A RECEPCIONISTA NÃO É QUEM ELA AFIRMA SER
Viajar faz parte de minha rotina profissional. Provavelmente também faz parte da sua.
Nesses últimos dias estive, por diferentes motivos, em 3 capitais diferentes, voando aproximadamente 8.000 km. Uma distância equivalente à que separa São Paulo de Lisboa. As “dimensões continentais” que a gente aprendeu nas aulas de Geografia fazem muito mais sentido agora.
Mas viajar não é só avião. Tem a parte dos hotéis também. Uma vez li uma coisa curiosa sobre quartos de hotel: “O objetivo de um apartamento é dar ao hóspede a sensação de que ele é a primeira pessoa na história a entrar naquele espaço.” E é isso mesmo. Não pensamos (ou, ao menos, procuramos não pensar!) que algumas horas antes havia outra pessoa tomando banho naquele chuveiro, escovando os dentes naquela pia, deitada naquela cama...
É por isso que quando percebemos alguma “evidência” de que alguém já esteve naquele mesmo espaço, nos horrorizamos. Pode ser só um fio de cabelo – ou um tufo deles! Ter a consciência de que outro já passou por ali é perturbador.
No meu caso, não foi.
Na última página do bloco de anotações da cabeceira, havia um desenho de criança. Uma casinha. Uma árvore. Um clássico de linhas tremidas. A camareira não deve ter notado. Eu achei fofo. Humanizou o apartamento, que deveria ser impessoal.
Lembrei-me imediatamente do humorista inglês David Bussel, que há uns 12 anos se dedica a deixar recados enigmáticos atrás dos quadros dos quartos de hotel em que se hospeda. Na mesma onda embarcou recentemente o ilustrador espanhol Puño. Fico imaginando a sensação de tirar um quadro da parede e encontrar escrito atrás algo como: “Desconfie da recepcionista: Ela não é quem afirma ser!”. Deve ser apavorante! Ou hilário!
Lembrei também do Moska, artista que adoro, que chegou a fazer uma exposição de fotos chamada “REFLEXOS & REFLEXÕES”, somente com imagens que fotografou nos banheiros dos hotéis que havia visitado em sua última turnê.
Assim como o autor misterioso do desenho que encontrei (e guardei!), Bussel, Puño e Moska são exemplos de mentes criativas fazendo aquilo que fazem melhor: a transformação do entorno.
Gente que muda o mundo.
“Quando você tem uma mente criativa, ela simplesmente não para” – Allison Moyet, cantora (Yazoo)
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