Não vim trazer a paz, mas a espada

“Pois o próprio de todo projeto emancipador, de toda emergência de uma possibilidade inaudita, é dividir consciências. De fato, como poderiam o incalculável de uma verdade, sua novidade e o buraco que ela abre nos saberes estabelecidos se inscrever numa situação sem encontrar ali adversários resolutos? Precisamente porque uma verdade, em sua invenção, é a única coisa que será para todos e não se efetua realmente senão contra as opiniões dominantes, aquelas que sempre trabalham não para todos, mas para alguns.”
(BADIOU, 1993, p. 41)

Um dos maiores equívocos filosóficos: a verdade é um consenso. A verdade é para todos, mas não é um consenso. Toda verdade, quando se manifesta em seu acontecimento, se impõe a todos, mas estabelece divisões. A verdade não traz a paz, e sim a espada.

A epidemia do coronavírus é uma verdade e, por esse motivo, se impõe a todos. Contudo, esse acontecimento e todas as orientações divulgadas por especialistas no assunto não se tornaram um consenso. Há quem negue, há quem se desespere, há quem reconheça a existência da verdade, mas em outro lugar (como na economia, por exemplo).

Nunca na história da humanidade uma verdade foi tão universal. Alguns acreditavam que a verdade seria o retorno de um messias, a chegada de alienígenas, o aumento da riqueza material. Mas a verdade veio invisível e nos desperta para aquilo que pretendíamos manter invisível. Nem por isso a verdade é menos avassaladora.

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