Qualidade no Ensino Médio Técnico Integrado: Repensando a Média Global de Aprovação
Por: Prof. Adm. Esp. Jorge Lima Cardoso[1].
1. Introdução
O ensino médio integrado ao ensino técnico profissional é uma modalidade educacional que visa capacitar os jovens com uma formação acadêmica e técnica simultânea, oferecendo tanto o diploma de ensino médio quanto uma qualificação profissional. Esse modelo tem como objetivo preparar os alunos para o mercado de trabalho ao final do ciclo escolar. No entanto, a "nota de média global de aprovação" nesse contexto tem levantado debates sobre sua eficácia como indicador da qualidade do aprendizado e das competências dos alunos. Este artigo, elaborado pelo Prof. Jorge Lima Cardoso (Prof. JLC), explora criticamente como essa média reflete as habilidades práticas adquiridas e os desafios enfrentados em cursos técnicos nas áreas de Administração, Mecânica e Desenvolvimento de Sistemas, além de suas consequências para o mercado de trabalho.
A integração entre ensino médio e formação técnica, apesar de seus benefícios, traz consigo diversas questões complexas. Como apontado por Frigotto (2008), essa integração não se limita a simplesmente combinar conteúdos acadêmicos e práticos. Trata-se, na verdade, de um esforço profundo para superar a tradicional divisão entre o saber teórico e o prático, o que exige uma abordagem educativa que valorize igualmente ambos os campos de conhecimento. Frigotto (2008) discute que:
A integração entre a formação acadêmica e a técnica, proposta pelo ensino médio integrado, traz uma série de desafios, pois não se trata apenas de adicionar competências profissionais ao currículo, mas de uma mudança profunda no sentido da educação, que busca superar a dualidade histórica entre o saber intelectual e o saber manual. (FRIGOTTO, 2008, p. 57)
Complementando essa visão, Freire (1974) afirma que “a educação deve ser libertadora, permitindo que o aluno não apenas aprenda, mas também compreenda o contexto social de sua realidade”, ressaltando a importância de uma formação que desenvolva a consciência crítica.
Com minha experiência no mercado de trabalho e na docência em educação profissional, analiso como o ensino médio integrado ao ensino técnico surge como uma resposta às demandas do mercado de trabalho, que busca profissionais com competências práticas aliadas a uma sólida base teórica. No entanto, essa modalidade educacional enfrenta desafios ao tentar balancear a formação acadêmica com a preparação profissional em um único currículo. A eficácia de indicadores, como a média global de aprovação, em medir o real aprendizado e a competência técnica dos alunos permanece uma questão em aberto, trazendo à tona reflexões sobre a adequação das práticas avaliativas e os reais impactos dessa formação para a inserção no mercado.
2. A Importância da Formação Técnica
A formação técnica no ensino médio responde à necessidade de profissionais qualificados em um mercado cada vez mais competitivo. Em cursos como Administração, Mecânica e Desenvolvimento de Sistemas, a integração do ensino médio com o técnico permite que os estudantes adquiram conhecimentos teóricos e desenvolvam habilidades práticas. Um curso de Administração, por exemplo, oferece disciplinas como Gestão de Pessoas e Contabilidade Geral, fundamentais para o entendimento do ambiente corporativo. Na área de Mecânica, matérias como Desenho Técnico e Mecânica dos Materiais preparam os alunos para atuar em setores industriais. Já em Desenvolvimento de Sistemas, disciplinas como Lógica de Programação e Banco de Dados capacitam os estudantes a operarem em um mercado digitalizado. Disciplinas de base como Língua Portuguesa e Matemática, integradas ao currículo técnico, desempenham um papel fundamental ao desenvolverem habilidades de comunicação eficaz, interpretação de dados e resolução de problemas. A capacidade de articular ideias de forma clara e de lidar com informações quantitativas e qualitativas é essencial para que os estudantes enfrentem as exigências tanto do contexto acadêmico quanto do mercado de trabalho, em qualquer área que escolham atuar
Nesse contexto, a média global de aprovação é utilizada como uma métrica de qualidade educacional. Idealmente, essa média deveria garantir que os alunos possuem um domínio adequado dos conhecimentos teóricos e das competências práticas exigidas para atuar em suas respectivas áreas. No entanto, o cenário atual muitas vezes revela uma média elevada que esconde lacunas significativas na formação, resultando em profissionais que, apesar do diploma, carecem de habilidades essenciais para o mercado.
