Não acredite (cegamente) nas notas da escola
“Como assim, não acredite nas notas da escola? Os mais inteligentes e capacitados obtém as melhores notas, e os menos favorecidos intelectualmente enfrentam dificuldades de aprendizagem e tiram as piores notas da classe. Os primeiros serão adultos vencedores e os demais serão fracassados”.
Se você acredita nessa narrativa, repense... Esse é o entendimento que o sistema quer que você aceite e tome como uma verdade.
Nas escolas, a percepção de inteligência dos alunos é medida pela capacidade dos mesmos de compreender as descobertas do passado, feitas por terceiros. Ou seja, em nenhum momento desse processo de ensino, os estudantes assumem qualquer protagonismo, muito pelo contrário: devem se manter resignados para preservar a ordem do sistema. Sabem mais aqueles que entendem melhor das obras alheias do passado, do que o presente deles próprios. Aliás, tanto o presente é ignorado (as novas ciências, por exemplo), como também a inteligência individual de cada aluno.
Um cenário de alienação
As crianças e os adolescentes são obrigadas a aprenderem uma parcela de conteúdo inútil, que nunca irão utilizar na vida adulta e que apenas contribui para aliená-las de descobrir os seus próprios talentos, estes sim, transformadores de vidas. Gastam 5 horas do dia sentados, resignados, entediados, tendo que copiar muito conteúdo inútil da lousa e ouvir um monólogo transmitir informações. E boa parte desse conteúdo é efêmero e irrelevante, cujo foco é adestrar os alunos para que sejam seguidores de regras.
Se os jovens estudantes falam ou interagem entre si durante as aulas, são repreendidos e punidos. Não há autonomia para nada, seja intelecto ou fisicamente falando. Nenhuma liberdade. Apenas a obediência integral aos seus superiores.
O resultado desse processo infame é a prevalência de uma equivocada percepção social de alta inteligência e baixa inteligência. A capacidade intelectual não pode ser medida simples e levianamente ancorada em respostas de múltipla-escolha, decoreba e memorização. Este constitui apenas uma parte do aspecto inteligível no cérebro. A capacidade de imaginação e criatividade, tal como crítica e retórica, estas sim as maiores potencialidades a caracterizar a dimensão intelectual do indivíduo, são absolutamente ignoradas, negligenciadas e suprimidas.
A era industrial na era digital
A escola nada mais é do que um experimento social embasado na lógica industrial, conduzido por adultos robotizados, cujo objetivo é garantir a manutenção do sistema, mediante o adestramento das mentes jovens. Alguns mais radicais argumentariam que há um processo metafórico de lobotomia nas escolas.
Lobotomia é uma técnica de intervenção psicológica-cirúrgica feita no cérebro, que consiste na retirada total ou parcial dos lóbulos cerebrais. Tal procedimento era feito em pacientes que sofriam de graves distúrbios psiquiátricos, como esquizofrenia e depressões profundas, por exemplo.
No contexto da escola, em sentido figurado, a lobotomia é perpetrada no sentido de estupidificar e embrutecer os jovens em relação a si próprios, isso é: ao conhecimento interior, a descobertas, competências ocultas, habilidades e dons latentes.
O mundo evoluiu muito nos últimos 100 anos. Já não faz mais nenhum sentido formar cidadãos objetificados dentro da linha de montagem da fábrica industrial. Os tempos são outros. As escolas disruptivas e amplamente sintonizadas com a era atual irão embasar a educação em atividades e processos personalizados de ensino, alicerçados no talento e nas capacidades individuais latentes em cada um.
Com o advento das novas tecnologias e meios interativos da era digital, através de um smartphone, notebook ou tablet, um jovem pode aprender numa playlist de 12 horas no Youtube, o conteúdo escolar ministrado por anos. Por que ele se motivaria a ir para a escola, quando ele pode, via web, aprender tudo o que lá é ensinado, porém, com muito mais conforto, liberdade e autonomia, numa experiência personalizada?
A internet, por sinal, escancarou o quanto as escolas se mostram um sistema de ensino obsoleto, insuficiente e muito distante de ser a melhor forma de educar jovens. A era da internet possibilita que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, em qualquer idade, a qualquer momento, possa ter acesso a informação recente, vasta e variada sobre qualquer tema e muito mais detalhada do que na escola.
O melhor sistema de ensino é aquele em que a pessoa tem pleno controle sobre o que deseja e deve aprender para o seu progresso – intelectual, profissional e moral – , alicerçados por tecnologias de ponta e assistido por um mentor.
Conflitos inadministráveis
Uma outra questão que afeta profundamente o desempenho escolar do aluno é a diversidade de fatores sociais, psicológicos e cognitivos dentro das salas de aula.
São colocados na mesma classe, alunos com diferentes perfis cognitivos, psicológicos e intelectuais, o que inevitavelmente cria margem para evidenciar as diferenças. E isso ocorre por comportamentos hostis e debochados a qualquer característica física e comportamental do aluno que denote um aspecto incomum diante do todo, que poderá sofrer bullying por anos. Isso pode contribuir para uma baixa auto-estima, justamente numa fase da vida em que estão sendo formadas a identidade, o caráter e a auto-percepção.
A conseqüência, dentre todos esses fatores, são notas ruins, irregulares e uma interpretação equivocada do aluno acerca da própria inteligência baseada nessas notas. Tome nota: a inteligência é uma virtude infinita e impossível de ser quantificada tão levianamente, sem considerar outras potencialidades, como: criatividade, aptidão de observação, habilidades manuais, nos esportes, liderança, aptidão empreendedora e dons artísticos, por exemplo.
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Repare como os alunos mais destacados são tratados: os melhores nos esportes, nas disciplinas gerais e os mais extrovertidos, e compare com aqueles que não se destacam em nada. Fica muito explícito o quanto os tipos comuns são marginalizados, seja pelos colegas destacados ou pelos próprios professores.
