OS PRIMEIROS DIAS COMO GESTORA

Na véspera de virar a chave da minha promoção de redatora para diretora de criação, eu estava bem tranquila entendendo que a única coisa que mudaria seria a formalização de algo que eu já vinha fazendo há meses. Quando a chave virou, não foi bem assim. 

Um rebuliço de emoções e uma certa insegurança bateram forte, e a angústia gerou reflexões importantes. Reflexões sobre o meu papel como gestora de pessoas, sobre a minha responsabilidade com os outros e comigo a partir de agora. E abaixo estão algumas delas:

Eu não vou acertar

Não todas as vezes, não em todos os meus direcionamentos. Mas vou dar o melhor que puder em todos os projetos, sempre.

Eu não vou resolver tudo sozinha

Pra isso que se trabalha em equipe. Não importa o nível hierárquico em que você esteja, pedir ajuda é sempre bem-vindo e muitas vezes é fundamental.

Eu não vou ter todas as respostas

Mas vou continuar tendo muitas perguntas, nunca vou deixar de ter perguntas.

Eu não vou ser a mais criativa

Meu papel agora envolve outras formas de criatividade além de insights a la Cannes. Por exemplo achar formas de manter a equipe saudável e acolhida pra que as minhas pessoas tenham bons insights.

Eu não vou mais brilhar

Entendi que o meu papel é deixar a minha equipe se destacar, dar condições pra que eles possam fazer o que sabem fazer com maestria. O meu sucesso a partir de agora é o sucesso do meu time, eles estão na frente do palco.

Eu não cheguei lá

Não cheguei em lugar nenhum, continuo caminhando. E o caminho tem acertos e erros, tem conquistas e dor, tem desenvolvimento, tem aprendizados, tem muito caminho pela frente.

Pensando em tudo isso o que ficou mais forte em mim foi a importância de deixar o ego pra trás e puxar a humildade pela mão. Ser mais humana do que tenho sido até aqui, me afastar para ter melhores condições de ver o todo e saber quando sou necessária e quando não sou. Difícil não ser necessária, me dói, mas meus gestores também precisaram me deixar sozinha em alguns momentos pra que eu pudesse chegar aqui. 

Tantas coisas passando pela minha cabeça e pelo meu coração, mas acima de tudo uma paz enorme. Uma certeza de que está tudo no seu lugar, uma enorme confiança na minha sensibilidade pra lidar com o novo com a curiosidade de uma criança somada à cautela de mulher adulta. 

Saí de um papel de total segurança para um papel que tem muito a me ensinar. E não tem nada que me deixe mais entusiasmada do que aprender.