusive percebeu-se neste estudo que cada geração comenta sobre o melhor da sua época de forma similar, porém olhando para o telescópio da sua jornada. Portanto como diria o Rabino Jonathan Sachs "A Humanidade é formada tanto pelo que temos em comum, quanto pelo que nos diferencia. Nossas diferenças nos conferem uma identidade. Nossos traços comuns nos lembram de nossa Humanidade. Somos Singulares, mas Iguais ao mesmo tempo". Sendo assim se respeitarmos as nossas identidades, deixarmos de viver de rótulos e passarmos a trabalhar inclusão genuína, poderemos mudar o patamar da nossa sociedade. Observando empresas que já são age friendly como as farmacêuticas Sanofi e Takeda, é fácil notar o orgulho de pertencer das pessoas que lá trabalham e como a marca se transforma porque não basta contratar pessoas 50+, é necessário revisitar politicas, processos e eventualmente até o espaço físico da empresa. Trata-se de uma jornada de resignificação do negócio.
- Por ultimo e para refletirmos se estamos nos observando e observando o que acontece ao nosso redor para tomar as melhores decisões e atitudes, quero trazer a fala constante das práticas de responsabilidade social das empresas para conquistar capital mais barato, para construir um legado com menos desigualdade para as próximas gerações, e/ou, para ter um planeta mais humano e menos violento. Se realmente queremos este movimento porque ainda entendemos que a parceria entre o setor publico, o setor privado , o terceiro setor e a sociedade civil se trata apenas de doação de dinheiro? Temos entidades do 3o setor trabalhando educação de crianças e jovens com resultados excelentes como a
Aldeias Infantis SOS
, a
Associação Passos Mágicos
, a
Rede Mondó
, entre outras instituições. Inclusive estas entidades , em alguns processos trabalham as famílias para se reconectarem com a sociedade e se empregarem trazendo dignidade para os seus lares. Temos o
Instituto Reciclar
que além dos jovens passaram a contribuir para formação de professores das escolas públicas. Então se o 3o setor tem trazido extremo valor para transformar a sociedade, porque ainda é tão difícil para empresas, sociedade civil e entidades públicas contribuírem com investimentos e modelos de parceria que tragam benefícios de responsabilidade social para o país e construa uma relação de ganha-ganha para todos?É muito importante observarmos o que está acontecendo em nossa sociedade e como temos reagido ao que conseguimos sentir e perceber. Somente a fala não nos levará a transformação, porém a escuta ativa e a ação conjunta podem nos ajudar a transpor barreiras importantes cuja fala considera impossível mudar. Faça sua reflexão e veja se está fazendo tudo que está ao seu alcance para conquistarmos a sociedade que tanto almejamos!