Mulheres nas exatas: Yes, we can!
Desde que nascemos, vivemos cercados por narrativas sobre nosso lugar no mundo — o que podemos ou não fazer. Nos últimos anos, felizmente, estamos contestando essas histórias e substituindo as afirmações pela pergunta: mas será que eu não posso mesmo?
O fenômeno é especialmente importante para as mulheres que têm se permitido experimentar novos ramos de atuação sem as amarras dos estereótipos. Mulheres que não se limitam a pertencer às atividades que lhes impuseram e que hoje se destacam nas ciências e nas Exatas.
Essa ocupação de espaços e funções historicamente masculinos ainda é lento, mas relevante o suficiente para obrigar o universo do entretenimento e do consumo a reajustar seus roteiros. Os papéis femininos passaram de assistentes, com roupas minúsculas, a cientistas que mudaram o rumo da história, como no filme Estrelas Além do Tempo, longa-metragem indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2017 que conta a trajetória de três matemáticas negras pioneiras na Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço).
A representatividade mostra às meninas que elas podem transitar entre saberes, que ciência também é para elas. No entanto, isso é apenas parte da batalha. Se queremos que tais oportunidades se espalhem pelo Brasil, não podemos mais adiar uma Educação de qualidade e igualitária.
Ainda que tenhamos avançado no número de estudantes que perseguem carreira nas ciências e exatas (hoje, elas são 47% dos bolsistas das CNPq em Ciências e Tecnologia), precisamos impulsionar o preparo das mulheres para esses campos, o que significa envolver toda a sociedade, família e escola desde a Primeira Infância. Recalibrar a maneira como socializamos nossos meninos e meninas desde pequenos faz parte dessa força tarefa; o modo e sobre o que os elogiamos, por exemplo, já são indícios das expectativas que depositamos em nossas crianças.
Precisamos impulsionar o preparo das mulheres para as carreiras de Ciências e Exatas, o que significa envolver toda a sociedade, família e escola desde a Primeira Infância.
E se engana quem pensa que esse é um assunto só das mulheres. Diante dos avanços tecnológicos, o mundo está cada vez mais interconectado e interdisciplinar, exigindo um grande número de pessoas capazes de criar soluções para problemas complexos. Muitas são as mulheres que captaram essa mensagem e têm descoberto como melhorar a vida de todos nós. É o caso da Fernanda Werneck, ganhadora do prêmio “Para Mulheres na Ciência” 2017, da L’Oréal e da Unesco, com uma pesquisa sobre o impacto do aquecimento global na vida animal. Outra história inspiradora é a de Joana D’Arc Felix de Souza, PhD em química pela universidade de Harvard, que deixou para trás uma história de privações para hoje acumular 56 prêmios. A Organização Think Olga reuniu em uma lista as mulheres mais inspiradoras de 2017 na área. Confira.
Não existem quaisquer estudos que comprovem diferença na capacidade de aprender entre meninos e meninas; por outro lado, dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontam que elas têm menor interesse em ciências e estudos técnicos devido a estereótipos e sexismos que permeiam a escola e a família. Para mudar esse quadro, iniciativas ainda na Educação Básica são o empurrão que muitas delas precisam, projetos como os impulsionados pelo programa Elas nas Exatas, uma parceria entre o Fundo Elas, o Instituto Unibanco e a Fundação Carlos Chagas.