Na busca de culpados.
Olhando os tweets da manhã pós expulsão do ex deputado Eduardo Cunha, me dou conta de como a realidade brasileira é desconhecida fora das bordas. A maioria dos grandes jornais coloca uma espécie de culpa sobre Eduardo Cunha por ter presidido o processo de impedimento da ex presidente Dilma.
Não sou pró um, ou contra outro.
Eduardo Cunha fez sim campanha contra a ex presidente, mas não foi quem confeccionou, elaborou, redigiu a denúncia. Essa vieram de partidos políticos de oposição através de profissionais, advogados, que apresentaram e defenderam, durante todo o processo, a denúncia feita dentro das razões constitucionalmente exigidas como fundamento para o pedido.
Foram aceitas pelo presidente da Câmara que poderia ser qualquer um dos deputados que compõe a casa, mas era Eduardo Cunha quem exercia o cargo até então.
De outro lado, tirando o congresso nacional da questão, instigado por uma situação social e econômica caótica, com empresas demitindo, dinheiro escasso, e muitas outras razões, a sociedade brasileira, ou grande parte dela, foi as ruas apoiar o pedido de impedimento. Havia razões políticas para tanto, mas também havia razões sociais que demandavam uma atitude do congresso nacional.
Com certeza, o processo de impedimento do presidente, embora previsto na Constituição, não é um processo jurídico normalmente. No caso do impedimento da presidente, no entanto, não foi apenas político, como deveria ser, mas tomou as feições e praticamente seguiu as regras de qualquer processo judicial sendo, inclusive, em sua parte final, presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal como determina a Constituição. No entanto a parte judicial do processo termina aqui, o que prevalece no julgamento do congresso não são as razões jurídicas, muito faladas, mas de menor importância, o que determina o resultado são as questões político partidárias. A questão é, a meu ver, que a imprensa internacional parece, ou faz de conta, desconhecer toda a realidade de uma nação que vem sendo causada por um congresso incompetente, e por um governo que falhou deploravelmente na gestão dos interesses públicos. Não havia mais sustentação política para que a presidente afastada continuasse a exercer suas funções com um mínimo de possibilidade de fazer valer seu programa. Havia uma oposição mais preocupada em fazer valer seus próprios interesses do que os daqueles por quem foram eleitos.
Não há governo que resista ao caos econômico e social, um governo que entende que sua principal meta é fazer caridade dentro e fora de suas fronteiras, e um congresso que não se preocupa em olhar para suas bases e fundamenta seus trabalhos apenas focado nas próximas eleições.
Ainda que Eduardo Cunha tenha sido o pivô para o processo de impedimento, através de suas articulações políticas, foi o próprio governo quem deu as razões e os fatos para que o processo fosse instaurado e levado adiante.
O que não se pode ignorar, e a imprensa nacional e internacional menos ainda se pretende ser isenta, que a questão primordial que restou de todo o processo, e que começou muito antes dele, foi o mergulho vertiginoso do pais em um caos econômico e social.
Não se pode apontar um só culpado, quando todo o sistema está corrompido e tem interesses próprios que estão muito longe daqueles que deveriam nortear tanto o congresso nacional como o poder executivo.
Se com Temer sera diferente, não sei. Alguns setores da economia dão sinais de que sim, outros permanecem na expectativa por maiores sinais de mudanças. Mas isso não depende só do executivo, depende em muito do que fará o congresso nacional a partir de agora sem Cunha e sem Dilma.
Se não for feito um pacto no sentido de reverter a situação socioeconômica, continuaremos em queda livre. E, nesse pacto não se pode excluir a sociedade. Ou todos trabalham em um só sentido, ou vamos continuar, no mínimo, no mesmo lugar. E infelizmente é o que se tem visto no cenário político e social ultimamente.