Nossa singularidade no próprio corpo
Para nós, psicanalistas, o corpo de cada pessoa está além do espaço que ocupa; ele existe na cabeça daquele que o carrega.
O corpo humano está além dos movimentos que faz, mais além ainda da carne, nervos e ossos envolvidos completamente pela pele que demarca o dentro e o fora. Dentro desse corpo, temos as excitações que geram as sensações percebidas naquele instante como agradáveis ou desagradáveis e, simultaneamente, tem uma representação psíquica impressa, uma marca no inconsciente.
A essência dessas imagens inconscientes do corpo é formada a partir da vida intrauterina até a primeira infância e permanecerão ativas por toda a existência do nosso corpo de adulto.
Não o corpo físico isolado dos outros, mas um corpo sente a interferência do outro, originado no contato desejante e simbólico da mãe, que é também uma mulher desejante e desejada pelo pai da criança.
Posteriormente, o desenvolvimento e o contato com outros trazem a imagem vista como percebida e a imagem do corpo sentido vai ficando no inconsciente, passamos a dirigir nosso olhar para fora e a atenção para o próprio corpo passa a ser notada só quando estamos doentes e/ou buscando respostas para o incomodo que nos afeta.
Hoje em dia as práticas de consciência corporal e do vivenciar do “aqui e agora”, como a meditação, yoga e exercícios de respiração, por exemplo, são estimuladas e consideradas relevantes.
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Mas a conexão com o próprio corpo, com o ritmo individual, pode ser mais prazerosa em coisas simples, pequenas, sem custo, que nos ligam com a própria essência inconsciente, como uma sensação de segundos, associada a essas representações iniciais, como um determinado cheiro, sabor, temperatura, som, imagem, etc.
Para alguns, o cheiro do café, outros, o vento no rosto, o calor do sol, as cores de um arco-íris… Permitimos que a rotina nos leve “esquecendo” que o contato com o presente pode nos propiciar dentro, um pouco do que procuramos fora.
Quantas vezes por dia você se presenteia com pequenos momentos com você mesmo(a), vivenciando ou sentindo coisas que realmente lhe fazem bem?
Texto por: @psi.vivian.colacio
Fonte: Meu Corpo e Suas Imagens (Juan-David Nasio, 2009).