Como destaca Frigotto (2008), a educação técnica integrada exige mais do que a simples transmissão de conhecimentos. Ela representa um esforço para superar a tradicional separação entre o ensino acadêmico e o técnico, buscando um modelo de formação mais completo e capaz de formar jovens para os desafios do mercado e da sociedade. Frigotto (2008) afirma:
O ensino médio integrado não pode ser visto apenas como uma articulação entre conteúdos acadêmicos e formação profissional. Ele representa uma proposta de superação das dicotomias que historicamente estruturam o sistema educacional, construindo um projeto educativo que articule trabalho, ciência e cultura de modo a formar sujeitos críticos e atuantes. (FRIGOTTO, 2008, p. 49)
Com minha experiência no ensino técnico e no mercado de trabalho, observo que os cursos técnicos integrados ao ensino médio, embora ofereçam oportunidades valiosas para o desenvolvimento de habilidades específicas, também enfrentam desafios consideráveis. A dependência de indicadores como a média global de aprovação, usada para avaliar a qualidade da formação, pode camuflar deficiências significativas que comprometem a real empregabilidade dos egressos. Um estudo da Fundação Roberto Marinho (2019) revelou, por exemplo, que 42% dos egressos de cursos técnicos relatam dificuldades em atender às demandas do mercado, apontando para a necessidade de uma formação mais robusta e prática.
Dessa forma, reforçar a importância de revisitar as práticas avaliativas e desenvolver métodos de ensino que preparem os estudantes para atuar com eficiência em suas áreas, contribuindo para um mercado de trabalho cada vez mais exigente e em constante transformação.
3. Reflexos da Média de Aprovação na Qualidade do Ensino
A média global de aprovação pode parecer um indicativo de sucesso educacional, mas é necessário questionar sua validade como parâmetro de qualidade. Uma média elevada, em muitos casos, reflete apenas a aprovação numérica, sem necessariamente significar uma formação adequada. A pressão por resultados e avaliações institucionais positivas muitas vezes leva as escolas a priorizarem a aprovação em detrimento da profundidade do aprendizado.
Essa prática pode comprometer seriamente a formação dos alunos. Com minha experiência em ambientes corporativos e educacionais, observo que, por exemplo, um aluno de Administração com formação superficial em Contabilidade e Finanças terá dificuldades em funções básicas de gestão. Na Mecânica, o desconhecimento em áreas cruciais, como Manutenção de Máquinas, pode resultar em problemas operacionais sérios, enquanto no Desenvolvimento de Sistemas, um programador sem domínio em Estruturas de Dados pode criar sistemas ineficientes, prejudicando a produtividade e a segurança das empresas.
Para Frigotto (2008), a integração entre ensino médio e técnico deveria ir além de atender à simples demanda por um diploma. A proposta do ensino médio integrado visa uma formação de qualidade que prepare o aluno para o mercado e para a vida em sociedade, o que exige superar a dicotomia entre o conhecimento teórico e prático. Frigotto (2008) compreende que:
A educação integrada deve proporcionar não apenas uma formação técnica que atenda ao mercado, mas uma formação que faça sentido para o sujeito, que lhe dê condições de entender o mundo em que vive e de atuar de forma crítica e consciente. A escola, nesse sentido, não deve se submeter à lógica produtivista, mas sim se comprometer com a formação humana integral. (FRIGOTTO, 2008, p. 63)
Além disso, Giroux (1988) crítica a "lógica produtivista" da educação, argumentando que a educação deve "preparar os alunos para serem cidadãos participativos, e não apenas peças no mercado de trabalho". Inspirado por essa visão, é possível enfatizar que a dependência de métricas como a média global de aprovação, sem uma análise crítica dos conhecimentos práticos e teóricos adquiridos, arrisca produzir profissionais com formações insuficientes para enfrentar os desafios de suas áreas.
Assim, uma educação técnica que apenas busque aprovação quantitativa, sem uma sólida compreensão e aplicação das competências, pode deixar lacunas sérias, refletindo-se na baixa qualidade dos serviços oferecidos no mercado. É notório que a formação técnica deve ir além das métricas e promover uma capacitação profunda, que responda às necessidades do mercado e da sociedade com responsabilidade e eficácia.
4. Consequências para o Mercado de Trabalho
A média global de aprovação, quando não reflete uma formação técnica de qualidade, traz consequências significativas para o mercado de trabalho. Profissionais que se formam sem uma base sólida de conhecimentos práticos e teóricos encontram dificuldades para atender às demandas das empresas, que buscam colaboradores qualificados e eficientes. Com a minha vivência no mercado e no ensino técnico, observo que a inadequação na formação resulta em profissionais despreparados, com impacto direto na qualidade e na produtividade das empresas.
