AS NAPPES DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E A EXPOSTA JUNÇÃO ESTRUTURAL NA DESCONTINUIDADE DO SUPERGRUPO MINAS

AS NAPPES DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E A EXPOSTA JUNÇÃO ESTRUTURAL NA DESCONTINUIDADE DO SUPERGRUPO MINAS

Caracterizando historicamente uma importante província mineral, com mineralizações auríferas e ferríferas de classe mundial, além da ocorrência de outros bens minerais de menor porte, o Quadrilátero Ferrífero (QFe) representa a região do país com o maior desenvolvimento e densidade de estudos geológicos. Contudo, a longa história evolutiva desse compartimento, com reconhecida geodinâmica deformacional polifásica, ocasionou com o progresso do conhecimento, um volume de trabalhos divergentes, com interpretações diversas sobre as estruturas que compõem o arcabouço estrutural do QFe. Havendo nesse sentido, a necessidade de revisão e/ou atualização das informações e conhecimentos de algumas estruturas-chave para o entendimento da evolução tectônica desses segmentos crustais, no esforço de buscar uma síntese que possibilite uma melhor compreensão dos processos e mecanismos que governaram a edificação desse arcabouço e a sua intima interface com o controle das mineralizações.

Dentro desse contexto do atual estado da arte e ainda considerando o avanço nos conhecimentos, caracterizar o arcabouço estratigráfico e estrutural da junção entre as nappes Ouro Preto e Curral (Almeida 2004, Almeida et al. 2001, 2002 e 2005, Endo et al. 2005) no Anticlinal Mariana (figura 1), configura uma aresta a ser lapidada a cerca desses conhecimentos. O anticlinal, associado à nappe Ouro Preto, apresenta interpretações controversas sobre a sua origem (Nalini et al. 1992, Nalini 1993) e representa uma anomalia da arquitetura do QFe, que é constituído, principalmente, por estruturas sinclinais desenvolvidas entre os blocos do embasamento pela tectônica de domos e quilhas do final do evento Transamazônico (Alkmim e Marshak 1998). A confluência entre as nappes ocorre no flanco sul do anticlinal, sendo o contato materializado por uma superfície de descolamento basal, coincidente com o traço da Zona de Cisalhamento de São Vicente e marcada pela mais representativa faixa de ocorrência das mineralizações auríferas do QFe.

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A nappe Curral tem a geometria de uma megadobra recumbente com vergência para norte, que se articula com dobramentos de ordens inferiores associados a uma foliação penetrativa S1, com a sequência Minas exposta ao longo da serra do Curral, representando o flanco inverso da nappe em sucessão estratigráfica invertida (Endo et al. 2005). A nappe Ouro Preto de geometria semelhante, se sobrepõe à nappe Curral pela superfície de descolamento, através de um cavalgamento tectônico vergente para o sudoeste (Almeida et al. 2005), sendo representada pelo seu flanco inverso preservado e com a sequência estratigráfica invertida. Não obstante, mostrando-se ainda redobrada por uma segunda fase de deformação, que sucedeu a formação da xistosidade plano-axial subparalela ao acamamento. Esse processo gerou uma nova foliação S2, oblíqua ao acamamento, com a lineação de intersecção entre S0/S2, nesse domínio, exibindo-se de modo notavelmente paralela às lineações mineral, de estiramento mineral e de alongamento dos seixos (Almeida et al. 2001, Franco e Endo 2004), representando a lineação lb (Ramsay 1968), com encurtamento crustal ortogonal à lineação. Esses fatos tem implicações evidentes tanto no entendimento da evolução estrutural e tectônica dessa porção crustal, quanto no controle das mineralizações do QFe, em especial as do ouro e dos minérios de ferro.

Fazer o diagnóstico confirmatório e da relação entre as duas nappes na junção das estruturas, especialmente, na conturbada região da Serra de Ouro Preto e cabeceiras do Rio das Velhas, onde ocorre uma notável descontinuidade do Supergrupo Minas no flanco sul do anticlinal de Mariana, com a sequência mostrando-se perturbada por redobramentos, pode representar um significativo avanço no entendimento dos modelos de mineralizações do QFe. Concretizando a definição do arcabouço estratigráfico/estrutural da conexão entre as nappes e os mecanismos de deformação que controlaram o desenvolvimento da estrutura, compatibilizando o modelo para a evolução tectônica da área, com a integração de todos os elementos estruturais presentes na petrotrama das rochas.

Caio Torricilas Campos

Geólogo de Exploração | Coordenador de Geologia e Sondagem | Geólogo de Mina | Mapeamento Geológico | Prospecção e Pesquisa Mineral | Perícia Geotécnica | Mineração

4 a

Olha o projeto das Nappes ai Daniel Azevedo...

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