Mundo e Economia. Ano III nº 50.
ACONTECIMENTOS ECONÔMICOS DA SEMANA
Otto Nogami
A inflação do país teve alta de 0,39% em novembro, caindo 0,17 ponto percentual (p.p.) em relação ao mês anterior (0,56%). O resultado foi influenciado pelas altas no grupo Alimentação e Bebidas (1,55%), após aumento nos preços das carnes (8,02%), no grupo Transportes (0,89%), impulsionado pelo aumento da passagem aérea (22,65%), e no grupo Despesas pessoais (1,43%), influenciado pelo aumento do cigarro (14,91%). No ano, a inflação acumulada é de 4,29% e, nos últimos 12 meses, de 4,87%. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado terça-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta dos alimentícios foi influenciada, principalmente, pelas carnes, que subiram mais de 8% em novembro. A menor oferta de animais para abate e o maior volume de exportações reduziram a oferta do produto, segundo o IBGE.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasi (BCB)l elevou, na quarta-feira (11), a taxa Selic em 1 ponto percentual, passando de 11,25% para 12,25% ao ano. Essa decisão, unânime entre os membros do comitê, visa conter a inflação crescente, que atingiu 4,87% em novembro, acima da meta de 3%. O Copom sinalizou a possibilidade de novos aumentos na taxa de juros nas próximas reuniões, dependendo da evolução dos indicadores econômicos e das expectativas de inflação. Essa postura mais agressiva reflete a preocupação com a desvalorização do real e o cenário fiscal desafiador, que têm pressionado os preços e as expectativas inflacionárias.
Ainda na quarta o IBGE divulgou os resultados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) que apresentou uma alta de 1,1% frente a setembro, na série com ajuste sazonal. Com isso, o setor renovou o ponto mais alto da série histórica e está 17,8% acima do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020). A alta do mês foi puxada, principalmente, pelos serviços de transportes, que cresceram 4,1%, com taxas positivas em seus quatro modais: terrestre (1,6%); aquaviário (0,7%); aéreo (27,1%) e armazenagem, serviços auxiliares dos transportes e correio (2,6%). Outro setor em alta foi o de serviços profissionais, administrativos e complementares (1,6%). As outras três atividades econômicas mostraram taxas negativas: informação e comunicação (-1,0%); outros serviços (-1,4%) e serviços prestados às famílias (-0,1%). Na comparação com outubro de 2023, houve um aumento de 6,3%. No acumulado dos dez primeiros meses de 2024, o setor registrou crescimento de 3,2%, enquanto no acumulado dos últimos 12 meses, a expansão foi de 2,7%.
A Confederação Nacional da Indústria CNI), por sua vez, divulgou o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) que caiu 2,5 pontos, para 50,1 pontos em dezembro de 2024. É a terceira queda consecutiva do índice, que acumula queda de 3,2 pontos desde setembro. Ao cair de um patamar acima da linha divisória de 50 pontos para um patamar praticamente sobre a linha entre novembro e dezembro, o ICEI indica uma transição de um estado de confiança para um estado neutro, onde não há confiança, tampouco falta dela. Todos os componentes do ICEI recuaram em dezembro. O Índice de Condições Atuais recuou 1,8 ponto para 46,5 pontos. A avaliação dos empresários é que as condições atuais da economia brasileira estão se tornando mais negativas na comparação com o primeiro semestre e as condições atuais das empresas migraram de um patamar positivo para um patamar neutro entre novembro e dezembro. O Índice de Expectativas caiu 2,8 pontos para 51,9 pontos. As expectativas sobre os próximos seis meses da economia brasileira se tornaram mais negativas, enquanto as expectativas dos empresários acerca dos próximos seis meses de suas próprias empresas também recuaram, mas seguem positivas.
O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de dezembro de 2024, divulgado pelo IBGE na quinta-feira (12), projeta uma safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas de 314,8 milhões de toneladas para 2025, representando um aumento de 7,0% (20,5 milhões de toneladas) em relação a 2024. Esse crescimento é impulsionado principalmente pelas seguintes culturas: soja (incremento de 12,9% em comparação ao ano anterior), milho 1ª safra (aumento de 9,3%), arroz (crescimento de 6,5%) e feijão 1ª safra (alta de 29,0%). Esses dados indicam uma recuperação significativa da produção agrícola brasileira, após adversidades climáticas enfrentadas em 2024. A expansão prevista para 2025 reforça a posição do Brasil como um dos principais produtores globais de commodities agrícolas.
