MTV Brasil, essa balzaca

Acordei bombardeado pela celebração dos 30 anos da MTV Brasil. Estava nas redes sociais (LinkedIn inclusive), mas estava também na rádio, nos jornais, em toda parte. Nunca fui muito apegado a datas, sou do tipo que não comemora nem o próprio aniversário. Mas confesso que esse auê todo me deu uma certa nostalgia. Achei por bem dividir aqui um pouquinho dessa história, ainda do começo da minha trajetória profissional.

Pra começar, é interessante dar uma dimensão do que era trabalhar na MTV nos anos 90: em um mundo pré internet comercial (eu fiquei lá de 91 a 94), um emprego na MTV era mais do que, sei lá, hoje em dia trabalhar em Cupertino, na Apple. Ou no Google. Ou na Apple, no Google e no MoMA ao mesmo tempo. Em um tempo em que a informação para o público jovem levava dias ou meses para chegar (e, às vezes, não chegava nunca), trabalhar na MTV era a mesma coisa que trabalhar em uma internet que só alguns poucos acessavam. Era fora de série.

Mas, além desse aspecto cool da coisa, o ambiente era muito bom. Não parecia exatamente um ‘emprego’, era uma mistura de laboratório da faculdade com um encontro de amigos. Todos os dias da semana. Todos mesmo, porque a gente trabalhava junto, almoçava e jantava junto, ia em festas e baladas junto. Acabava virando uma turma, um bando.

Eu era um intruso no bando. Explico: quase um ano antes de entrar no ar, a MTV fez uma mega-seleção para formar a equipe que iria trabalhar na emissora. Eu não me inscrevi nisso, na época já estava trabalhando em algum lugar, achei que seria ‘andar pra trás’. Mas vários amigos meus fizeram parte do processo e alguns acabaram selecionados. Quase um ano e meio depois, quando a MTV estava perto de comemorar um ano, me indicaram lá dentro. E, como eu tinha amigos, acabei sendo referenciado – e depois contratado. Daí vinha esse meu sentimento de ter “chegado depois’, de ter entrado na turma mais tarde.

Mas isso não mudava muito o caótico e divertido dia-a-dia. E olha que eu, já naquela época, queria ser “o sério e profissional” do pedaço. Olhando em retrospectiva, devia ter me preocupado menos e aproveitado mais.

Fui trabalhar como redator do Promo, que era o departamento responsável pelas chamadas, campanhas, vinhetas e embalagem visual da emissora. Sabe aquelas vinhetas animadas muito loucas que formavam o logotipo da MTV? Era isso o que o Promo fazia (no caso das vinhetas, a maioria era gringa, mas a gente fazia um monte de outras coisas). Internamente, o Promo era mega invejado porque era o departamento mais livre de todos. Ajudava, e muito, o nosso chefe ser o Titti Civita, herdeiro do Grupo Abril, então dono da MTV. Mas, no fundo, a qualidade do nosso trabalho era boa mesmo.

Minhas contribuições para a humanidade? Várias, a maioria perdida em fitas VHS que nem eu sei mais onde estão (enquanto o acervo da MTV não é recuperado). Mas me recordo de uma série de Anagramas, d’A Verdadeira História da Camisinha e de muitas, muitas chamadas de programação que terminavam com a voz épica de Paulo Ivo assinando “Só na sua MTV”. Esse “sua” foi invenção minha: os gringos assinavam “Only on MTV”, mas por causa da música do Dire Straits (I want my MTV) achei que era legal dar esse sentimento de posse para o espectador. Funcionou. As pessoas realmente viam a MTV como algo deles, próprio, pessoal.

Enfim... todas essas histórias dariam um livro, tanto que deram mais de um. Uns dois ou três, que eu saiba.

Mas fica a saudosa lembrança de ter vinte anos de idade e trabalhar na criação do departamento mais livre do lugar mais legal do planeta.

Sem querer, fizemos história.