A Nova Era "Nutella": O Debate Sobre a Proteção Excessiva e Seus Impactos na Educação nas Escolas

A Nova Era "Nutella": O Debate Sobre a Proteção Excessiva e Seus Impactos na Educação nas Escolas

Por: Prof. Adm. Esp. Jorge Lima Cardoso[1].

A sociedade contemporânea vive um momento de intensas discussões sobre educação nas escolas, especialmente no que se refere ao conceito de "traumatizar" e às formas de educar que evitam qualquer tipo de frustração. Segundo o professor Leandro Karnal, o discurso de que "crianças não podem ser traumatizadas" é cada vez mais presente na área educacional, resultando em práticas que visam proteger ao máximo as crianças de situações desconfortáveis ou negativas. No entanto, é fundamental refletir criticamente sobre os impactos dessa proteção excessiva e o que isso representa para o desenvolvimento das novas gerações.

Karnal menciona em suas palestras que estamos formando uma geração de indivíduos pouco preparados para enfrentar desafios e frustrações. A necessidade de evitar traumas tem levado a situações extremas, como o exemplo de algumas escolas de São Paulo onde, em campeonatos esportivos, todos os participantes recebem medalhas, do primeiro ao último lugar. Essa prática, que visa evitar a frustração de não ser premiado, acaba por nublar a importância do esforço, da disciplina e da superação pessoal. Quando todos recebem o mesmo prêmio, independentemente do desempenho, qual é o incentivo para melhorar ou se dedicar?

A ideia de que crianças não devem ser traumatizadas está ligada ao temor de que experiências negativas possam prejudicar o desenvolvimento emocional. Contudo, ao excluir completamente a possibilidade de frustração, estamos privando as crianças de vivência essenciais para o aprendizado sobre resiliência e superação. Como Karnal destaca, a cultura é, em certa medida, repressão, e educar envolve ensinar limites e consequências. Se não houver a experiência do erro ou do fracasso, como a criança aprenderá que colocar o dedo na tomada traz consequências negativas? É na experiência do limite que a criança aprende a compreender o mundo e a se adaptar a ele.

Outro aspecto importante é a formação do caráter e a compreensão do papel do indivíduo na sociedade. Quando evitamos a todo custo qualquer tipo de frustração, estamos formando pessoas que não sabem lidar com a rejeição ou com os desafios que a vida inevitavelmente impõe. Isso pode resultar em adultos que têm dificuldades em aceitar seus próprios limites e respeitar o espaço dos outros. Além disso, a ideia de que não se pode dizer "não" à criança ou avaliá-la pelo seu comportamento também contribui para uma geração despreparada para enfrentar a realidade. O desenvolvimento emocional exige experiências que permitam à criança perceber que não será sempre o centro das atenções, que nem sempre terá o melhor desempenho, e que isso é natural.

Por fim, é preciso encontrar um equilíbrio entre proteger e permitir que as crianças vivenciem experiências difíceis. Na minha experiência como professor do ensino médio, tenho vivenciado toda essa realidade, em que o professor precisa cuidar do que fala, enquanto os alunos podem falar o que bem entenderem, pois, no máximo, o que ocorrerá é uma conversa amigável para evitar qualquer tipo de trauma. Traumas excessivos são obviamente prejudiciais, mas a completa ausência de desafios também pode ser limitadora. Educar é guiar, é ajudar a entender que fracassos fazem parte da vida e que é através deles que crescemos e aprendemos. A nova era "Nutella", como alguns chamam, pode estar criando uma geração menos preparada para enfrentar a realidade complexa e, muitas vezes, desafiadora do mundo em que vivemos. A responsabilidade de pais e educadores é encontrar formas de ensinar, respeitar e preparar as crianças para a realidade, onde desafios existem e são oportunidades de crescimento.

JLC.


[1] Administrador e Especialista, Bacharel em Administração de Empresas com habilitação em Administração de Cooperativas e Empresas Rurais. Possui MBA em Gestão de Pessoas e Especialização em Docência para a Educação Profissional, com Licenciatura para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Desde 1986, atua no mercado de trabalho e, desde 2007, dedica-se à docência no ensino superior, técnico e médio. Professor em cursos de Técnico em Administração, Técnico em Contabilidade e Ensino Médio Integrado e Profissional (EMIEP), ministra disciplinas nas áreas de Administração e Contabilidade, contribuindo com sua vasta experiência para a formação de futuros profissionais.

 

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