"Notas de consolo" de A. M. Faccioli

Nós fomos educados e treinados para enfrentar alguns dos desafios da vida. No meu caso, a segurança financeira parecia ser o grande objetivo e sinônimo de sucesso. Estudei, trabalhei, estudei mais, trabalhei mais, continuo estudando e trabalhando até hoje, pois isto me equipa e me traz enorme satisfação. Enquanto isto, também constituí família ao lado da namorada com quem eu me casei e com quem tivemos duas filhas maravilhosas. Hoje são três mulheres fortes e, cada uma a sua maneira, admiráveis. Graças ao fruto do meu estudo e do meu trabalho pude dar a minhas filhas todo o apoio e suporte que estavam ao meu alcance.

Demoraram alguns anos para eu perceber que isto não era suficiente.

Saúde mental é novidade para mim. Não é apenas que eu não sei enfrentar os desafios da mente. Eu não sei nem mesmo identificar e muito menos compreender o que está por trás da depressão e da ansiedade. Casos muito próximos do nosso cotidiano simplesmente demoram para serem percebidos. Pessoas que precisam do nosso apoio, e por quem nós daríamos o mundo, estão ali, próximas, sofrendo sem serem percebidas.

Quando a Amanda me enviou por email seu primeiro conto, ou sua primeira Nota de Consolo, senti uma pedrada em meu estômago. Aquelas palavras escritas me gritaram mais alto do que os dias de depressão, as crises de ansiedade, ou até mesmo mais do que os ensaios de automutilação. Eu achava que já tinha tido dias de tristeza, de solidão, de angústia, de ansiedade. Mas ao ler cada nova Nota de Consolo que eu recebia por email eu sentia algo novo. Eu imagino que isto seja o mais próximo que podemos chegar da compreensão do que se passa com a pessoa que enfrenta o que a Amanda enfrentou.

Oferecer uma vida confortável, de privilégios em comparação à sociedade em que estamos inseridos, um bom colégio, passeios, viagens, não é o suficiente. Nem mesmo os livros, que é a grande paixão da Amanda, em quantidade ilimitada para serem devorados com ainda mais dedicação durante o primeiro ano da pandemia foi o suficiente. As terapias com terapeuta recomendada, que a Amanda adora e afirma que lhe é extremamente útil, não são suficientes. Os tratamentos medicamentosos não são suficientes.

"Ali, ela estica a mão. Está tão próxima do que cobiça! Tão perto que ela sente sua palpitação, sente suas vibrações, ouve seu retumbar! E que som delicioso é o bater desesperado de um coração amedrontado." FACCIOLI, A. M.        

Escrever as Notas de Consolo foi a forma que a Amanda escolheu de se expressar, de compreender e de enfrentar a situação. Ler as Notas de Consolo repetidas vezes, e chorar a cada vez, foi a forma que eu encontrei de me aproximar do que ela sentia, de compreender um pouco do que estava acontecendo, de carregar um pouco do peso com a esperança de assim aliviar um pouco o peso que ela própria carrega.

Amanda teve a sorte de ter uma mãe presente e uma irmã sensível que lhe deram suporte desde bem antes de eu receber o primeiro dos contos.

Quando a Amanda me perguntou sobre a possibilidade de publicar seus contos, percebi que estava diante de uma determinação e de uma coragem incrível! Qualquer dúvida que eu tinha sobre sua consciência em relação às consequências de se compartilhar algo tão particular se dissipou quando li o rascunho do prefácio e do posfácio.

Agora, no lançamento nas livrarias, com a chegada de seus livros em casa, a cada novo pedido, a cada novo comentário, a cada nova dedicatória escrita, a cada confirmação de recebimento dos livros enviados pelo correio, parece-me visível o peso diminuindo das costas da Amanda.

E a cada comentário que recebo privadamente, de amigos próximos, colegas distantes, pessoas queridas, com relatos de algo semelhante ter acontecido consigo ou com seus filhos ou com pessoas queridas, eu sinto novamente a sensação de trazer para mim um pouco do peso que a pessoa que me relata carregava sozinha até então. E isto é bom!

Ainda temos muito a aprender sobre como identificar, compreender e enfrentar os truques da mente. Mas estou convencido que Notas de Consolo abre um caminho para a expressão, o debate, e o enfrentamento.

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