"Nature"​ ou "Nurture"​? Não tenha que escolher
Escrito por Ricardo M. Salama

"Nature" ou "Nurture"? Não tenha que escolher

Por que empresas idênticas têm resultados diametralmente opostos na adoção de novas tecnologias?

Recentemente assisti um documentário muito comovente, porém elucidativo de dilemas que muitas empresas enfrentam hoje ao pensarem em como embarcar na nova revolução de dados e Inteligência Artificial. No documentário, “Três Estranhos Idênticos”, três gêmeos idênticos são separados no nascimento e submetidos, involuntariamente, a um experimento científico. Cada bebê é adotado por famílias em contextos sócio econômicos diferentes, porém todos vivendo em um raio de 150km de distância entre os mesmos. Aos 19 anos, acidentalmente os mesmos se encontram. A questão central do filme é “Nurture” ou “Nature”. Ou seja, sendo o DNA dos gêmeos o mesmo (portanto as ferramentas são as mesmas), qual o resultado e estrutura de cada um ao longo da vida. No filme, sem entrar em muitos spoilers, o destino dos 3 é completamente diferente.

Atualmente Inteligência Artificial e a incansável exploração dos dados buscada por tantas empresas, vive uma situação paradoxal. Por um lado, há um investimento muito contundente em ferramentas capazes de entregar com destreza e flexibilidade todas as etapas de um ciclo analítico desde a coleta, preparação modelagem e implementação em produção dos dados. Segundo um estudo da revista Forbes com o SAS, 72% dos executivos de grandes empresas tem alguma iniciativa em inteligência artificial.

Por outro lado, mesmo com grandes investimentos realizados esta pesquisa aponta que apenas 50% das iniciativas foram consideradas exitosas. Cada vez mais vemos uma vasta quantidade de dados em enormes Data lakes porém com estruturas muito complexas, engessadas e muito pouco explorados.

Quais os fatores que geram tanta diferença?

Mas afinal, por que duas corporações com ferramentas igualmente poderosas (lembrando do nosso exemplo dos gêmeos idênticos) podem ter resultados tão diferentes? Quais são os principais fatores que geram tais diferenças?

Em primeiro lugar, a estrutura e o entorno que cada gêmeo cresceu fez toda diferença em seus destinos. De modo igual, empresas que já nasceram em ambientes digitais, que conseguiram se transformar mais rapidamente ou que não tenham um ambiente nocivo à criatividade e sejam ágeis, tendem a estar muito mais bem preparadas. Vejamos empresas como Google, Facebook ou Amazon que já nasceram digitalmente que fazem um uso intensivo de inteligência artificial. Quando você recebe a melhor recomendação de uma compra na Amazon ou quando você faz uma busca no Google, estamos vendo um uso intenso e inteligente dos dados disponíveis em algoritmos bastante sofisticados.

Um segundo fator imprescindível é a governanças e determinações de processos bem claros que garantam uma exploração das ferramentas e dados. No documentário, os gêmeos que viviam em famílias desestruturadas, como por exemplo pais alcoólatras ou que não impunham limites, geraram finais mais infelizes. O que mais vimos em grandes empresas são enormes datalakes com quantidade de dados imensuráveis, porém tão desorganizados e anárquicos que fazem a exploração dos mesmos tão emaranhada e complexa. As empresas em geral estão voltadas para a coleta cada vez maior de dados, porém com uma preocupação muito menor em como explorar as informações.

O que mais vimos em grandes empresas são enormes datalakes com quantidade de dados imensuráveis, porém tão desorganizados e anárquicos que fazem a exploração dos mesmos tão emaranhada e complexa.

Por fim, a formação e educação dos gêmeos também fez toda diferença para seus futuros. Famílias muito distantes que não puderam dar uma educação com mais “calor” e proximidade geraram problemas futuros muito críticos, com finais surpreendentes. As indústrias que não conseguirem atrair e formar talentosos cientistas ou exploradores de dados também sofrerão. De acordo com um report do linked ("Linkedin Workforce report" de 2018), só nos EUA há um deficit de 155 mil cientistas de dados. Neste cenário, atrair e reter talentos é um fator preponderante.

Quem serão as empresas do futuro?

Mas então o que fazer para cobrir tantos temas complexos e entrar no desafio da Inteligência Artificial? Investir em ferramentas (nature) ou na utilização das mesmas (nurture)? Na verdade, não se trata de uma escolha. É imprescindível que a empresa escolha as ferramentas, processos e pessoas para cada estágio que a mesma se encontre, mas nature e nurture são totalmente completivos.

O SAS, acreditando nesta complementariedade, fez um investimento global de US$1bi e lançou um programa chamado AgileAx. O objetivo é amparar as empresas tanto em ferramentas, como consultoria para criação de processos de governança e qualificação de cientista de dados. O SAS, com o AgileAX, busca uma transformação das empresas poderem investir no que realmente gera casos de uso rápidos, com metodologias ágeis e processos bem definidos.


Neste mundo da inteligência artificial não importa mais só quem você é (nature), mas como você consegue ter a disciplina e foco para conquistar um ambiente ágil e seguro, com uma governança/estrutura e que atraia e forme as melhores pessoas.

A nova revolução 4.0 já está a todo vapor. Esta é a revolução dos algoritmos, da inteligência artificial. Não se trata mais de saber quando, mas como cada empresa entrará neste mundo. No documentário comentado, os gêmeos quando se reencontraram achavam-se iguais não só fisicamente, mas em comportamentos e psicologicamente. Entretanto, o mundo os fez muito diferentes. As empresas querem todas se equiparar às grandes digitais, mas poucas chegarão. Neste mundo da inteligência artificial não importa mais só quem você é (nature), mas como você consegue ter a disciplina e foco para conquistar um ambiente ágil e seguro, com uma governança/estrutura e que atraia e forme as melhores pessoas. Essas serão as empresas do futuro. 

Andressa Prado (Ela/She/Ella)

Mãe do Matias | Project Manager at Mulesoft, a Salesforce company

5 a

Salama, parabéns pela reflexão e obrigada por compartilhar! Achei muito interessante a correlação e o reforço que não basta somente a melhor decisão, mas a análise da variável cultural (da empresa e pq não do time?) como fator crucial na obtenção de retorno. Abs

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