Movida ao que me move

Se você ler meu currículo hoje, vai achar que sou perfeita pra sua vaga, mas 16 anos atrás os contratantes me consideravam desfocada, uma pessoa meio perdida que não sabia bem o que queria fazer da vida. Hoje me consideram uma profissional multifuncional (híbrida?), completa.

Sou curiosa, sobre tudo. Na vida e no trabalho. Como jovem publicitária, costumava me sentir quadrada demais pra agências e descolada demais pra empresas. Como pessoa, sou criativa e metódica, racional pacas e emotiva pacas. Fiz três pós-graduações por curiosidade: comportamento do consumidor pra entender melhor a mente humana, produção executiva de televisão por amar cultura e neurociência por fascínio à recuperação do AVC do meu marido. Sou movida ao que me move.

Sempre tive vontade de fazer um pouco de tudo, saber um pouco sobre tudo. E falando profissionalmente, o ponto não é efetivamente saber fazer tudo e sim ter um conhecimento mais amplo pra executar melhor a minha função. Estou redatora criativa hoje, mas já trabalhei em marketing e em produtora audiovisual. Entendo a pressão do meu cliente porque já estive lá, quando faço roteiro de vídeo sei como posso otimizar o trabalho do editor pela experiência na produtora.

Ser curiosa sobre o processo como um todo me dá mais embasamento na hora de criar. Entendo as limitações e possibilidades técnicas, por exemplo, penso no tempo que demora pro diretor de arte criar as peças antes de sugerir ideias, considero o que o orçamento permite, analiso se a estratégia das minhas sugestões atende ao objetivo do meu cliente. Saber um pouco sobre cada processo de um job me faz uma profissional melhor, com mais referências, que contribui mais e com maior qualidade, que trabalha melhor em equipe.

Sim, trabalhar bem em equipe também é isso, porque conhecer um pouco de tudo me permite entender os prazos e as ponderações dos outros profissionais envolvidos no projeto. Se eu pensar só em fazer e entregar a minha parte sem considerar a parte deles, o projeto inteiro pode dar errado. E se der errado, deu pra todo mundo.

No início da minha carreira sucesso era permanecer a vida inteira na mesma empresa, muitas vezes fazendo a mesma coisa. Lembro em uma festa de família quando ouvi “tirou férias? Conseguiu ficar um ano em uma empresa?” e fiquei me questionando se estava errada em buscar constantemente estar em lugares em que eu sentisse que estava me desenvolvendo. 

Seguir meu coração nunca fez tanto sentido quando olho pra trás. Aqui, 16 anos depois, tenho um orgulho imenso por ter me mantido curiosa e ido atrás de alimentar esse bichinho que me mantém viva e longe da zona de conforto. Foi esse bichinho que me tornou a profissional que hoje é contratada exatamente por ser assim, curiosa, cheia de experiências de vida e de trabalho.