4.1. Desempenho Insatisfatório:
A falta de domínio técnico resulta em profissionais com desempenho aquém das expectativas, especialmente em áreas como Mecânica, onde conhecimentos inadequados podem comprometer a produtividade e a segurança industrial. Frigotto (2008) afirma:
A formação técnica limitada e desconexa da realidade do trabalho leva à criação de profissionais que se apresentam no mercado de trabalho sem o preparo necessário para enfrentar as exigências concretas das suas funções. Tal situação compromete o desenvolvimento e a eficiência nas empresas, especialmente em setores onde a precisão e a segurança são indispensáveis. (FRIGOTTO, 2008, p. 72)
Ressalto que essa situação não só compromete o desempenho das empresas, mas também coloca em risco a segurança industrial, evidenciando a necessidade de uma formação técnica que vá além das métricas de aprovação.
4.2. Impacto na Qualidade e Eficiência:
Profissionais com formação deficiente produzem serviços e produtos de qualidade inferior. Em Desenvolvimento de Sistemas, por exemplo, programadores com pouca experiência técnica desenvolvem softwares com problemas de desempenho, prejudicando a experiência do usuário e a competitividade da empresa. Frigotto (2008) complementa:
A formação superficial, focada em métricas quantitativas, contribui para uma qualidade inferior nos produtos e serviços oferecidos. No caso de profissões que demandam alto grau de especialização e exatidão, como na área de tecnologia, essa deficiência pode se traduzir em perda de eficiência e competitividade, prejudicando a imagem das empresas e reduzindo sua capacidade de inovação. (FRIGOTTO, 2008, p. 85)
De acordo com minha experiências de mercado alinhado a vivência acadêmica, a falta de habilidades técnicas sólidas não só afeta a qualidade dos serviços, mas também cria uma barreira para a inovação e a competitividade, fundamentais em um mercado globalizado.
4.3. Custo Extra com Treinamento:
Empresas que contratam profissionais pouco qualificados acabam arcando com altos custos de treinamento adicional, o que eleva os custos operacionais e reduz a eficiência organizacional. Uma pesquisa da CNI (2020) mostrou que mais de 50% dos empresários indicam a necessidade de treinamento adicional para novos funcionários oriundos de cursos técnicos, aumentando os custos operacionais das empresas e evidenciando falhas na formação inicial. Na visão de Frigotto (2008):
A deficiência na formação técnica de jovens que ingressam no mercado gera uma necessidade adicional de capacitação nas empresas, o que representa um custo considerável tanto em tempo quanto em recursos financeiros. Esse ônus recai sobre as empresas, que precisam compensar a falta de preparo inicial e garantir que os trabalhadores desenvolvam as habilidades mínimas exigidas pelas suas funções. (FRIGOTTO, 2008, p. 90)
É importante destacar que a dependência de treinamentos adicionais compromete a produtividade e gera um custo extra para as empresas, evidenciando a necessidade de um ensino técnico que prepare adequadamente os alunos para suas funções profissionais desde o início.
4.4. Desigualdade no Mercado:
Instituições de ensino técnico renomadas atraem maior valorização do mercado, aumentando a disparidade de oportunidades entre jovens de diferentes origens sociais. Frigotto (2008) afirma:
A desigualdade na qualidade da formação técnica oferecida por instituições de diferentes contextos sociais contribui para a concentração de oportunidades no mercado de trabalho. Jovens de classes sociais mais favorecidas, que têm acesso a instituições de maior prestígio, acabam obtendo uma vantagem competitiva significativa, enquanto jovens de camadas populares enfrentam barreiras de inserção profissional. (FRIGOTTO, 2008, p. 98)
Assim ressalto que essa disparidade cria uma barreira estrutural para jovens de classes menos favorecidas, que enfrentam desafios adicionais para competir no mercado de trabalho, agravando as desigualdades sociais. Essa realidade reforça a importância de políticas educacionais que promovam uma formação técnica acessível e de qualidade para todos.
