Mundo e Economia nº 12
ACONTECIMENTOS ECONÔMICOS DA SEMANA Otto Nogami
O preço da gasolina caiu R$ 0,15, em média, nos postos. Nas refinarias, o preço ficou 4,92% mais baixo no começo da semana. Segundo a Petrobrás, o corte reflete a queda nas cotações internacionais. Com esse ajuste, o preço da gasolina no Brasil se igualou ao do mercado internacional, segundo relatório divulgado pela Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), com uma diferença de apenas R$ 0,01 por litro do combustível. Por outro lado, o litro do diesel A (sem adição de biodiesel) continua custando, em média R$ 0,13 a mais no mercado interno que o produto importado. Agora, fica o sinal de alerta: o barril de petróleo brent voltou a subir, chegando a US$ 107,32 na terça-feira, e a taxa de câmbio chegou a encostar nos R$ 5,50. Como se comportará a Petrobrás?
O Banco Central Europeu (BCE) elevou a taxa de juros pela primeira vez desde 2011, como medida para conter a inflação, que chegou em junho a 8,6% em um ano. A previsão do mercado, pelas declarações anteriores do BCE, era de uma elevação de 0,25%, e a instituição decidiu por um aumento de 0,50 ponto percentual. O comunicado do BCE, ao término da reunião que decidiu pela elevação, sinaliza que novos aumentos virão no futuro, com o objetivo de acelerar o retorno da inflação na área do euro à meta inflacionária de 2%. Essa elevação da taxa de juros no combate à alta persistente dos preços inevitavelmente reduzirá o ritmo de crescimento na área do euro.
Mai uma vez, na quinta-feira (21) o dólar ultrapassa os R$ 5,50. Esta desvalorização da moeda nacional é reflexo da elevação da taxa de juros na área do euro em 0,50%. Contribuiu para este movimento, também, a perspectiva de mais um aumento de 0,75% na taxa de juros norte-americana, na última semana do mês. O cenário eleitoral também contribui para a desvalorização da moeda nacional, que cria apreensões junto aos investidores estrangeiros de curto prazo.
A Pesquisa Industrial Anual (PIA) mostra que, de 2011 a 2020, a indústria perdeu 9.579 empresas (3,1% do total) e desempregou um milhão de empregos (-11,6% do total), sendo 5.747 vagas nas indústrias extrativas e 998.200 nas indústrias de transformação. Entre 2019 e 2020, período que engloba o isolamento social em função da pandemia, 2.865 empresas encerraram suas atividades. Em 2020, o país tinha 303,6 mil indústrias com uma ou mais pessoas ocupadas, sendo 6,3 mil indústrias extrativas e 297,3 mil indústrias de transformação, que pagaram R$ 308,4 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações. Esta redução no número de empresas instaladas no país estão contribuindo para a queda da produtividade da economia brasileira, travando as perspectivas de retomada do crescimento econômico.
O MUNDO Gunther Rudzit
Mais uma vez o presidente turco Recep Tayyip Erdogan demonstrou sua política externa dúbia que busca defender seus interesses. Em encontro trilateral com presidente russo Vladmir Putin e presidente iraniano Ebrahim Raisi, em Teerã, ele solicitou aos dois que apoiassem o aumento da presença turca no norte da Síria. Apesar de usar a justificativa de combater grupos terroristas, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, se pronunciou contrário a qualquer nova incursão militar turca na Síria, afirmando que este tipo de operação na verdade traria benefícios a alguns grupos terroristas. Tal postura tem gerado críticas cada vez mais contundentes tanto no Congresso americano quanto no Parlamento europeu, mas que não incomodam Erdogan, uma vez que para ele o que importa é algum resultado que ele possa utilizar frente à opinião pública turca, e que traga o que ele vê como benefícios em termos de política externa.
Por sua vez, o presidente Putin teve reunião bilateral com o líder supremo iraniano, que afirmou que Irã e Rússia tinham histórico de amizade e que a ação russa na Ucrânia era necessária a fim de parar a expansão da OTAN. Por isto, Teerã apoiava não só a ação militar, como buscaria aprofundar a cooperação em temas de segurança internacional, principalmente para por fim ao conflito sírio. Por fim, a empresa estatal de petróleo iraniana (NIOC em inglês) assinou com a estatal russa Gazpron um acordo de U$ 40 bilhões, envolvendo o desenvolvimento de campos de gás iranianos e um novo gasoduto entre os dois países. Desta forma, o Kremlin procura demonstrar que não está econômica e diplomaticamente isolado como o ocidente afirma.
