#Newsletter10 - A vida acontece muito além de um diagnóstico!
Fala Querido e Instigante Assinante! Tudo bem por aí?
Segunda, dia 08, véspera de feriado em São Paulo. Julho. Meio do ano, 2024!
Escrevo estas linhas depois de muito postergar essa escrita. Venho "cozinhando" esse tema há algum tempo. Faz quinze dias que mastigo e rumino as palavras e as ideias.
Sou do tipo escritora raiz, que coloca tudo no papel e depois tenta se re-organizar em sua própria bagunça. Mas depois de me perceber em um processo criativo bem no estilo "catarse", percebi que para o digital ou para as mídias, funciona melhor quando escrevo espontaneamente e de um jeito mais livre, sem grandes rascunhos prévios.
Não para este tema, confesso.
Esse me fisgou!
Fiquei entrelaçada em suas entranhas. Encafifada com seus efeitos. Refém do que reverberou em mim, resquícios do ato enquanto analista e da clínica que clama por esse testemunho.
Cá estou, em um feriado que me dei como emenda, tentando escrevinhar nosso encontro.
Esteja Bem Vindo e Bem Vinda aos meus pensamentos!
É bastante comum, alguns questionamentos durante uma análise.
Apesar dos inúmeros e necessários estudos e pesquisas sobre o cérebro humano, para a neurologia e a psiquiatria, as doenças mentais ainda contam com o imponderável e com o inexplicável do multifatorial, ou seja, para além dos marcadores biológicos da depressão, por exemplo.
É nesse sentido que devemos considerar que o fator não é só orgânico, físico e biológico.
Infelizmente e Felizmente.
Em se tratando de Saúde (também a mental), somos mais que um conjunto de células, tecidos, sangue e músculo. Somos mais que um emaranhado conectado e uma máquina. Somos seres da Linguagem e para além de um corpo e um físico.
Somos multifatoriais. Influenciados pela teia e o conjunto da vida, dos afetos, do meio, de uma época. Do Outro do trabalho e do Grande Outro Social.
A busca pela melhora e por aquilo que lhe é considerado saudável ou já conhecido é legítimo. Fidedigno, certamente.
Porém, Sintoma não é Doença.
Sintoma para a psicanálise (também para a psiquiatria em alguns aspectos), é o jeito de ser, e a forma como o sujeito se põe ou é posto no mundo. Não necessariamente precisará de tratamento.
É uma ótica. Uma lente.
Uma estrutura psíquica. Uma formação já substitutiva. É um funcionamento.
Como se fosse uma cartografia ou um mapa, até certo tempo funcionará. Fará emenda e "costura". Dará conta de tamponar a falta do Sujeito.
Porém para aqueles que chegam no meu consultório e que foram encaminhados pelo psiquiatra, e que por ventura estejam enraizados, mortificados ou paralisados pelo diagnóstico que receberam, costumo perguntar...
Entre o arranjo (sintomático) que sempre funcionou, quando você passou a sentir que algo não estava bem? Quando passou a ser sofrimento?
Entre o conhecido funcionamento de outrora, quando esse jeito começou à ser visto como doença?
O diagnóstico fará tudo mudar?
Ás vezes, sim. Ás vezes, não.
Dependerá do que se fará A PARTIR dele.
Para tanto, gostaria de compartilhar contigo, algumas informações sobre a Depressão.
Não se trata apenas de buscar melhora ou cura. E sim, também, de Existir e não somente Sobreviver. APESAR e COM o tratamento.
Existir e não apenas esperar.
Quem somente espera, não vive.
Quem espera por um amor, não vive novas descobertas. Inclusive, a descoberta de se tornar uma pessoa amável ou mais flexível.
Quem espera pelo trabalho ideal, muitas vezes não vive o trabalho possível, se amargurando com as frustrações vivenciadas no tempo presente.
Quem espera o melhor e a perfeição do outro, para de olhar para si e suas incoerências.
Quem somente espera a cura, não consegue construir alternativas durante o caminho e o percurso. Não consegue desejar, estando em paralisação com aquilo que se perdeu ao longo da vida.
PARA VIVER É PRECISO DESEJO. E desejo requer CORAGEM!
Se sintoma não é doença, "apenas" uma visão de mundo ou uma lente, a flexibilidade perante às intemperes da vida interferem e muito no conjunto da Obra.
Quando os fatores são múltiplos, aspectos como rigidez às adversidades (que serão muitas devo advertir os desavisados), falta de perspectiva, falta na capacidade de simbolização, e ainda falta de desejo, todo esse combo contribuirá significativamente para uma condição refratária e crônica.
Freud (em mil novecentos e guaraná com rolha), já nos alertava do quanto somos frustrados em nossa tentativa de um prazer absoluto. Desde os textos do Complexo de Édipo e Introdução ao Narcisismo ou ainda em Pulsão de Vida e Pulsão de Morte, temos noção do grande estrago que seria se cedêssemos ao caminho mortífero de dar vazão a pulsão incessantemente e ao prazer absoluto.
Para isso chamamos de compulsão.
Portanto, é por não termos tudo e apesar de sermos limitados, que podemos existir para além daquilo que nos falta. Fazendo algo com a falta e A PARTIR dela.
Vou traduzir e deixar mais claro, estimado e gentil leitor!
(agora pareceu a introdução das correspondências em Bridgerton rs. Desculpe a referência)...
É APESAR de não termos as mesmas relações que antes...
É APESAR de não termos o amor que fantasiamos como o ideal...
