MUNDO DO TRABALHO E O ENSINO MÉDIO
Hoje com a lei da reforma do ensino médio, lei número 13.415/2017, sancionada pelo presidente da república no dia 17 de fevereiro deste ano, muito tem se falado em uma educação voltada para o mundo do trabalho. Virou moda, novamente, usar essa expressão. Todo cuidado é pouco. Todo modismo é raso e perigoso.
Claro que o mundo do trabalho é importante e a educação do jovem e de todo ser humano, não pode estar distante desta realidade, muito pelo contrário, deve perpassar todo processo educativo, durante a vida toda. Mas, não podemos confundir mundo do trabalho com mercado de trabalho. O mercado de trabalho é apenas uma parte do mundo do trabalho.
O mundo do trabalho é ontológico, amplo, permanente, atinge a toda forma de trabalho, enquanto o mercado de trabalho, com diz o próprio nome, atinge o mercado de trabalho disponível no momento, que muda constantemente, todo momento. Uma profissão pode existir hoje e amanhã não.
O mundo do trabalho é toda forma de trabalho do ser humano que perpassa a vida do homem desde sua origem no planeta. É a transformação da natureza pelo homem, faz parte de sua história, de sua cultura, de sua existência. O homem transforma a natureza mas nesse processo transforma-se a si mesmo, é o trabalho exteriorizado, natureza transformada em natureza humanizada e produz as condições gerais de sua existência. Ele constrói a si mesmo. O mundo do trabalho é a totalidade da condição humana, onde se realiza e se faz como homem. Constrói sua condição de existência, a práxis do homem, cria relações com outros homens , produz conhecimento, a sobrevivência, a cultura.
O mundo do trabalho é maior. O mercado de trabalho é uma categoria do mundo do trabalho, é uma parte, é menor.
O grande perigo, é que, com a desculpa de estar proporcionando uma educação voltada para o mundo do trabalho, criar uma educação técnica, apenas voltada para o mercado de trabalho do momento, empobrecendo o processo educativo, esvaziando a escola e sua função educativa, especialmente a escola pública. Temos que tomar todo cuidado, para não cair em mais esta tentação pragmática e esvaziar a educação dos jovens, tolhindo os mesmos de uma educação plena, humanística, que leva-os a pensar criticamente e construir sua autonomia e liberdade do agir, do pensar livre.
Para isso não podemos abrir mão dos clássicos, da literatura, da poesia, da filosofia, sociologia, da arte, da educação física, das ciências humanas, enfim do humanismo, que possibilita o conhecimento global, que faz pensar, é o desenvolvimento plena do ser humano.
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O que mais preocupa, neste sentido, é que a nova lei da reforma do ensino médio, justamente, relativiza essas disciplinas tão importantes, quando na verdade deveria reverênciá-las. A nova lei garante apenas, como obrigatórias, nos três anos do ensino médio, as disciplinas de língua portuguesa e matemática. É preocupante. Está na contramão da história e do momento que vivemos.
É óbvio que matemática e língua portuguesa são disciplinas importantes, ninguém duvida disso, mas filosofia, sociologia, artes, educação física, geografia, história e tantos outras, também são fundamentais, na perspectiva da formação integral e plena dos estudantes. Formar para o mundo do trabalho sem a formação humana básica, que a área de humanas possibilita, sem construir o pensar autônomo e critico, deixa uma grande lacuna na formação dos jovens, beira a irresponsabilidade, é muito perigoso.
Karl Marx, nos ensina que devemos promover a educação, o conhecimento e mesmo a inserção ao mundo do trabalho, de uma forma OMNILATERAL e não UNILATERAL. Isto é, uma educação omnilateral é a formação integral, tatalizante, um constante reinventar da cultura e de si mesmo, criativa. É a práxis, teoria e pratica juntas. É a emancipação de todas as qualidades e sentidos humanos. O homem com todas as suas capacidades, pleno. Enquanto a educação unilateral é alienante, estranha ao homem, ao educando, parcial, ausência de totalidade. É a miséria do espirito, reduz a essência humana.
A educação tem que ser plena, não podemos negar nenhuma possibilidade de aprendizagem do estudante, não temos esse direito.
Todo cuidado é pouco.
Faz pensar.