Nesta data o IBGE divulgou também os resultados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). Segundo a pesquisa, em outubro de 2024, as vendas no comércio varejista no Brasil variaram positivamente 0,4% na comparação com o mês anterior. Em 2024, o varejo acumula alta de 5,0% e no acumulado nos últimos 12 meses ficou em 4,4%, 25º mês seguido em que esse indicador é positivo. No comércio varejista ampliado, que inclui, além do varejo, as atividades de Veículos, motos, partes e peças, Material de construção e Atacado especializado de produtos alimentícios, bebidas e fumo, o volume de vendas cresceu 0,9% na passagem de setembro para outubro. Quanto às atividades, seis das oito apresentaram resultados positivos: Móveis e eletrodomésticos (7,5%), Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (2,7%), Tecidos, vestuário e calçados (1,7%), Combustíveis e lubrificantes (1,3%), Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,3%) e Livros, jornais, revistas e papelaria (0,3%). Por outro lado, entre setembro e outubro de 2024, dois dos oito grupamentos pesquisados mostraram queda: Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,1%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,5%).
Em outubro de 2024, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou um crescimento de 0,1% em relação a setembro, ajustado sazonalmente, acumulando uma alta de 3,4% no acumulado em 12 meses. Esse resultado superou as expectativas do mercado, que previam uma queda de 0,2%. Apesar do avanço, houve uma desaceleração em comparação com o crescimento de 0,9% observado em setembro. O índice atingiu 154,4 pontos, o maior nível da série histórica. O desempenho positivo em outubro sugere uma recuperação econômica contínua, embora em ritmo moderado. Estes dados foram divulgados pelo BCB na sexta-feira (13).
Nesse mesmo dia, a Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) divulgou o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) de dezembro, que registrou alta de 1,14%, acumulando no ano elevação de 6,61%. A principal contribuição para o resultado de dezembro veio do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-10), que subiu 1,54% no mês, após um avanço de 1,88% em novembro, acumulando alta de 7,31% no ano. Segundo o FGV IBRE, as principais commodities geram menor pressão de preços, com destaque para bovinos e milho em grão, que iniciaram um movimento de reversão das altas ocorridas nos últimos meses. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-10) apresentou leve recuo de 0,02% em dezembro, acumulando aumento de 4,11% em 2024. A queda foi influenciada principalmente pelo grupo Habitação, que registrou redução de 1,57% devido à diminuição de 6,78% na tarifa de eletricidade residencial. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-10) teve alta de 0,42% em dezembro.
Nos Estados Unidos da América
Segundo o Departamento do Trabalho, a taxa de desemprego nos EUA, em novembro de 2024, subiu para 4,2%, um aumento em relação aos 4,1% registrados em outubro. Apesar desse aumento, o mercado de trabalho continua a mostrar sinais de robustez, com a criação de 227 mil novos empregos durante o mês. Esses números indicam que, embora haja um aumento na taxa de desemprego, o mercado de trabalho ainda está se expandindo.
Em novembro de 2024, a inflação anual nos Estados Unidos subiu para 2,7%, conforme dados divulgados pelo Departamento do Trabalho. Essa elevação mantém a inflação acima da meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve (Fed). O aumento foi impulsionado por custos mais altos em setores como habitação e alimentos, enquanto os preços de energia caíram menos do que no mês anterior. Em termos mensais, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) cresceu 0,3% em novembro. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, manteve-se estável em 3,3% anual e 0,3% mensal.
O MUNDO
Gunther Rudzit
No domingo (08), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se reuniu novamente com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em Paris. Ambos foram assistir à reabertura da catedral de Notre Dame, e, por intermédio do presidente francês Emmauel Macron, se encontraram no Palácio Élysée. Após o encontro, Trump publicou na sua rede social que Kyiv gostaria de fazer um acordo para acabar com a guerra contra a Rússia. Já Zelensky publicou no Telegram, na segunda, que ele teve “um bom encontro” com Trump. Posteriormente, ele fez nova publicação afirmando que a Ucrânia já havia perdido 43.000 soldados, e 370.000 feridos, sendo que a metade teria voltado para o combate após tratamento médico. Ao que tudo indica, as negociações para, no mínimo, um cessar fogo, estão avançando.
