Muito além dos unicórnios: boas notícias para os investidores VC no Brasil.
No último artigo, falei de como crowdfunding de investimento para estágios mais iniciais estava se consolidando como uma alternativa interessante. Agora, trago dados que demonstram o crescimento do mercado de VC no Brasil, que são rodadas geralmente a partir de R$10 milhões.
O ambiente econômico brasileiro nunca esteve tão atrativo para investidores de Venture Capital. Pelo menos é o que se vê do último relatório InsideVC 2019.
Apesar da turbulência do período eleitoral, o ano de 2018 foi marcado por um número recorde de startups brasileiras atingindo o status de unicórnio, isto é, valendo na faixa de 1 bilhão de dólares. Isso demonstra muito apetite de investidores internacionais em investir no país, pois, ainda que valuation seja só um número, é um indicador da busca por tomada de risco.
Em 2019, esse movimento parece ter se perpetuado, com outros mega-rounds do Gympass e da Loggi, que atingiram o status de unicórnio, e o Nubank, que se destacou como o primeiro decacórnio brasileiro, avaliado em US$ 10 bilhões.
Mas não são só os unicórnios que mostram essa robustez do mercado. Em 2018, o capital total da indústria de venture capital no país somou 16,6 bilhões de reais. No front dos investimentos, o volume total chegou na casa dos R$ 6 bilhões, mais de seis vezes o montante registrado em 2017. Fortes sinais que o amadurecimento do ecossistema brasileiro de startups tem atraído cada vez mais investidores estrangeiros, principais responsáveis por esse aumento significativo.
Esse crescimento se observou principalmente nas áreas de fintech/insurtech e transporte/mobilidade. No primeiro caso, estamos falando de 40 companhias, que representam 19% das 211 empresas investidas por fundos de VC em 2018. No segundo, são 29 organizações, ou 14% do total.
É possível que essa concentração tenha relação com algumas características particulares do país. A grande concentração e os altos custos dos serviços bancários oferecidos no Brasil certamente oferecem uma oportunidade para empresas que apostam na tecnologia para operações dissociadas dos grandes bancos, trabalhando para aumentar a inclusão financeira. Tem muito espaço para disrupção e provavelmente outros unicórnios no forno.
O marco regulatório da Lei 12.865, de 2013, que colocou o Banco Central como controlador e introduziu conceitos como arranjo e contas de pagamento, foi um marco importante que tem contribuído para a criação de um ambiente mais competitivo, com mais flexibilidade e liberdade de escolha e proteção para os consumidores.
Num país de tamanho continental, com forte potencial de crescimento econômico e presença ainda tímida de tecnologias que possam facilitar as transações e estimular o empreendedorismo, investimentos nesse ramo são vistos como particularmente promissores.
O chinês Tencent, por exemplo, investiu US$ 180 milhões no Nubank, seguido pela última rodada, liderada pelo TCV, que valorizou a empresa em mais de 10 bilhões de dólares. Já a Creditas, empresa de empréstimo online, recebeu US$ 200 milhões em investimentos do SoftBank, mais US$ 31 milhões de outros fundos parceiros.
No setor de transportes e mobilidade, o investimento baixo no país em soluções criativas e menos custosas contribuiu para um grande aumento da quantidade de automóveis e uma precarização da mobilidade como um todo. Segundo o Inrix, São Paulo é a quinta cidade com mais congestionamentos do mundo, enquanto o Rio de Janeiro está em sexto colocado.
Esse ambiente caótico é particularmente propício para a criação de soluções de mobilidade que consumam menos recursos e economizem o tempo das pessoas. Não é à toa que a primeira saída bilionária do Brasil tenha sido da 99. E falando de saídas, o estudo também viu um volume maior de exits, chegando a 14 em 2018.
Para se ter uma ideia de quão promissor é esse mercado, basta saber que a Grow, holding criada neste ano, fruto da fusão entre a Yellow, startup de bicicletas sem estações e patinetes elétricos, e a Grin, startup de patinetes elétricos, já recebeu aporte de US$ 150 milhões só em 2019.
Tenho certeza que esse movimento de aumento dos investimento estrangeiros em VC e não apenas em empresas consolidadas está só começando e que ele é fundamental para gerarmos valor em escala como país.
Fundador na Urmob.city | Telemetria, Mobilidade Urbana
5 aMuito bom Bruno. O interessante disso tudo é que o ecossistema brasileiro das startups está sendo cada vez mais reconhecido e a chegada de capital de investimento está mais comum por esse endosso e uma certa garantia de menos risco. Também pela profissionalização dos fundos e investidores locais, que estão aprendendo e melhorando a cada dia suas teses.
Decommodifying the world
5 aSerá que parte desse capital dos grandes rounds vai de alguma forma ser investido em startups de estágios anteriores? - aquisições de startups mais iniciais por outras que receberam grandes rounds - criação de programas de inovação por parte dessas novas "grandes" empresas inovadoras - empreendedores com exit investindo na física ou se unindo a veículos de investimento (fundos, aceleradoras, clubes de anjos...) Pouca gente observa essas métricas, mas elas são fundamentais para a continuidade do ecossistema.
CEO na Linkana
5 abelo texto!