Náufragos e Sôfregos
É um pesadelo!
Enquanto o mundo avança em alta velocidade rumo a novos paradigmas definidos por inteligência artificial e biotecnologia, nosso país permanece arraigado a usos e costumes provincianos definidos pelo voracidade inescrupulosa de políticos, empresários e jornalistas.
Em um regime democrático, acredita-se, o equilíbrio entre os Três Poderes é essencial, enquanto a liberdade de imprensa posiciona-se como pilar fundamental e a caserna militar define as fronteiras de atuação das Forças Armadas. Todos a serviço da população e das empresas. Mais recentemente, sem julgamento de valor sobre a qualidade/utilidade de conteúdo, as mídias sociais impuseram-se à própria imprensa livre como último bastião da verdade acessível a todos os cidadãos.
Entretanto, jogos de interesses estiveram, estão e sempre estarão em pauta nos bastidores. Fernandinho Beira-Mar continua a comandar facções criminosas a partir do presídio Bangu1, assim como Marcelo Odebrecht continua operando em Curitiba, Michel Temer no Jaburu, Aécio Neves na Pampulha, Joesley em Nova York, Eike no Rio de Janeiro e Lula em São Bernardo do Campo.
O velho regime político de coalizões já nasceu amorfo e acéfalo desde Marechal Deodoro, desde então míope em seu emaranhado de alianças políticas espúrias. O Senado está repleto de velhas raposas, enquanto a Câmara de Deputados abriga várias mentes criminosas e incapazes. A pauta produtiva e institucional fica em segundo plano diante do mercado de peixes que se tornou nosso Congresso Nacional, com tabela de preços para emendas constitucionais, projetos de lei, isenção de impostos e informações confidenciais.
Estamos há tempos nessas operações midiáticas da Polícia Federal, do Ministério Público e da Procuradoria Geral da União, com vários avanços na prisão de bandidos e na recuperação parcial do erário roubado. Não obstante, a incompetência coletiva desses, combinada com a leniência e letargia do STF, mantém Lula ainda livre, mesmo diante da obviedade retumbante sobre sua conduta maléfica e corrupta. Assistimos incrédulos o impeachment negociado em feira livre da incompetente Dilma, e o recente afastamento do seu rival tucano Aécio. E agora ainda estamos buscando compreender porque um Presidente da República recebe um empresário notadamente envolvido e investigado por esses mesmos órgãos federativos em sua sala de estar.
Nessa bolsa de valores mórbidos, bilhões e milhões de reais são tratados com total naturalidade por verdadeiros sociopatas, insensíveis a respeito das mazelas de milhões de miseráveis, milhões de famílias desempregadas, milhões de empresários sérios e milhões de crianças, cujo futuro já está comprometido.
Tudo é tão surreal, que delator arbitra moedas e ações no mercado de capitais, enquanto imprensa vaza áudios, posteriormente questionados por perícia. Empresário-bandido (ou, melhor, Bandido-empresário) frequenta salas palacianas, exibindo procuradores e juízes que carrega nos bolsos. Ex-Presidente indiciado sobe em palanques com seus fantoches, enquanto Senadores mendigam dinheiro em troca de tráfego de influência. Juízes da Suprema Corte são frequentemente citados e implicados na penumbra das negociatas e bravatas.
Estamos aqui tratando de lideranças políticas que perderam completamente seus direitos de imunidade ou respeitabilidade. Enquanto nossas perspectivas de longo prazo ainda dependem de esperanças depositadas em bases frágeis, nossas ações de curto prazo deveriam estar pautadas pelo encarceramento incondicional de todos os atores envolvidos, sem os subterfúgios ancorados nos vícios e brechas de nossa malfadada Constituição.
Lamento profundamente investir meu tempo nessa temática retrógrada e infrutífera. Mas, como empresário brasileiro, responsável pelo emprego de dezenas de famílias, não posso me abster do posicionamento claro contra tudo que esse contexto representa contra integridade, cidadania e orgulho nacional.
Ainda vale a pena sonhar! Vamos em frente!
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Daniel Augusto Motta é Doutor em Economia pela USP, Mestre em Economia pela FGV-EAESP e Bacharel em Economia pela USP. É Sócio e Presidente Executivo da BMI Blue Management Institute. É Membro-Fundador da Sociedade Brasileira de Finanças. É Membro do World’s Most Ethical Companies Advisory Panel. É Conselheiro Consultivo da Layer2 Network. É membro da FNQ Fundação Nacional da Qualidade. Foi Professor de Pós-Graduação pela, Fundação Dom Cabral, Insper, FGV, ESPM e PUC-SP. É autor de diversos artigos publicados pelos jornais Valor Econômico e Folha de São Paulo, e também tem três artigos publicados pela Harvard Business Review Brasil. É também voluntário da UNIBES. É autor do livro A Liderança Essencial.
Business Development Leader * General Management * Data Driven Journey and Digital Transformation Advisor * Strategic Planner * Sales and Marketing * Global Experience * Sloan Fellow
7 aMuito bem traduzida a situação Daniel. Mas a questão é, como virar o jogo? Só consigo ver o tripé: educação, trabalho e tempo como solução... mas quanto tempo? Quando chegará finalmente o futuro do dito país do futuro? Uma coisa é certa, nossa única chance é irmos "todos pro campo" e encontrarmos alguma forma de darmos nossa contribuição. Com maturidade, inteligência e sem polarização boba que é perda de tempo.