Não estude/trabalhe assim

Não estude/trabalhe assim

Isso é sobre saúde.

Há alguns dias eu compartilhei um texto sobre inteligência emocional. É uma entrevista na qual o pesquisador que trabalha com o assunto explica como a saúde de qualquer pessoa passa inquestionavelmente pela capacidade de conhecer e identificar sentimentos em si e nos outros. Ele fala sobre os benefícios de desenvolver essa competência e dos problemas que pessoas com baixa inteligência emocional podem ter em todas as áreas da sua vida, inclusive sintomas físicos. É um texto que não se dirige diretamente a um público específico pois é algo que todas as pessoas precisam cuidar, como higiene e outras necessidades básicas.

Esse assunto me interessa muito principalmente por ver como estudantes, profissionais autônomos e de áreas de criação (não apenas artistas, mas publicitários, jornalistas, programadores e outros) parecem apresentar frequentemente sintomas de estresse e síndrome de burnout. Percebo isso em amigos, colegas, clientes e, inclusive, passei por momentos bastante complicados nos quais parecia fazer sentido me destruir trabalhando para perceber algum valor no que eu fazia uma vez que o retorno em forma de reconhecimento e dinheiro não eram suficientes. Era como se, ao virar noites trabalhando e não me permitir descanso, interações sociais saudáveis e boa alimentação, eu estivesse me punindo por algo que eu estava fazendo de errado que eu nem sabia o que era e que me impedia de ter o sucesso que eu buscava.

Há não muito mais de um ano e meio procurei prestar mais atenção aos meus hábitos e rotinas para encontrar pontos de mudança em todas as áreas da minha vida que me fizessem sentir melhor. Isso significou descobrir que sou uma pessoa diurna, por exemplo. Meu dia costuma se encerrar à meia-noite, e para estar pronto para descansar comecei a encerrar o trabalho por volta das 18h. Passou a sobrar tempo pra arrumar a casa, fazer uma refeição com calma e... RESPIRAR!

Dias convencionais passaram a começar no ritmo mais confortável para mim: acordar entre 6h30 e 7h30, sair da cama entre 7h e 8h para tomar um café e começar a trabalhar entre 7h45 e 8h45. O objetivo é estar sentado em frente ao computador no máximo às 9h já bem desperto para render bastante até o meio-dia. Então, parada para almoço. E após comida, retomar atividades. Percebam que, apesar de acordar cedo eu encontrei um ritmo que me permite despertar bem antes de começar a trabalhar. Os finais de semana, a menos que tenham algum serviço ou cliente marcado, são para descanso, lazer e família.

Isso não quer dizer que não haja sacrifícios ou fases mais puxadas. Apesar de raramente virar a noite em trabalho, posso comprimir bastante o tempo do descanso e preencher os finais de semana com trabalho caso seja necessário. O ponto importante que vejo é que esses movimentos são sempre objetivos e planejados, visando um retorno quase imediato como a entrega emergencial de um trabalho específico. Não se tornam regimes de serviço.

O empresário Gary Vaynerchuk comenta neste vídeo que o critério para os regimes de trabalho devem ser determinados pela própria pessoa com atenção na sua saúde e na percepção daqueles com quem convive e tem intimidade diária como a família: "se você e sua família estão bem com isso, você está certo"! O objetivo é estar bem e saudável para si mesmo e para os outros com quem convivemos.

Essa reflexão é pra lembrar que encontrar uma maneira de funcionar bem com o seu fluxo de trabalho é fundamental para manter a qualidade do serviço e a qualidade de vida. Nenhum serviço vale a saúde e os sorrisos que se perde.

*Ainda sobre bem-estar em profissionais autônomos e criativos, dia 29/06/2019 estarem no Espaço Fora da Asa (Porto Alegre - BR) conversando com a psicóloga Maiara Luvizon sobre saúde mental e emocional em profissionais liberais e criativos. Entrada livre e gratuita.

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