Na segunda-feira (09), o governo de Taiwan aumentou o seu nível de alerta após o governo da China ter anunciado “reserva de espaço aéreo”, e ter destacado navios da marinha e da guarda costeira. Ao que tudo indica, Pequim começou mais um exercício militar em uma área marítima bem grande, e, mais uma vez, sem aviso prévio antecipado, elevando a tensão na região. Segundo fontes militares taiwanesas, 90 embarcações estariam perto nas águas na região a leste de Taiwan, sul das ilhas japonesas, e norte do Mar do Sul da China. Posteriormente, o governo chinês anunciou que sete “áreas temporárias reservadas” de espaço aéreo a leste das províncias de Fujian e Zhejiang, estariam efetivas até quarta feira. Este tipo de situação deve ocorrer por muito tempo, como até mesmo uma forma das forças armadas chinesas testarem o tempo de reação dos militares taiwaneses.
No mesmo dia, o comissário de serviços de imigração do ministério da justiça da Coréia do Sul, Bae Sang-up, afirmou ao Parlamento, que o presidente Yoon Suk Yeol estava proibido de deixar o país. Logo em seguida, a agência de notícias Yonhap noticiou que promotores haviam começado um processo de investigação criminal contra o presidente. A situação política do país deve continuar instável enquanto Yeoul permanecer no cargo.
Na terça-feira (10), o governo da França anunciou a retirada militar do Chad. Segundo o ministério da defesa francês, os dois últimos caças Mirage que estavam no país africano haviam pousado em uma base aérea no leste da França. A saída dos militares franceses se deu depois que o governo do Chad fez o pedido há duas semanas, o que levou o governo do Senegal também solicitar a saída das tropas francesas, que “não são combatíveis com a soberania do país”. Estas ações são parte de um sentimento anti-francês nas antigas colônias que Paris controlou, e vem coincidentemente, se assim se pode dizer, com os golpes militares em Burkina Fasso, Chad, Gabão, Guiné, Mali, Niger e Sudão, no que já se chama de “cinturão do golpe”, representando o declínio da influência francesa na região.
Na quarta-feira (11), foi noticiado que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, teria aprovado um memorando secreto sobre segurança nacional sobre China, Irã, Coréia do Norte e Rússia. O documento não é uma política que terá que ser seguida pelo governo Trump, mas pode servir como um documento que pode ajudar a próxima administração a formatar suas posturas diante do que são considerados os mais proeminentes adversários e competidores. O documento, segundo as fontes, inclui quatro recomendações: aumentar a cooperação interagências do governo americano; acelerar o compartilhamento de informação com aliados sobre os quatro adversários; calibrar o uso das sanções e outros instrumentos econômicos para a sua máxima efetividade; e reforçar a preparação para a administração de crises simultâneas envolvendo os adversários. Ainda segundo as fontes, o documento passou a ser elaborado durante o verão do hemisfério norte, e teve como intuito de deixar para as próximas lideranças uma ajuda na construção das suas capacidades de formatarem políticas para enfrentar a difícil conjuntura internacional.
Na quinta-feira (12), o secretário geral da OTAN, Mark Rutte, disse em um evento na sede da Aliança em Bruxelas, que a organização precisa mudar a sua mentalidade para um estado de guerra. Segundo Rutte, os membros da Aliança não estão gastando suficientemente para se prepararem para a ameaça de um futuro conflito com a Rússia, já que Moscou está se preparando uma confrontação de longo prazo com a Ucrânia e a OTAN. Para ele, os aliados “não estão preparados para o que está a caminho em quatro ou cinco anos”, e que “se não gastarmos mais juntos agora para evitar a guerra, nós pagaremos um preço muito, muito, muito mais alto para lutarmos”. Com certeza, este discurso serve tanto para alertar sobre a ameaça russa, quanto para tentar melhorar a percepção de Donald Trump sobre a OTAN.
No mesmo dia, o presidente da Rússia, Vladmir Putin, disse em uma entrevista que apoiava a iniciativa do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, de conseguir um cessar fogo de Natal com a Ucrânia, e uma grande troca de prisioneiros de guerra. A proposta de Orban foi feita um dia antes, mas sem oferecer detalhes de como isto seria feito, ou seja, Putin está tentando mostrar que ele quer um cessar fogo, deixando para Zelensky a imagem de contrário ao fim das hostilidades, portanto, pura propaganda.
Ainda na quinta saiu uma entrevista com o presidente eleito Donald Trump, na qual ele falou sobre diversos temas, e dentre estes, sobre o futuro da guerra entre Ucrânia e Rússia. Perguntado se ele abandonaria a Ucrânia, ele disse que quer alcançar um acordo, e, quem quer isto, não abandona. Portanto, mais uma vez, ao que tudo indica, Trump está seguindo as ideias do general da reserva Keith Kellog, indicado para assessor presidencial e enviado especial para Ucrânia e Rússia.
Na sexta-feira (13), o comandante da proteção civil do governo do cantão Vaud da Suíça, Louis-Henri Delarageaz, anunciou que o governo começará a restaurar e atualizar os abrigos públicos nucleares. Segundo ele, o orçamento de U$ 250 milhões foi aprovado em um referendo, mas que isto não significa que eles estão se preparando para uma guerra, mas que a rede de abrigos públicos precisam ser mantidos funcionais. De acordo com uma lei de 1963, cada residente do país, incluindo estrangeiros e refugiados, tem garantido um lugar nos abrigos públicos contra bombas e radiação nuclear. Se militarmente os europeus não estão preparados para uma guerra convencional, pelo menos alguns governos estão preparando suas populações para caso de um conflito ocorrer, nuclear ou não.
No mesmo dia, o Tik Tok nos Estados Unidos perdeu o recurso na corte de apelação federal no Distrito de Columbia. Com isto, resta somente a instância da Suprema Corte, e o prazo está curto, uma vez que a legislação obriga a ByteDance a vender a empresa até o dia 19 de janeiro. A possibilidade da empresa ganhar na última instância é muito baixa.
Ainda na sexta, o presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou Francois Bayrou como o novo primeiro-ministro. Bayrou é um político de centro, que já foi candidato a presidente por três vezes, e, por isto mesmo, terá as mesmas dificuldades que Michel Barnier, ou seja, um Parlamento sem nenhum grupo com maioria, e polarizado. A tarefa de aprovação do novo orçamento será quase impossível, o que pode levar a França a uma crise política mais profunda e que pode começar a afetar a economia.
No sábado (14), o Parlamento da Coréia do Sul aprovou o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol. A votação final foi de 204 a favor dos 300 representantes, o que indica que membros do partido do presidente votaram com a oposição, que controla somente 192 cadeiras. Agora Yeol será afastado enquanto a Corte Constitucional decide se a decisão é legítima ou não, o que pode durar até 6 meses. Tendo em vista que a Corte não está com a sua composição completa, e, Yeol tem formação em Direito, e já disse que lutará até o fim para manter seu direito, a previsão é de que a batalha jurídica não será fácil. Portanto, a crise política não tem prazo para terminar.
No mesmo dia, o Parlamento da Geórgia elegeu Mikheil Kavelashvili como o novo presidente do país. O partido Sonho Georgiano que tem maioria decidiu pela nomeação do ex-jogador de futebol, com um discurso anti-ocidental e que compartilha de visões conspiratórias. Antes mesmo da sessão do começar, do lado de fora do Parlamento centenas de pessoas já estavam protestando contra a decisão, já que a maioria apoia a integração da Geórgia à Europa, e o partido governista é contra. Junto com a Moldávia, a Geórgia é o novo front de batalha entre Ocidente e Rússia.
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ARTIGO DA SEMANA
PIB Brasileiro Cresce, Mas Desafios Estruturais Persistem
Otto Nogami
No terceiro trimestre de 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil apresentou um crescimento de 0,9% em relação ao trimestre anterior, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse resultado, embora positivo, reflete uma desaceleração em relação ao crescimento de 1,4% registrado no segundo trimestre do mesmo ano. Na comparação com o mesmo período de 2023, o PIB avançou 4,0%, reforçando a recuperação econômica após os impactos severos da pandemia e das turbulências econômicas globais observadas nos últimos anos.
Pela ótica da oferta, o setor de serviços continuou sendo o principal motor de crescimento, com expansão de 0,9%. Esse segmento responde por cerca de 70% do PIB nacional, o que evidencia a dependência estrutural do Brasil em atividades de comércio, transportes e serviços financeiros. Dentro dessa categoria, destacaram-se os setores de informação e comunicação, atividades imobiliárias e serviços de transporte, impulsionados pelo aumento do consumo interno e pelo fortalecimento das cadeias de suprimentos. A indústria registrou um avanço mais modesto, de 0,6%, enquanto a agropecuária recuou 0,9%, influenciada por safras menores de produtos como milho e laranja, prejudicadas por condições climáticas adversas.