Os alunos não são estimulados a agir, apenas reagir diante do regime estatuário imposto pelos educadores, sem espaço para questionamentos, sem tentativa de alçar voo próprio ou território para se auto-descobrir.
Igualdade entre os diferentes
Portanto, não há nenhuma lógica, nenhuma sensatez em acreditar que as notas da escola são definitivamente o melhor instrumento a indicar os melhores e os piores. E outra: a sociedade afirma que somos todos iguais, mas nas escolas fica muito evidente que essa crença é uma grande falácia. A lógica ali é a seguinte: as pessoas devem ser iguais umas às outras, no que tange a obediência e a submissão ao sistema. Contudo, para a vida, louvam os mais capazes e “inteligentes”, de acordo com o histórico escolar.
As notas apenas mostram a proficiência do aluno em se adequar a um modelo padronizado, previsível, estático e efêmero, que ensina a obediência e a subserviência às regras do sistema.
Agora vem a parte mais polêmica do artigo: vários nerds não se tornarão profissionais extraordinários. Alguns daqueles considerados medíocres, serão profissionais extremamente bem sucedidos. Os rebeldes serão desconhecidos. Vários isolados se transformarão em extrovertidos. Os quietos poderão ser escritores e cientistas... Enfim, as mais inimagináveis reviravoltas ocorrerão no decorrer de suas vidas.
E sabe por que isso acontece? Porque as escolas suprimem o poder latente que cada um de nós carrega dentro de si, de forma que somente descobrimos nossos talentos interiores (ou talvez nunca descobriremos), mais tarde, fora da escola.
Cultura Maker
A cultura maker é embasada na ideia de que as pessoas podem criar, fabricar os mais variados tipos de objetos e funções com as próprias mãos, alicerçado num ambiente de colaboração e compartilhamento entre grupos e pessoas. A filosofia maker (criador/construtor) traz laboratórios de fabricação, onde estão acessíveis ferramentas e máquinas, como impressoras 3D, cortadoras a laser, equipamentos para trabalhar a eletrônica. Mas não se trata de apenas impor uma atividade lúdica aos alunos. A cultura maker traz muito mais potencial do que se possa imaginar em um primeiro momento.
A tecnologia vem modificando profundamente as relações do ser humano para com o mundo. E a cultura maker é essencialmente baseada no faça você mesmo (do it yourself), mão na massa (hands-on) nos laboratórios de fábrica (FabLab). Tal cultura, uma vez consolidada nas escolas públicas e privadas, traria um ganho absurdamente elevado na velocidade de aprendizagem dos alunos. Além disso, consegue trabalhar o raciocínio lógico, a criatividade e o desenvolvimento de diferentes habilidades. Esse processo seria determinante para expandir o desempenho escolar e a capacidade de formação de adultos incrivelmente mais capacitados que as gerações atuais.
Aplicadas nas escolas, integralmente, a cultura maker poderia transformar o modo em como se enxerga as próprias escolas e os alunos certamente ficariam muito mais motivados e interessados em participar das aulas. Porque estamos falando de um modelo de aprendizagem dinâmica, em que o próprio jovem seria o co-autor de seu desenvolvimento intelectual e criativo.
Descompasso com a realidade
A vida adulta no mundo real é completamente diferente da realidade forjada intramuros escolares. No seu dia a dia do trabalho, você não vai fazer provas e obter notas em cima disso, vai ter de entregar resultados. Na hora de conduzir uma reunião, não lhe será atribuído uma prova escrita, terá de trabalhar a capacidade argumentativa. Se fundar uma empresa, vai ter de aprender as virtudes da liderança e da negociação. Quando você conhecer seu namorado/namorada, não vai fazer uma prova e receber uma nota, vai ter de demonstrar atitude e alguma habilidade social. Para aprender uma nova habilidade, competência ou profissão, a postura ativa de estudo, leituras, treinos e projetos criados é o que lhe tornará um ótimo profissional, não a exposição de decorebas e notas. Quando for aprender a tocar um instrumento musical ou a cantar, terá de praticar muito. A vida sempre exige a prática, pois toda forma de teoria foi originada de uma bem-sucedida experiência em campo, documentada em livros. Foi assim com todo o conhecimento adquirido a fundamentar os saberes na matemática, física, química, biologia, geografia e outras disciplinas utilizadas para sobrecarregar o cérebro jovem e em desenvolvimento dos alunos. E mais: é na prática de atividades diversas que muitas vezes descobrimos nossas aptidões, preferências e inclinações, fato totalmente ignorado pelas escolas.
As escolas não preparam ou pelo menos não apresentam os amplos desafios, inúmeras variáveis e a mentalidade para lidar com as extensas complexidades trazidas pela vida adulta. Em vez disso, a escola ensina o conforto do conformismo de fazer não o que se intenta, mas o que é mandado; a escola doutrina para a teoria e atropela o fato de que a prática é o que formata uma vida e constrói toda forma de experiência, realização e conquistas. A prática ensina tanto o sucesso quanto o não-sucesso, mas, em ambos se obtém um ativo: o aprendizado que conduz ao progresso.
O que as notas da escola mostram
O que as notas da escola não mostram
Não acredite cegamente nas notas da escola, pois há muito mais de você que o mundo não conhece e que vai muito além dos uniformes, lousas e boletins.
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10 mÓtimo artigo, Pedro. Me fez refletir sobre o modelo de educação ainda mantido por várias instituições. No entanto, é importante destacar que algumas escolas no Brasil já adotam a filosofia Maker, e que há uma mudança gradual nesse cenário. Laboratórios de Maker, empreendedorismo e STEM já não são coisas do passado.