Nosso primeiro sambista
[Do livro "O Pinho Toca Forte - Histórias do Violão Joinvilense", disponível para venda aqui]
O primeiro grande sambista de Joinville era cavaquinista da gema, mas desde menino conviveu com o violão, que o pai gostava de tocar, por passatempo. João do Rosário, conhecido como Janguito, nasceu em 1923 e aos 18 anos fez as malas rumo a Curitiba, onde se estabeleceu como músico. Antes ainda, teve alguma experiência cantando em bares da antiga Rua do Porto, no bairro Bucarein. O radialista aposentado Ubiratan Lustosa, que acompanhou de perto a carreira de Janguito, conta que o catarinense se tornou referência do cavaquinho na capital do Paraná. Naqueles tempos, segundo o radialista, havia um trânsito intenso entre músicos de Joinville e Curitiba. Outro exemplo desse movimento, na direção oposta, é o caso do maestro e professor curitibano Ludwig Wilhem Theodor Seyer Junior, que em meados da década de 1930 dirigiu a orquestra da Harmonia Lyra e diversos corais.
Lustosa conheceu Janguito quando este liderava o Regional B-2, da Rádio Clube Paranaense. Logo que desceu em Curitiba, o joinvilense foi trabalhar no Cassino do Ahú. Integrou dois conjuntos famosos da época, Diabos do Ritmo e Os Sete de Ouro. Também participou de outros regionais e programas de rádio. O pesquisador Tiago Portella incluiu uma composição de Janguito, “Um Adeus para Waldir”, escrita em homenagem ao mestre do cavaquinho Waldir Azevedo, no “Songbook do Choro Curitibano”, lançado em 2012. No livro, Portella registra que a trajetória do músico teve como ponto alto a criação do Regional do Janguito, grupo que contava com grandes personalidades do choro curitibano. Falecido em 1984, acumulou mais de seis mil apresentações pelo Estado, tocando ao lado de um enorme leque de estrelas da música brasileira, de Silvio Caldas e Ciro Monteiro a Martinho da Vila, Elis Regina e Elizeth Cardoso.
Até pela natureza deste tipo de formação, o violão foi elemento chave no Regional B-2. Sob o comando do cavaquinho de Janguito, havia piano, acordeão, contrabaixo, tuba, pandeiro – e dois violões, seis e sete cordas. Uma publicação lançada pouco depois de sua morte pela Casa Romário Martins, instituição cultural de Curitiba, reverencia a memória do músico e traz uma entrevista na qual Janguito não poupa elogios ao titular do sete cordas, Arlindo dos Santos, seu parceiro por quatro décadas: “É um dos maiores violonistas do Brasil, faz cada coisa que quebramos a cabeça para acompanhá-lo, de tão bom”. No mesmo depoimento, explica por que jamais teve discípulos nas artes do cavaco: “Ninguém queria saber de tocar. Antigamente, chamavam o cavaquinho, o violão e o pandeiro de instrumentos de malandro, de vagabundo. Ignoramos essa gente e fomos vencendo. Hoje, ao contrário, é difícil uma pessoa, rica ou pobre, que não queira aprender violão. É instrumento de luxo”.