É APESAR de não conseguirmos tangenciar todas as mazelas que julgamos injustas, que fazemos algo. APESAR disso...
APESAR do reconhecimento e do consentimento da nossa limitação, que aprendemos a fazer o melhor que podemos.
Com aquilo que é possível, com aquilo que conhecemos, com aquilo que desejamos e com a coragem que temos ou não, para bancar nosso desejo.
APESAR do diagnóstico, você pode e deve caminhar tendo o desejo de existir. Sendo sujeito que sente, sofre, idealiza, fantasia e vive todas as agruras e as doçuras de ser como é.
APESAR daquilo que não pode mudar. E não espero que você receba um diagnóstico de depressão ou câncer para aprender a viver APESAR daquilo que não tem.
UM AVISO AOS PESSIMISTAS E AMARGURADOS DE PLANTÃO
Esse seu rancor ou a repressão deste, pode não ser inconformismo ou "sede de mudança".
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Pode ser "apenas" sede de amor.
Fixação ou ainda rigidez.
Como uma máscara estrutural ou ainda a pura demonstração inconsciente, um medo infantil e pueril da criança que não pôde ser amada como gostaria e que cresceu com dedo em riste, cobrando aquilo que lhe foi negado em um passado longínquo.
Esse resquício infantil, espera do outro, do mundo e também de si, a perfeição imaculada e a linearidade de uma vida sem altos e baixos. Pois somente sendo perfeita, é que essa criança, poderia sentir-se amada, estimada e querida.
Porém, no entanto, pergunto...
Quem quer ser amado e cobra o amor, saberá reconhecer o afeto e ser amado do jeito que se é - imperfeito -?
Esse afeto ou sua demonstração, poderá lhe será facilmente reconhecido? Sem que para isso, tenha que entrar em inúmeros relacionamentos nomeados como tóxicos?
Essa pessoa, terá flexibilidade, "malemolência" ou potencia para experiência-lo?
O amor reverbera e faz escancarar todos os nossos cacarecos e vulnerabilidades.
É nesse sentido que eu recomendo que o amor, deva começar por você.
Percebendo que só é possível dar aquilo que sabemos que temos.
Para todo o resto, inclusive sua experiência de vida, atente-se às suas repetições, incoerências e como a sua história apesar de terem sempre novos personagens, o roteiro vai sendo construído encima do mesmo enredo inconsciente e familiar. Como um looping infinito ou um dia da marmota.
Para essa "causa" é só psicanálise na veia.
Eita, que hoje o texto ficou longo!
Me empolguei na resenha e no feriado de amanhã.
Espero que apesar de denso, ainda sim, tenha alguma interessância para você.
A complexidade do Ser Humano será tema central do meu próximo livro. Será nessa vida integral que tenho me debruçado à pensar nos últimos meses. Como eu disse há duas mensagens atrás, esse ano estou à gestar e também efervescendo.
CONVITE
Já que estamos falando sobre viver e não somente sobre sobreviver, estamos direta e indiretamente falando sobre auto cuidado e da construções de caminhos para além de um diagnóstico e também sobre uma vida com menos sofrimento psíquico e cuidado mental.
Neste sábado, dia 13, entre 10h00 e 12h00, à convite da Sow Saúde Integral, farei a Palestra "Inteligência Emocional e Auto Cuidado".
"Percebemos que auto estima e o olhar para si, não é algo dado. Auto estima e amor próprio não é algo que nos é herdado naturalmente. Ao contrário disso.
Assim como o percurso de uma maratona, há um preparação e ações práticas para se experienciar esse olhar sobre si. Muito mais do que isso, há afetos inconscientes que possibilitam ou não, essa valoração sobre si.
Para a auto confiança de hoje, houve lá trás, validadores e amor.
Para que haja amor próprio agora, alguém precisou amá-lo no passado.
Como tudo isso nos influencia e qual é a correlação em nosso auto cuidado?"
Por fim, para você que por ventura é novo por aqui e ainda se chegou por aqui por acaso ou por obra do destino - ops dos algoritmos -, fica aqui o meu convite para nos acompanhar. Fique por dentro de tudo que rola nesse espaço.
Fica vai!
#VAI TER BOLO!
É sempre um trabalho de disciplina, desejo e organização para chegar até aqui para escrever.
Sentar aqui e organizar as ideias leva tempo e por vezes, outras demandas acabam passando na frente, porém sempre que começo fico com o gostinho de continuar.
Não sei ao certo, se é meu gosto pela escrita ou apenas um modo que encontro de esvaziar minha cabeça e minhas ideias, assim como em uma meditação induzida.
Só sei que para mim, escrever sempre foi terapêutico. Você também deveria encontrar o seu terapêutico. Isso salva até casamento... rs
Mas faz o seguinte, te vejo na próxima quinzena e continuamos com essa prosa, combinado?!
Abraços, Bom feriado pra quem não trabalha amanhã e
e uma ótima semana pra ti,
Denise
Mas afinal, quem está falando?
Minha atuação profissional tem sido estabelecer a prática clínica como psicanalista, porém também intermediando pesquisas como especialista em saúde mental, para o bem estar psíquico nas empresas, pensando na relação que cada um de nós tem com o seu trabalho e com as relações a partir deste.
Você pode se perguntar, mas como poderíamos trabalhar juntos?
Meu mantra é que você não precisa sofrer em silencio esperando por alguma ajuda. O atendimento mental ainda é estigmatizado e estatisticamente as pessoas demoram entre 5 e 10 anos para procurar tratamento especializado.