NUBANK ERROU. MAS DEU UMA LIÇÃO AO MERCADO
A crise gerada pela incontinência verbal de uma das fundadoras do Nubank, Cristina Junqueira, durante sua participação no Roda Viva, trouxe um elemento a mais – e muito importante – à discussão sobre o racismo, inclusão e valores dentro das empresas.
Ao contrário de muitas empresas, o Nubank se manifestou imediatamente, e não foi para dizer que a empresária foi mal interpretada, argumento pobre no qual a maioria se ampara.
Assumiu a crise, e melhor, disse claramente que “a diversidade foi sempre, sim, parte da nossa cultura. O equívoco foi achar que ter o valor por si só bastava”. Ou seja, a defesa do valor em questão sempre existiu, mas ninguém sabia o que fazer com ele.
É a velha história do quadro na parede, que define a visão, os valores e a missão, que na verdade nunca saiu da parede para a prática.
Parece simples a assunção dessa deficiência, mas não é. A criação da marca deve ter custado caro aos empresários, e certamente a falha deve ser dividida com os profissionais de branding, que ainda não estão estendendo sua especialidade à necessidade de desenhar ou pelo menos propor – programas que chancelem toda a teoria contida nos manuais.
Os mais técnicos dirão que isso não faz parte das atribuições do branding. Não fazia. Agora eles precisam encontrar formas e parcerias para orientar quem contrata seus serviços.
Outro aspecto interessante da reação dos empresários do Nubank foi reconhecer que são incapazes de fazer a transição sozinhos, ao contrário do Magalu, que fez um programa Tabajara muito mal explicado e, portanto, os resultados também serão questionáveis ou relativos.
O Nubank, por meio de uma carta pública, se compromete a "avançar, dentro e fora de casa, com uma agenda de reparação histórica e de combate ao racismo estrutural”. E, nesse ponto, já migrou o discurso para a prática, ao estabelecer uma parceria com quem, de fato, pode ajudar na transição. O banco é especialista em dinheiro, então foi buscar no mercado quem poderia ajudá-lo a entender melhor a questão para, então, trazer a contribuição.
Nessa direção, os empresários anunciaram que firmaram parceria com o IDBR—Instituto Identidades do Brasil. "O objetivo é ampliar nosso entendimento sobre o tema, firmar nosso engajamento público e contínuo e acelerar a promoção da igualdade racial no Nubank", segundo a carta assinada pelos três sócios.