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5. Propostas para Melhoria na Qualidade da Formação Técnica Integrada
A média global de aprovação, por si só, não é um indicativo confiável da qualidade do ensino técnico, conforme aponta Frigotto (2008). Em sua análise sobre o ensino médio integrado, Frigotto critica a superficialidade das métricas quantitativas e defende uma abordagem que vá além da simples transmissão de conteúdos teóricos, priorizando uma formação que integre o saber teórico e o saber prático. Segundo o autor, a educação integrada deve proporcionar ao estudante uma formação que o prepare não apenas para o mercado de trabalho, mas também para o exercício crítico da cidadania.
Com minha experiência em docência e no setor técnico, ressalto a necessidade de reformular práticas avaliativas e aprimorar a infraestrutura para garantir uma formação que atenda às exigências reais do mercado. A seguir, são apresentadas algumas propostas que podem contribuir para esse aprimoramento, embasadas na perspectiva de Frigotto (2008) e na minha vivência sobre a importância de uma educação técnica crítica e humanizadora.
5.1. Aprimoramento da Infraestrutura Escolar
A infraestrutura adequada é essencial para a prática no ensino técnico, especialmente em regiões carentes, onde os recursos para laboratórios e equipamentos técnicos são limitados. Frigotto (2008) enfatiza que a formação técnica de qualidade requer condições que possibilitem o desenvolvimento de habilidades práticas de forma integrada ao conteúdo teórico, permitindo uma formação mais completa. Nesse sentido, minha sugestão é:
Objetivo: Garantir condições adequadas para o ensino prático, especialmente em escolas de regiões menos favorecidas.
Ações: Investir em laboratórios, oficinas e equipamentos técnicos que permitam aos alunos realizarem atividades práticas que complementem a teoria, conforme a necessidade de cada área profissional.
5.2. Reformulação dos Métodos de Avaliação
De acordo com a teoria da aprendizagem experiencial de Kolb (1984), “o conhecimento é continuamente criado e recriado a partir da experiência”, reforçando a importância de incluir avaliações práticas e estágios supervisionados. Um exemplo bem-sucedido é o sistema dual alemão, onde mais de 80% dos egressos conseguem emprego em suas áreas de formação (OECD, 2019). A abordagem tradicional de avaliação, baseada em provas e médias quantitativas, muitas vezes não reflete a capacidade real do aluno em aplicar o conhecimento adquirido. Frigotto (2008) argumenta que a avaliação no ensino integrado deve considerar as competências práticas e a resolução de problemas complexos, integrando teoria e prática. Eu recomendaria:
Objetivo: Avaliar a capacidade dos alunos de aplicar os conhecimentos de maneira prática e integrada.
Ações: Implementar avaliações baseadas em projetos técnicos e práticas que demonstrem o domínio do aluno na resolução de problemas. Introduzir estágios supervisionados como parte obrigatória do currículo, para expor os alunos a situações reais de trabalho. Aumentar o peso das disciplinas técnicas na média final, refletindo a importância dessas áreas para o desenvolvimento profissional dos estudantes.
5.3. Revisão da Concepção de Média Global
A média global, quando calculada sem distinção entre disciplinas técnicas e teóricas, pode mascarar deficiências no aprendizado prático. De acordo com Frigotto (2008), a formação técnica integrada exige uma avaliação diferenciada que considere as especificidades de cada área, promovendo uma visão mais justa da competência do aluno. Assim, minha proposta é:
Objetivo: Ajustar o cálculo da média global para que represente fielmente a competência dos alunos nas áreas-chave do curso.
Ações: Criar uma média específica para disciplinas técnicas, diferenciando-as das disciplinas gerais. Desenvolver programas de reforço e recuperação para alunos com dificuldades em disciplinas técnicas, garantindo a competência mínima antes da conclusão do curso.
5.4. Integração com o Mercado de Trabalho e Feedback de Ex-alunos
Para Frigotto (2008), a educação técnica deve ser uma formação completa e significativa, voltada para a preparação do estudante para os desafios do mercado e para o exercício da cidadania. A integração com o mercado de trabalho e o uso do feedback de ex-alunos permitem ajustar o currículo às demandas reais e promover um ensino mais alinhado às exigências do setor. Sugiro que:
Objetivo: Alinhar o currículo às exigências do mercado de trabalho.
Ações: Estabelecer parcerias com empresas para estágios, visitas técnicas e mentorias, promovendo uma experiência prática mais próxima das demandas reais. Realizar pesquisas periódicas com ex-alunos, identificando possíveis melhorias no currículo e nos métodos de ensino com base em suas experiências no mercado.
