A morte lhe cai bem
Tão bem que você nem precisa falar comigo!
Atualmente sou um homem de 34 anos, moro em São Paulo e tenho uma vida relativamente normal. Agora me responda, quando você pensa em normalidade, o que vem à mente? Ah, ele deve ter uma casa, pode ser que trabalhe em uma empresa e tem um pet. Digamos que sim para todas as opções, mas quando falo em vida relativamente normal, também me refiro ao fato de perder pessoas, me despedir, ver pessoas que fizeram parte da vida, morrerem. Estranho isso, mas acontece o tempo todo, principalmente depois dos 30.
Vamos tentar construir essa linha de pensamento, antes de eu me despedir de você
Dentro de toda essa normalidade, tenho pensando em como as pessoas que morreram, estão cada dia mais presentes em nossas vidas (na minha no caso), muito mais do que antes de partirem. Até parece superstição ou algo assim, mas isso me causa mal-estar. Pessoas mortas não deveriam postar em redes sociais e nem mandar WhatsApp (principalmente WhatsApp).
Essa superexposição dos mortos, ao meu ver, não é sadia. Até porque, você, eu e o meu vizinho, sabemos que aquela pessoa, já morta, não tem mais acesso à internet. Pior é perceber que quem escreveu aquele post ou mensagem não tem a mesma capacidade cognitiva do falecido. Não estou me referindo à inteligência, mas forma de se comunicar ou contar uma história. São presenças não reais, que dificultam o aprendizado da perda e não facilitam o luto.
Sobre perder e superar, mensagens do “além” não ajudam
Eu já perdi pessoas muito queridas, mas a distância ensina muito, como superação, administração da dor e até recomeço. Eu não gostaria, se houvesse redes sociais ou mensageiros eletrônicos há 10 anos, de receber um texto do meu avô.
É completamente desconfortável participar de um grupo criado pelo WhatsApp do falecido. Sobretudo quando os assuntos são a missa de 7º dia ou a cerimônia de cremação. Não sei se aos 34 eu fiquei no passado, mas não irei me acostumar com isso. Temos centenas de canais de informação, dá para convidar os amigos e familiares para uma missa, sem usar o perfil da pessoa que “deu Tchau” né!?