Nota 10! Sim, você merece!
Será?
Está na Declaração Universal dos Direitos Humanos: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Partindo desse princípio, se você é um humano, tem como qualquer outro da sua espécie igualdade de dignidade e direitos. E merece ter ambos respeitados e preservados.
Porém, na prática não é exatamente assim que acontece. Os indivíduos que convivem nas escolas, universidades, empresas e demais espaços sociais nem sempre partem do mesmo ponto na sociedade. Afinal, a desigualdade social é um traço característico dos tempos atuais.
Para sustentar o discurso da igualdade de direitos, algumas pessoas e empresas adotam a ideia da meritocracia. Meritocracia significa que todo indivíduo é capaz de prosperar somente com suas capacidades sem precisar da ajuda da sociedade, Estado ou família. É um sistema que privilegia as qualidades do indivíduo como a inteligência e a capacidade de trabalho, e não sua origem familiar ou suas relações pessoas.
A palavra “meritocracia” foi cunhada pelo escritor, sociólogo e político inglês Michael Young (1915-2002) quando lançou seu livro “The Rise of Meritocracy”. O autor recorreu à palavra latina “mereo” (ser digno, ser merecedor) e o sufixo grego “kratos” (poder, força) para formar este novo vocábulo.
No romance, Young cria uma sociedade futurística onde todas as pessoas seriam avaliadas somente por seus méritos. A ficção cria um cenário em que só existiriam os “bem-sucedidos” e os “fracassados”. O universo meritocrático da obra faz críticas ao método levado a extremos, pois o efeito seria aumentar o abismo existente entre a elite e a população.
O conceito de meritocracia só pode ser válido quando todos os indivíduos de uma sociedade possuem exatamente as mesmas condições sociais, econômicas e psicológicas. Contudo, especialmente no Brasil, que é o 9º país mais desigual do mundo, as diferenças sociais, econômicas e psicológicas são significativas.
De acordo com o professor e filósofo Michael J. Sandel, o princípio do mérito, um dos pilares básicos das democracias liberais, é o responsável por um cenário preocupante. Vivemos em uma constante competição, que separa o mundo entre "ganhadores" e "perdedores", esconde privilégios e vantagens e justifica o status quo por meio de ideias como "quem se esforça tudo pode" e "se você pode sonhar, você pode fazer".
O resultado concreto é um mundo que reforça a desigualdade social e, ao mesmo tempo, culpabiliza as pessoas, o que gera uma onda coletiva de raiva, frustração, populismo, polarização e descrença em relação ao governo e aos demais cidadãos.
No livro A tirania do mérito - O que aconteceu com o bem comum? - Sandel propõe que para existir uma ética diferente e dignificadora, o sucesso deve ser compreendido em prol da coletividade. Indica que uma alternativa de pensamento guiado pela humildade, pela compreensão do papel do acaso na vida humana e pela criação real da oportunidade poderá ser a melhor bússola para a democracia, para o bem comum.
Essa semana, o perfil do Instagram do Quebrando o Tabu postou um tweet de uma professora que falava sobre um aluno que pediu para sair da aula porque a casa dele não tinha telhado e o tempo estava fechando.
A história é triste e chocante mas está longe de ser uma exceção. Em 2019 o Brasil tinha 4,4 milhões de crianças em situação de extrema pobreza. Isso representa 11,5% das crianças de zero e 13 anos de idade. Elas viviam com renda domiciliar per capita inferior a US$ 1,90 por dia, o correspondente a cerca de R$ 150 mensais. Essa proporção chega a 21,5% na região Nordeste do país. Com a pandemia de Covid-19, este ano os números podem ser ainda maiores.
Os dados fazem parte de levantamento inédito do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a partir da base de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Considerando essa realidade, faz sentido pensar em meritocracia? Isso porque até agora, só falamos da questão econômica da desigualdade. Quantas outras camadas de opressão podemos somar a esse cenário? Desigualdades de oportunidades no mercado de trabalho e no empreendedorismo para mulheres, pessoas LGBTQIA+, negros, pessoas com deficiência e pessoas 50+ reforçam a falácia da meritocracia.
Nos Estados Unidos, as mulheres representam 47% da força de trabalho, mas são apenas 34% nas cinco grandes empresas de tecnologia. Os números apontam que os esforços pela igualdade são insuficientes.
“Os programas [de paridade] batem em um muro porque muitas das empresas dizem estar interessadas na paridade, mas não estão nada interessadas em abrir mão do poder. Trata-se de uma mudança de poder e de fazer as coisas de forma diferente, mas não há incentivo para fazer isso porque tudo isso desafia a lógica econômica da indústria”, diz Anna Wiener, autora de Uncanny Valley (algo como “vale da estranheza”, ainda sem tradução no Brasil), depois de testemunhar em primeira mão como várias start-ups perderam a possibilidade de corrigir seus vícios.
No Brasil, os negros representam 55,9% da população, mas ocupam apenas 4,7% dos cargos de liderança executiva nas 500 maiores empresas do país, segundo pesquisa do Instituto Ethos. As mulheres negras representam 9,3% dos quadros destas companhias e estão presentes apenas em 0,4% dos altos cargos.
“Quando você está falando de uma sociedade profundamente desigual, como você vai medir meritocracia?”
Silvio Almeida
Além da discriminação, a maior dificuldade de acesso à educação é outro fator que impacta a ascensão de pessoas negras para posições de chefia. No grupo estudado, 47% dos negros tinham nível superior, contra 55% dos brancos, 51% dos amarelos e 10% dos indígenas. Com relação à pós-graduação, os índices eram de 8,8%, 17%, 16% e 10%, respectivamente.
Em uma sociedade sistemicamente tão desigual como a nossa, as pessoas que são marginalizadas sofrem os resultados da existência de bolhas sociais e econômicas, sem lhes ser concedidas oportunidades de vida, de estudo, de saúde, de segurança e de crescimento profissional da mesma maneira que às outras pessoas. Ou seja, quem vem de uma família pobre tem menos probabilidade de ter uma excelente educação e instrução; assim, com baixo nível de escolaridade, a maioria terá destinada a certos empregos sem grande prestígio social e com uma remuneração baixa, impedindo a sua mobilidade social
Por essa razão, a meritocracia é um mito: não há como afirmar que uma classe social alcança bons feitos por mérito, frente a outra que sequer consegue acessar as mesmas oportunidades. Por fim, você pode até ter feito a sua parte de acordo com o seu contexto e recursos disponíveis, mas eu gostaria de te convidar a ampliar a sua visão para o contexto histórico e outras realidades: será que os seus resultados são de fato apenas fruto de mérito pessoal?
Pessoa Neuroatípica TDAH+AH - Co-fundadora Div.A Diversidade Agora! - Palestrante e consultora em DEI, coach, mentora e facilitadora de práticas de Comunicação Não-Violenta - Partner do Ecossistema Great People e GPTW
3 aFrancisco Vidinha o artigo que falei para vocês... compartilha com o time, por favor!
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3 aEliana Marino o artigo que falei para vocês... compartilha com o time, por favor!
Comunicação
3 aVocê enriquece meu feed, obrigada 🥰
Diversidade Equidade e Inclusão l MSc I Consultoria I Mentoria I Pesquisa
3 aMariana Okamura , MIBA para refletir.