POLÍTICA COMO NEGOCIAÇÃO DE DIFERENÇAS
Fonte: Lilian Rosa, 2018.

POLÍTICA COMO NEGOCIAÇÃO DE DIFERENÇAS

Política é um daqueles conceitos polissêmicos, que agregou vários significados ao longo do tempo. Originalmente, entre os gregos, a palavra referia-se às coisas da polis (Cidade-estado), à vida em coletividade. Desde a sua “invenção”, o seu sentido foi se transformando.

Maquiavel, em “O Príncipe”, dizia que a política traduzia-se na luta pela conquista e pela manutenção do poder. Infelizmente, para a maioria, essa visão ainda perdura até os dias de hoje, levando a atividade ou o conjunto de ações relativas ao Estado, a tornarem-se o principal objeto de competição, a exemplo do que disse Maquiavel. São enfatizadas as disputas entre pessoas, ideias, interesses e objetivos contrários.

Isso é justificável, afinal, as experiências que a sociedade contemporânea vivenciou com a política foram tão calamitosas que fizeram muitos duvidarem de um sentido que fuja ao senso comum. Essa situação é agravada pelo poder da mídia e pelas redes sociais, que criaram um estado de superinformação perpétuo e de subinformação crônica. Isso vem gerando medo, insegurança, pânico, raiva e, o que é pior, cultivando o ódio.

Diante disso, o caminho inverso seria silenciar a mente e permitir que o bom senso tome o leme das nossas relações e decisões. Afinal, como eu disse no princípio, não existe apenas um significado para “política”. Ela não precisa (e não deveria) ser sinônimo de luta e competição.

Prefiro a proposta de Hannah Arendt, para a qual, a política se baseia na pluralidade dos homens. Trata da convivência entre os diferentes. Cabe à política organizar, de antemão, as diversidades absolutas de acordo com uma igualdade relativa.

É no espaço público que a política deve acontecer. No encontro da multiplicidade e da diversidade de interesses, objetivos e ideias, surgindo como aquela que gerencia as diferenças, evitando cisões e conflitos. Aplicada a partir deste princípio, ela se torna a instância do viver coletivo que garante que não ocorra o estranhamento letal entre diferentes, tornando-se o lugar da negociação, marcado pela permanência e pela liberdade.

Nesse sentido, podemos concluir que os conflitos, as guerras, são os lugares da ausência de bom senso, do diálogo, do respeito e da negociação. São os lugares da “não política”, onde submergem os interesses coletivos e o foco no bem comum e emergem os interesses individuais.

Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa

Coordenadora de Pós-graduação da FAAP / Presidente do IPCCIC – Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais  


Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos