Nada nos une, tudo nos separa
O domingo posterior a eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Rússia parecia ter tudo para ser apenas um momento de ressaca desportiva. Contudo, em meio a uma série de notícias globais, com maior ou menor apelo, surgiu a decisão judicial que dava liberdade ao ex-presidente Lula da Silva. Subitamente, como que em um filme de Woody Allen, um exército de jornalistas, analistas, curiosos e oportunistas iniciaram uma série de ilações acerca de qual seria o destino do ex-mandatário nacional e de suas implicações sobre a corrida eleitoral.
Diante de uma série de reflexões expostas durante o correr do dia, algo chamou atenção deste que vos escreve. Há algum tempo a sociedade brasileira tem, gradativamente, se afastado de qualquer consenso mínimo sobre assuntos socialmente relevantes. Isso fez com que uma postura de agressividade e polarização emergisse diante de um cenário político de dúvidas e incertezas. Mas Lula não é a causa exclusiva deste processo, é também alvo e produto de uma sociedade que parece se esforçar para fracassar na jornada de consolidação do jogo democrático que, cerca de 20 anos atrás, parecia fadado a um sucesso irrefreável.
Na tentaiva de lançar às causas do dissenso que se alastra por vários setores da sociedade nacional, é possível elencar alguns elementos importantes: o fracasso da geração política de 1988 em construir regras para o jogo democrático e respeitá-las; a expansão de uma lógica de rentismo, na qual o sonho de parte considerável das classes médias é construir uma vida de estabilidade às custas do erário público e; a falência da percepção de que o diálogo é um meio importante para a solução de controvérsias.
De fato, o Brasil de 2018 é um país em franco divórcio onde os lados em disputa tentam esticar a corda para que suas convicções estejam em alguma sintonia com a realidade. E essa breve reflexão, mais do que um receituário para a cura, é mera identificação de alguns dos elementos que tem tornado a vida cotidiana um campo de batalha, e a manutenção da democracia como modelo de organização política um desafio digno de mitologia grega.