Ainda em termos da guerra na Ucrânia, o ministro das relações exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que Moscou agora procuraria ocupar permanentemente mais territórios no sul e leste do país. Como justificativa, ele afirmou que o envio de artilharia de foguetes de longo alcance por parte dos Estados Unidos para as forças ucranianas, havia mudado a dinâmica de segurança russa, e por isto, será necessário uma faixa territorial maior a fim de proteger áreas controladas pelos russos. Esta fala é uma admissão de que a invasão tinha por objetivo uma guerra de conquista, apesar das negativas por parte de Putin. Esta afirmação deu maior veracidade ao relatório publicado pelo governo americano de que Moscou está preparando um referendo nas regiões ocupadas para um plesbicito de incorporação destas áreas à Rússia, da mesma forma que foi feito na Crimeia em 2014.
Na quinta feira o ministro da economia da Alemanha, Robert Habeck, anunciou que o fornecimento de gás pelo gasoduto Nord Stream 1 havia retomado. Contudo, o fluxo ainda estava abaixo do normal, aproximadamente 40% somente, e, mais importante, disse que o suprimento vindo da Rússia não era confiável, e solicitou que empresas e pessoas tomassem medidas para conter o uso de gás a fim de criar uma reserva suficiente para enfrentar um corte parcial ou total no próximo inverno. Contudo, no mesmo dia, o homólogo húngaro viajou para Moscou a fim de discutir o aumento das compras de gás russo pelo seu país, o que enfraquece as sanções da União Europeia.
A confirmar como o segundo foco de atenção geopolítico do mundo, Taiwan voltou a provocar atritos entre Washington e Pequim. A presidente da câmara dos deputados dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi afirmou que planejava visitar a ilha em agosto, gerando uma reação muito forte do governo chinês. Segundo o porta voz do ministério das relações exteriores chinês, tal visita teria impacto severo negativo nas relações entre os dois países, e que se os EUA insistissem no caminho errado, a China definitivamente tomaria “medidas resolutas e contundentes” a fim de defender a soberania nacional, e que Washington deve ser totalmente responsável por todas as consequências causadas por isto. Esta declaração foi uma das mais duras em tempos recentes.
Enquanto o mundo tem acompanhado a crise do Sri Lanka, outra tem passado despercebida, e esta, muito mais próxima de nós. Nas últimas semanas milhares de panamenhos têm saído às ruas a fim de protestar contra o governo que, segundo os manifestantes, não estaria tomando medidas a fim de conter a inflação em alta e a corrupção. A inflação de doze meses terminou em junho em 5,22%, o desemprego está ao redor de 18%, e os combustíveis subiram aproximadamente 50% desde janeiro. O presidente Laurentino Cortizo tem tomado medidas a fim de conter a subida do preço dos combustíveis e de itens de alimentação básica, mas que não geraram o efeito esperando para a população, sendo que as manifestações tiveram início com os professores, mas que rapidamente tiveram apoio de estudantes, trabalhadores de construção civil e grupos indígenas. A situação não está próxima do que aconteceu no Sri Lanka, mas mostra o quanto o aumento da inflação tem levado governos no mundo todo a enfrentar o descontentamento de sua população.
Outro exemplo nesta mesma linha, foi do governo italiano. A coalizão que levou Mario Draghi ao poder sempre foi muito frágil, mas as discordâncias diante ao pacote de ajuda econômica aos italianos devido à inflação e as diferenças em relação ao apoio à Ucrânia, levaram ao fim do apoio ao primeiro ministro. Dois pontos são preocupantes com nova eleição resultante do pedido de demissão de Draghi. O primeiro, se os partidos de extrema direita e populista formarem o próximo governo, poderá levar a um enfraquecimento das políticas da União Europeia frente à guerra na Ucrânia, já que eles são declaradamente pró Putin. O segundo, é que as taxas de juros que o mercado está cobrando do governo italiano já subiram, e, com o aumento da taxa de juros pelo Banco Central Europeu, a dinâmica da dívida italiana pode se tornar insustentável, em uma lógica muito parecida com a crise que o Euro passou com a crise da Grécia em 2011.
Pelo menos a semana terminou com uma boa notícia. Os governos da Rússia e da Ucrânia assinaram em Istambul o acordo negociado sobre exportação de grãos, fechado semana passada. Mesmo assinado “acordos espelhos”, já que os dois lados se recusam a assinar um tratado diretamente, houve uma queda no preço do trigo no mercado internacional. Contudo, ainda cabe a ressalva de que outros acordos já foram assinados e descumpridos, só resta torcer para que este seja respeitado.
ARTIGO DA SEMANA Gunther Rudzit
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Quais os resultados do tour de Biden pelo Oriente Médio?
A viagem do presidente americano Joe Biden ao Oriente Médio teve vários significados, e que pode ser dividida em duas etapas.
Na primeira parte da primeira viagem, Biden passou por Israel, onde esteve tanto com os membros do governo quanto da oposição, uma vez que este país caminhará para a quinta eleição geral em quatro anos. Mas três fatos são importantes nesta passagem. O primeiro, ele continuar a defender que a solução para o conflito israelo-palestino continua a ser a de dois Estados, mas que está paralisado há anos, e sem perspectiva para ser retomado. Mesmo assim, não deixa de ser uma vitória para os palestinos que foram completamente ignorados durante o governo Trump.
