Mulher - Gerente do Impossível
Um pouco sobre a realidade de algumas mulheres: Ser mulher nunca foi tão desafiador, como nos últimos meses.
Não bastasse vivermos a realidade do preconceito, disfarçado de interesse pela vida pessoal, durante entrevistas de emprego - "você é casada? tem filhos? pretende ter? quem ficará com as crianças?" - lidamos, hoje, com a alta carga de responsabilidade, que envolve ser profissional, mãe, gestante, esposa, dona-de-casa, sem ajuda.
Professoras precisam "dar um jeito" nos filhos pequenos, para serem capazes de manter seus empregos, com aulas virtuais que duram horas a fio. Outras mulheres se vêem deixando seus filhos menores de 10 anos, sozinhos, para cumprirem a carga horária em empresas que não flexibilizaram a rotina...
Mulheres são feitas de muita energia, vontade e...músculos invisíveis, para suportarem uma carga infinita. O Thor é fichinha!
Somos ensinadas a nunca reclamar e nem aceitar elogios, pois estamos apenas "fazendo nosso papel". Somos maioria absoluta, quando o tema é Síndrome do Impostor.
A pandemia potencializou uma realidade que não queríamos ver: a carga das mulheres é muito pesada.
Você duvida? Pergunte aos homens que tenham começado a ajuda na rotina da casa, conciliando reuniões, louça, filhos, cachorro...eles estão exaustos! Estão estressados! A ajuda dura pouco, ou causa brigas.
Homens acabam sendo aqueles que fazem as tarefas menos complexas da casa, por falta de tempo, de jeito...o que sobrecarrega ainda mais a mulher.
A maioria das mulheres não tem a opção de deixar o trabalho com alguém, né? (hahaha...Se uma mulher quer comida quente, ela que lute, ou peça no ifood!)
Empresas estão cortando mulheres, ou dificultando sua permanência no trabalho. É cruel.
Nosso trabalho é manter tudo em ordem, em silêncio, mesmo que isso cause desordem em nós mesmas.
O efeito colateral desta realidade será um aumento no número de mulheres sofrendo de burnout, precisando de apoio psicológico, sendo afastadas das funções, ou buscando ajuda em programas de governo, para sustento da casa, pois muitas são chefes de família e não contam com ajuda alguma de terceiros / companheiros.
Em outras palavras: vai custar caro todo esse retrocesso.
É claro que, existem empresas, genuinamente, preocupadas com suas profissionais e que, proativamente, lançaram programas de apoio psicológico, terapias, flexibilização da rotina, entre outras ações.
Uma frase que escutei algumas vezes nas últimas semanas, foi: "Mãe não é pessoa!"
Se trata de uma afirmação extrema, mas é meio isso, mesmo.
No exemplo da frase, podemos trocar "mãe", por "mulher", sem corrermos o risco de passarmos por mentirosas. As dificuldades, sonhos e desejos das mulheres são ignorados pela grande maioria das pessoas, incluindo, outras mulheres. Ou seja...mulheres não são pessoas, no sentido de que tudo o que ela almeja, deixa de ser importante, quando existe algum trabalho a ser feito. Só somos pessoas, quando todas as outras necessidades dos demais, estiverem supridas.
Aprendemos a carregar a carga, sem incomodar ninguém e, infelizmente, esperamos o mesmo de nossas meninas. Aprendemos a gerir o caos, o tempo todo, custe o que custar...nos anulamos, pois é isso que esperam de nós.
E...quando temos a coragem de transparecemos uma dificuldade, corremos o risco de perdermos aquilo que conquistamos com grande esforço: nossa carreira profissional.
Como mulher, mãe e profissional, posso dizer que tenho certo privilégio, pois além de ajuda em casa, com as crianças, tenho apoio da empresa, mas sei que isso não é realidade da maioria.
Quando estou realmente cansada, desligo o notebook e vou brincar de casinha, jogar PS, dançar e cantar, ou dar colo a alguém que precise. Isso recarrega as minhas forças e não impacta na produtividade, afinal, no escritório, haveria a pausa do café, o papo no corredor, a risada antes de iniciar uma reunião importante...a diferença entre estar em casa e estar no escritório, no meu caso, é que a pausa do café é acompanhada por bonecas e carrinhos, ou de uma ida rápida ao play, para gastar a energia das crianças e garantir meu sossego nas reuniões que vierem na sequência.
Seja como for, o papel híbrido de mulher e profissional, nunca vai deixar de existir.
Gostaria de dizer que quando passar, tudo voltará ao normal, mas não acredito que a realidade passada, volte a existir algum dia.
Toda a evolução da mulher no mercado de trabalho tem sido colocada em risco, por falta de tato e disposição das empresas e gestores, em reverem seus modelos de trabalho, gestão ou cultura.
Sejamos conscientes e façamos a diferença, dentro do nosso pequeno mundo, para que o impacto ganhe escala, algum dia.
Pergunte, escute, se interesse, genuinamente, pela realidade da mulher que está perto de você.
Mesmo que uma mulher não seja mãe, ela pode ter pais idosos, ou estar planejando aumentar a família, ou cuidando dos irmãos, da rotina da casa, da faculdade ou MBA.
Seja gentil e humano. Sozinhos, não mudaremos o mundo, mas a ação de um, influencia os demais e pode tornar a realidade de muitas mulheres, mais leve.
Uma mulher valorizada pela empresa onde trabalha, será grata e sua entrega será, infinitamente, mais feliz e motivada, gerando resultados muito melhores.
Queremos mulheres brilhantes e sorridentes, ou cinzentas e frustradas, tocando nossos negócios e cuidando de nossa casa e família?
Uma matéria sobre esse tema:
Obrigada e um forte abraço,
Mylena Batista
Product Operations Lead | Group Product Manager | Product Ops
4 aVc sempre arrasa nos textos! 👏🏻👏🏻