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias cresceu 1,5%, impulsionado pela recuperação do mercado de trabalho e pela liberação de programas de auxílio governamental. A Formação Bruta de Capital Fixo, que mede os investimentos na economia, avançou 2,1%, destacando uma retomada de investimentos privados, especialmente nos setores de infraestrutura e construção civil. Por outro lado, o setor externo apresentou desempenho misto: as exportações de bens e serviços caíram 0,6%, enquanto as importações cresceram 1,0%, refletindo a apreciação do real e o aumento das compras externas de insumos industriais.
No acumulado dos últimos 12 meses, o PIB registrou um crescimento de 3,1%, destacando-se como um dos melhores desempenhos dos últimos cinco anos. Entretanto, apesar desses resultados positivos, uma análise crítica revela vulnerabilidades estruturais que podem comprometer o crescimento sustentável da economia brasileira nos próximos anos.
Um dos principais pontos de preocupação é a fragilidade fiscal do país. Embora o governo tenha registrado superávits primários nos últimos meses, o aumento das despesas obrigatórias, como pagamentos de aposentadorias e programas sociais, pressiona as contas públicas. A dívida pública bruta permanece elevada, ultrapassando 80% do PIB, limitando a capacidade do governo de realizar investimentos produtivos. A ausência de uma reforma tributária ampla também compromete a eficiência econômica e reduz a competitividade do setor produtivo.
Outro fator de risco está relacionado à dependência excessiva do setor de serviços e da exportação de commodities. Embora o Brasil tenha uma base agrícola e mineral robusta, sua pauta exportadora continua concentrada em produtos de baixo valor agregado, como soja, minério de ferro e petróleo. A vulnerabilidade a choques externos, como a desaceleração econômica da China e a volatilidade dos preços das commodities, torna o crescimento econômico incerto.
A questão da produtividade também é uma limitação estrutural. O Brasil ainda apresenta baixa competitividade internacional devido à falta de infraestrutura adequada, investimentos insuficientes em tecnologia e inovação e um sistema educacional que não atende às demandas do mercado. A taxa de investimento, embora tenha subido para 17,6% do PIB no terceiro trimestre, ainda está aquém do necessário para sustentar um crescimento robusto e contínuo.
Adicionalmente, a política monetária restritiva imposta pelo Banco Central, com a taxa Selic em 12,25% ao ano, representa um desafio para o crescimento econômico. Embora a medida seja necessária para conter a inflação, ela eleva os custos de financiamento e restringe o consumo e o investimento privado. A manutenção de juros elevados por um período prolongado pode gerar um cenário de estagnação econômica em um futuro próximo.
Outro ponto crítico é a instabilidade política, que afeta a confiança dos investidores e a previsibilidade das políticas econômicas. Reformas estruturais essenciais, como a administrativa e a tributária, têm enfrentado resistência no Congresso, comprometendo a agenda econômica de longo prazo. A polarização política e a proximidade das eleições presidenciais de 2026 também podem gerar volatilidade nos mercados financeiros e na condução das políticas públicas.
Por fim, o cenário externo apresenta riscos significativos. A possibilidade de recessão nas principais economias globais, como Estados Unidos e União Europeia, e a continuidade das tensões geopolíticas podem prejudicar o comércio internacional e reduzir a demanda por produtos brasileiros. Além disso, o aumento das taxas de juros nos mercados internacionais pode gerar fuga de capitais e desvalorização cambial, pressionando a inflação interna.
Em síntese, embora o desempenho econômico brasileiro no terceiro trimestre de 2024 seja encorajador, os desafios estruturais permanecem significativos. A superação dessas vulnerabilidades depende de uma agenda econômica abrangente que inclua reformas fiscais e tributárias, aumento dos investimentos em infraestrutura e inovação, fortalecimento das instituições públicas e maior integração do Brasil nas cadeias globais de valor. Apenas com uma abordagem estruturada será possível garantir um crescimento econômico sustentável e inclusivo nos próximos anos.
O MERCADO
A ECONOMIA
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Gerente de Prevenção a Fraudes na Porto Seguro | MBA Executivo
3 semÓtimo conselho
ENGENHEIRO COMERCIAL E INFRAESTRUTURA
3 semObrigado Otto Nogami.
Executivo de Marketing, Comercial, Varejo e Franquias
3 semÉ como beber água de hidrante. Obrigado.
Managing Director
3 semPor dias melhores 🙏🏻 tenhamos fé! Obrigada pelo boletim Otto Nogami