Não há felicidade sem tristeza

Não há felicidade sem tristeza

Frederik Nietzsche acreditava que o sofrimento não deveria ser rejeitado, pois, segundo o filósofo, ele consistiria em fonte de crescimento humano. Assim, em vez de rejeitá-lo, deveríamos acolhê-lo e utilizá-lo como ferramenta para o aprendizado.

A busca constante pelo prazer e a satisfação, e a consequente rejeição da dor e do sofrimento, nos move em direção a um ideal de felicidade, um sentimento passageiro, lampejos de momentos alegres guardados e valorizados em nossas memórias. Tal felicidade só pode ser percebida e apreciada quando a contrastamos com experiências tristes. Após vários dias chuvosos, por exemplo, valorizamos muito mais um dia ensolarado, e vice-versa. Sem a possibilidade de comparação com a desventura, portanto, perderíamos a noção de felicidade, uma vez que ambas se complementam.

Quando nos deparamos com o sofrimento, em vez de acolhê-lo, de observá-lo, de aprender com ele, nós fugimos. Nós adotamos um estilo de vida que faz com que tentemos escapar da realidade, com que busquemos nos anestesiar comprando o que não precisamos, frequentando festas sem vontade e ingerindo álcool e medicamentos que prometam desfazer a química da tristeza.

Em lugar de rejeitarmos a dor, devemos aprender com ela para, então, superá-la. Não existe um caminho que seja totalmente livre de infelicidade. Quando ela surge, seja em decorrência de uma perda ou de um fracasso, precisamos vivenciá-la e suplantá-la. Devemos mudar a essência do sofrimento de dor para aprendizado. A superação da dor, e não a fuga, leva à felicidade.

Nietzsche dizia que, diante de um problema, devemos nos espelhar nos jardineiros. Eles frequentemente se deparam com plantas que têm raízes feias, mas, delas, são capazes de cultivar algo que, apesar de, a princípio, parecer tosco, logo revela a beleza natural da planta, com suas folhas e flores. Para o pensador, essa é a metáfora que deveríamos seguir nas nossas vidas. De situações que nos parecem horríveis, deveríamos fazer nascer algo belo. Há, por conseguinte, algo de animador na comparação feita por Nietzsche: mesmos nossos sentimentos mais vis e negativos podem dar maravilhosos frutos se bem cultivados. Isso só depende de nós mesmos. A inveja, por exemplo, pode gerar amargura, mas, se conduzida do jeito certo, pode também nos estimular a produzir, a partir da disputa com um rival, algo bom para nós mesmos. A ansiedade, por sua vez, pode tanto nos deixar em pânico como nos levar a uma análise do que está errado, produzindo, assim, paz de espírito. É por isso que Nietzsche deseja o infortúnio a seus amigos, por acreditar que as dificuldades são um mal imperativo e que, se cultivadas com a aptidão adequada, podem levar à criação de coisas admiráveis.

No entanto, mesmo que reconheçamos a importância da dor para o desenvolvimento humano, a vida não deve ser um tormento. Devemos superar o tormento com o auxílio daquilo que nos traga tranquilidade e paz de espírito. Com isso nos aperfeiçoamos dia após dia, mas não de maneira perfeccionista: somos todos imperfeitos e assumir isso nos torna humildes. Pessoas perfeccionistas passam muito tempo observando erros e culpando a si mesmas e aos outros e, por isso, comumente perdem o controle quando têm suas falhas apontadas. Assumir que somos imperfeitos nos dá a consciência de que precisamos estar sempre em busca de aprimoramento, já que todo erro nos ensina que é sempre possível fazer melhor. Mais importante do que buscar a perfeição, portanto, é almejar o aprimoramento, ou seja, o fazer melhor.

Nesse sentido, ter uma razão para viver é fundamental. Quando perdemos nossos objetivos de vida, o cansaço e a desorientação nos dominam. Nesta situação, somos frequentemente dominados pela sensação de que trabalhamos muito para nada. É importante ter uma meta clara, algo que dê sentido à nossa vida tanto nos bons momentos quanto nos maus, e que nos ajude a levantar da cama todos os dias.

O primeiro passo para se ter essa consciência é pensar: “Qual a vida que se quer viver?”, “Onde se quer chegar?” Nossas metas não precisam ser excepcionais ou impressionar os outros. O importante é que façam sentido para nós mesmos e que sejam claras. A maioria das pessoas são infelizes por não pensar na vida que gostariam de ter e, consequentemente, não transformar isso em uma meta. Se temos uma razão para viver, todos os nossos esforços deixam de ser penosos e cansativos e se tornam apenas passos necessários para alcançarmos os nossos objetivos.

Luciana Lopes

Gestão de projetos | Comunicação Digital | Publicidade & Propaganda | Educação Corporativa | Designer Instrucional

4 a

Eita, desafio lançado.

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