A morte de Bill Gates
Falo muito sobre atitudes que podemos tomar para ganhar mais, investir melhor e empreender.
Porém, a grande verdade é que você pode ganhar muito dinheiro, pode ter dinheiro para comprar o que você quiser, mas nunca poderá comprar alguém para morrer em seu lugar.
Mesmo o Bill Gates, com toda a sua fortuna e poder, não poderá driblar a morte. Precisamos entender que as coisas acabam.
Eventualmente, ao abordar o tema "seguros" em cursos ou atendimentos individuais, percebo que isto é delicado e difícil de se discutir em nossa sociedade.
Em nossa cultura não se fala de fim. Mas ele chega.
Antes de começarmos, use alguns segundos para refletir sobre esta frase:
sua vida vai acabar.
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Nossa dificuldade de lidar com o fim, por vezes, nasce da nossa dificuldade de não conseguirmos estar presentes no momento que a gente faz a diferença.
O artigo de hoje é inspirado em uma fala da médica Ana Cláudia Quintana, que cuida de pacientes em estado terminal. Indiscutivelmente, uma jornada profissional que a faz ter um olhar diferente do comum sobre o final da vida.
Segundo ela, seu fim irá chegar, e por isso você deveria concordar que é importante encontrar qual o sentido daquilo que você faz, para você e para as pessoas envolvidas.
Cuidado para não "incorporar Buda" aqui. Ter sentido não significa lutar pela paz mundial. Uma empresa, por exemplo, pode buscar proporcionar refeições rápidas (McDonalds). Sentido e nobreza não são necessariamente irmãos gêmeos.
Ainda de acordo com a Dra, para que, ao final das nossas vidas, exista a sensação de que "valeu a pena", se faz necessário estar presente nos tempos que você esteve no passado.
Como assim? Não falte na sua vida. Se você estiver ausente com frequência, você sempre irá temer o fim da vida, mesmo quando não houver uma doença grave por perto.
Por quê? Porque você "nunca" viveu.
Mas, se você tiver a consciência de que tudo no mundo vai acabar, você vai fazer tudo muito bem feito. Você fará as coisas com maior carinho. Além disso, você irá exercer sua autenticidade com maior paixão.
Último Samba do Ano, Ano XII Sábado de sol em Recife
Há mais de dez anos, dos meus 17 aos 19 anos, eu fiz parte de uma banda de pagode chamada Big Big Tylenol (não me pergunte o porquê do nome, rsrs). A banda acabou (como sugere este artigo, as coisas acabam), mas a amizade com um grupo especial de amigos permaneceu.
Com o tempo, reunir os amigos para fazer as nossas rodas de samba foi se tornando uma missão cada vez mais complicada. Chegamos ao ponto onde só conseguíamos reunir todos os amigos uma única vez por ano.
O encontro foi se tornando tão especial, que começamos a repetir a dose despretensiosamente, e assim, surgiu a tradição do "último samba do ano", feito sempre nos últimos dias de Dezembro.
No último Sábado de 2019, a roda do último samba do ano reuniu aproximadamente 400 pessoas. Foi memorável.
Algo me chamou muito a atenção.
Este foi um ano muito intenso, com muita dedicação para o trabalho e, por consequência, muitos momentos de stress, de lidar com situações de alta pressão. Enfim, dizem que crescer doí – sentimos na pele.
Este encontro no final do ano representaria pra mim um momento de desligamento, mesmo que por algumas horas.
Eis que ao final do samba, que durou cinco horas, percebi que uma coisa interessante havia acontecido – eu estava tão inteiro, que sequer me lembrei de "parar pra tirar uma selfie".
Não registrei, não tirei fotos, não fiz filmagens nem publicações. Eu simplesmente vivi aquele momento.
A sensação que deu é que parece que, às vezes, é preciso se dedicar 100% aos momentos, a ponto de sequer lembrar da selfie (por mais banal que pareça a comparação, estes são os tempos atuais).
O mais legal – quando este encontro, que já completa doze anos, morrer (sim, ele também irá acabar um dia): serei feliz pelo que vivemos juntos, eu e meus amigos, nestes momentos únicos que acontecem uma vez por ano.
Percebe o quanto que isso é relevante? Volto às nossas vidas.
Recentemente, criaram o Ministério da Solidão na Inglaterra. Algo interessante, já que a Inglaterra é um dos países que nós admiramos por vários motivos. Às vezes, a verdade é que até sentimos inveja de tanto desenvolvimento.
Sim, por lá o nível de vida é excelente. As necessidades básicas e intermediárias estão garantidas aos britânicos. Sob a ótica da construção de uma nação, existe sucesso.
Não à toa, diga-se de passagem. A pergunta é, a qual custo se alcança esse sucesso?
Pasme – a expectativa de vida na Inglaterra, contra tudo que se pode imaginar, está diminuindo no momento que escrevo este artigo.
Precisaram criar um Ministério da Solidão porque as pessoas estavam morrendo sozinhas, e parte considerável delas porque não fizeram "grandes investimentos" na qualidade das suas relações humanas.
Significa que, alcançar "o máximo", desconsiderando a importância do outro e das conexões nas nossas vidas, não é, digamos, sustentável.
Repito - é preciso reconhecer que a vida irá acabar.
Ao fazer isso, conseguimos analisar o nosso modo de viver a vida. Se seu estilo de vida é ruim, ele precisa descansar. É preciso deixar morrer os hábitos que destroem nosso tempo na terra.
Por quê? Porque o nosso tempo aqui não é negociável.
Ele está acabando, e é justamente por isso que precisamos tomar consciência sobre o assunto o quanto antes.
Uma frase marcante da Dra.:
"ao partir, a única coisa que você leva daqui é a roupa do corpo, e se você não for corajoso o suficiente para falar no seu fim de vida, nem vai ser você que vai escolher a roupa".
Lição – aceite que a vida acaba. Se entregue então ao seu propósito.
Se a sua vida vai acabar, hoje é o dia mais importante. Viva-o plenamente.
Não significa ignorar o futuro, significa respeitar o presente. Desta forma, estaremos preparados para receber tudo que a vida tem a nos oferecer. Inclusive a morte.
Arthur Lemos.