O segundo ponto foi a reafirmação de Biden que não admitirá um Irã nuclear. Esta postura está em linha com a política americana para Israel há décadas, na qual Washington procura manter o país com uma capacidade militar quantitativa e qualitativamente superior aos seus vizinhos para que este não tenha que recorrer à arma nuclear. Assim, caso o governo iraniano chegue perto do desenvolvimento do artefato nuclear, o que ele legitimamente não poder por ser membro do Tratado de Não Proliferação (TNP), Israel se veria na situação de ter que utilizar uma arma nuclear tática. Por isto, mesmo tentando negociar com Teerã a volta do acordo nuclear rompido pelo governo Trump para que o petróleo iraniano possa voltar ao mercado, Biden se vê obrigado a fazer esta declaração conjunta, deixando em aberto a possibilidade de uso da força, e acalmar os israelenses.
Por fim, o terceiro aspecto importante foi a divulgação de dados da cooperação na área militar que já ocorre entre Israel e alguns Estados árabes. Tendo em vista que estes também têm o Irã como a maior ameaça militar, levou à assinatura do Acordo de Abraão em 2020 entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, e posteriormente com o Bahrein. Mas estes acordos previam somente aspectos de comércio, turismo e tecnologia, não na área militar, por isto, o anúncio de uma cooperação mas sem integração de sistemas de defesa anti aéreos, mostra o quanto os países do Golfo veem o Irã como uma ameaça, levando estes a abandonarem a política de não reconhecimento de Israel. E, para isto acontecer, a participação americana como intermediadora tem sido essencial.
A segunda etapa do tour pela região foi na Arábia Saudita. Aqui também houve fatos importantes, como pela primeira vez uma autoridade americana voar diretamente de Israel para o país, em mais uma demonstração que a relação entre estes dois governos está em um ponto em que eles não procuram mais disfarçar os contatos. Segundo foi que o encontro não foi na capital, e sim em Jeddah, afinal, diplomaticamente seria uma mudança muito forte da política do presidente para o país árabe. Não se pode esquecer que ainda como candidato, Biden havia afirmado que transformaria a Arábia Saudita em um pária internacional.
Somente a necessidade de tentar fazer com que o governo saudita apoie um aumento na produção de petróleo pela OPEP+, é que fez com que esta viagem se desse. Biden evitou o aperto de mão com o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman (MBS), já que o líder americano o havia acusado diretamente pelo assassinato do repórter saudita Jamal Khasoggi do jornal Washington Post em 2018. Contudo, só pelo fato deles terem se reunido privadamente já representou a reabilitação internacional que MBS buscava.
Tendo em vista que a viagem foi para participar de um encontro regional, do Conselho de Cooperação do Golfo, o governo americano buscou amenizar as críticas justamente por esta mudança de postura.
Ao fim, os resultados não foram tão significativos. Primeiro foi a abertura do espaço aéreo saudita para companhias israelenses em rota para os países do golfo que já estabeleceram relações diplomáticas, uma medida que vinha sendo negociada há algum tempo. A segunda foi a retirada de tropas americanas de uma pequena ilha na saída do Golfo de Ácaba e o Mar Vermelho, dando seu controle para Riad, um passo importante pois é uma localização estratégica para Israel acessar o Mar Vermelho e Oceano Índico. Mas também uma medida que vinha sendo negociada antes desta administração.
Contudo, o mais importante foi o pronunciamento final de Biden, afirmando que os Estados Unidos não vão sair do Oriente Médio. Tendo em vista que desde que a então secretaria de estado Hillary Clinton anunciou o Pivô para a Ásia, em 2012 no governo Obama, no qual procuraria diminuir a presença na Europa e Oriente Médio, os governos da região estão preocupados em perder a proteção militar americana. Esta percepção cresceu com o acordo nuclear com o Irã em 2015, e a tentativa do governo Biden de retomar o mesmo após a saída unilateral do governo Trump. Explicitamente o presidente disse que não faria essa retirada para deixar um vácuo a ser preenchido por China e Rússia ou mesmo Irã.
Por mais que o realismo político teve que tomar o lugar dos princípios defendidos pelos democratas, o presidente Biden deixou a região sem a certeza de que a OPEP+ vai mesmo aumentar a produção de petróleo no início do outono no hemisfério norte, mas somente com a promessa de que o anúncio será feito em agosto. Muito menos obteve uma declaração de apoio dos países do CCG à Ucrânia. Por isto as críticas ao presidente foram muito fortes nos Estados Unidos, pois ele não terá a certeza de que poderá usar esta viagem na campanha eleitoral de novembro, e ao mesmo tempo desagradou muitos democratas.
O MERCADO