Essas propostas, embasadas nas perspectivas de Frigotto (2008) e das minhas experiências de mercado e vivência acadêmica, visam tornar o sistema de aprovação mais justo e representativo, priorizando o desenvolvimento de competências essenciais para o sucesso dos alunos tanto no mercado de trabalho quanto em sua atuação como cidadãos críticos e conscientes. Ao adotar uma abordagem integrada que valorize a formação completa, é possível promover uma educação técnica que vá além do diploma, preparando profissionais realmente qualificados e comprometidos com as demandas contemporâneas.
6. Conclusão
A média global de aprovação no ensino médio integrado ao ensino técnico, embora usada como indicador de desempenho, apresenta limitações significativas que exigem uma análise crítica e reformas estruturais. Como Frigotto (2008) aponta, “a educação integrada deve proporcionar ao estudante uma formação que o prepare não apenas para o mercado de trabalho, mas para a vida em sociedade” (FRIGOTTO, 2008, p. 63). Portanto, depender exclusivamente desse indicador quantitativo ignora aspectos essenciais da formação integral que o ensino técnico integrado deve oferecer.
Com minha experiência no setor técnico e na docência, reforça a importância de um ensino técnico que vá além da mera aprovação numérica. Para que o ensino técnico cumpra seu papel de formar profissionais qualificados, ele destaca que é fundamental que o sistema educacional promova uma formação “que vá além da mera transmissão de conteúdos” (FRIGOTTO, 2008, p. 49). Isso implica em um ensino que valorize tanto o conhecimento teórico quanto o prático, desenvolvendo jovens capazes de aplicar suas habilidades e conhecimentos em contextos reais e complexos. Somente com essa visão abrangente será possível atender às exigências do mercado e, ao mesmo tempo, formar cidadãos críticos e atuantes.
Além disso, Frigotto (2008) destaca que a educação técnica deve “superar a dualidade histórica entre o saber intelectual e o saber manual” (FRIGOTTO, 2008, p. 57), o que exige uma revisão na forma de avaliar o desempenho dos alunos. Argumento que a introdução de avaliações práticas, estágios supervisionados e investimentos em infraestrutura são passos fundamentais para construir uma formação técnica mais sólida e significativa, que reflita as necessidades do mercado e a complexidade das funções que os futuros profissionais desempenharão.
Assim, a adoção de uma abordagem educacional que vá além das métricas quantitativas é crucial para que o ensino técnico integrado contribua verdadeiramente para o desenvolvimento social e econômico do Brasil. Ao oferecer uma formação que considere o aluno como um sujeito crítico e consciente, o sistema educacional pode não apenas responder às demandas do mercado, mas também formar indivíduos capazes de enfrentar os desafios de uma sociedade em constante transformação.
Giroux (1988) conclui que a educação deve “ir além da formação técnica e desenvolver a capacidade crítica do aluno para que ele compreenda e atue no contexto social e econômico”. Freire (1974) complementa essa visão ao defender uma educação que não apenas instrua, mas que também “liberte o sujeito para ser capaz de transformar sua realidade”.
Acredito que uma formação técnica integrada e humanizadora é a chave para formar profissionais competentes e cidadãos conscientes, aptos a responder aos desafios e demandas do mercado e da sociedade de forma crítica e transformadora.
Referências
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Necessidades de treinamento para novos profissionais no Brasil: relatório setorial. Brasília: CNI, 2020.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.
FRIGOTTO, G. A relação entre trabalho, ciência e cultura no ensino médio integrado. In: FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M.; RAMOS, M. (Org.). Ensino médio integrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, 2008.
FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO. Relatório sobre o impacto da educação técnica no mercado de trabalho brasileiro. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2019.
GIROUX, H. A. Schooling and the struggle for public life: critical pedagogy in the modern age. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1988.
KOLB, D. A. Experiential learning: experience as the source of learning and development. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1984.
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Vocational education and training in Germany: strengths and challenges. Paris: OECD Publishing, 2019.
JLC.
[1] Administrador e Especialista, Bacharel em Administração de Empresas com habilitação em Administração de Cooperativas e Empresas Rurais. Possui MBA em Gestão de Pessoas e Especialização em Docência para a Educação Profissional, com Licenciatura para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Desde 1986, atua no mercado de trabalho e, desde 2007, dedica-se à docência no ensino superior, técnico e médio. Professor em cursos de Técnico em Administração, Técnico em Contabilidade e Ensino Médio Integrado e Profissional (EMIEP), ministra disciplinas nas áreas de Administração e Contabilidade, contribuindo com sua vasta experiência para a formação de futuros profissionais.