Num mundo fragmentado, a narrativa reflexiva do caos pós-moderno.
Como o mundo se apresenta ao jovem do século XXI? Os fragmentos de história somados aos avanços tecnológicos formam um imenso enredo multiplot, onde histórias simultâneas acontecem em diferentes lugares, misturando épocas distantes a fatos acontecidos em tempo real.
Diante deste bombardeio de informações, onde a arte e a literatura são como flashes retirados da história e apenas pontuam novas narrativas contemporâneas, os jovens se habituaram a olhar o mundo como um espelho estilhaçado, onde tudo acontece de forma picotada e em alta velocidade, lembrando um videoclipe.
Nada mais natural que o cinema, para captar a atenção deste novo público, optasse cada vez mais por realizar produções com narrativas também picotadas, fora da ordem cronológica, com diálogos inquietantes e velocidade estonteante.
Todo este apelo pós-moderno do cinema, no entanto, tem um objetivo de comunicação bem definido. A trama não linear, ao interagir com o universo cultural de hoje, está em busca de atingir seu objetivo de comunicação, que é tão forte quanto em uma narrativa linear tradicional, seja em estilo ou conteúdo.
Há algumas décadas, quando as informações não eram tão rápidas e o mundo era compartimentado em porções muito bem delimitadas, a narrativa linear era perfeitamente adequada para atender aos anseio do público de então, que vivia em nichos particulares, sem a expansão de horizontes proporcionados pela globalização.
Hoje, a internet, as redes sociais e a revolução digital nos meios de produção de cultura mudaram a receptividade do público, que busca agora novas formas de expressão.
A estrutura não linear, com o entrelaçamento de histórias em tempos diferentes e avanços e recuos narrativos, é bastante utilizada no cinema, que busca também falar a linguagem contemporânea.
Para entender melhor como isso acontece na telona, vamos partir de dois exemplos prático de bastante sucesso: Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, e Babel, de Alejandro González Iñarritu.
Pulp Fiction e o prólogo
Dois assaltantes, um homem e uma mulher, estão discutindo sentados à mesa de uma lanchonete, se devem assaltar o lugar ou não. Não sabemos quase nada sobre o índice de maldade deles e ficamos desorientados quando eles se levantam da cadeira de armas em punho, prontos para atirar em um bando de inocentes. Aqui, a cena é cortada. O que aconteceria em seguida?
Pulp Fiction – da tensão máxima à conversa banal entre amigos nem tão bonzinhos.
Não sabemos de imediato, porque a cena seguinte é em outro local e tempo, onde os protagonistas, Vincent Vega e Jules Winnfield, rodam dentro de um enorme carro e conversam sobre trivialidades.
Partimos de uma cena inicial de alta tensão para um lugar aparentemente tranquilo, onde se fala de hábitos e costumes das pessoas. Qual o propósito? Impactar com um começo forte, retirado da ordem cronológica, que abre o suspense e aponta para um desfecho mais tarde.
As línguas diferentes de Babel
Pessoas que não dominam o idioma de outros povos não conseguem se comunicar com eles. Partindo desta premissa, Babel aponta de forma metafórica para a dificuldade de comunicação, como se as pessoas falassem línguas diferentes, quando na realidade apenas elas não se entendem.
Em Babel, um tiro é o detonador de um conflito de comunicação.
Babel se passa em 4 países diferentes, Marrocos, Estados Unidos, México e Japão, e traz coincidências que unem de forma trágica a vida dos personagens espalhados por estes lugares. O filme fala do isolamento em que as pessoas vivem no mundo globalizado e as consequências disso para suas vidas.
Filmes como Pulp Fiction e Babel são sucesso de público e crítica porque dialogam muito bem com o mundo contemporâneo, fazendo uma leitura, digamos assim, pós-moderna. Trazem ao público o seu cotidiano fragmentado, de interesses múltiplos e rápidos e, por isso mesmo, aparentemente nem tão profundo.
Este é um estilo de narrativa que chama a atenção, mas exige um trabalho artesanal de construção cena a cena, sem jamais perder o fio condutor da história que se deseja contar porque, afinal de contas, ainda trata-se de storytelling.
Utilizar a técnica de narrativa não linear na construção de vídeos institucionais ou mesmo na apresentação corporativa pode ser um ótimo caminho. Trabalhar com metáforas, como em Babel, funciona sempre muito bem.
Ou ainda, se você preferir iniciar o projeto com um prólogo para chamar a atenção do público e então abandoná-lo para retomar em um momento posterior e estratégico, pode ser melhor ainda.
Contudo, há de se ter senso estético e cuidado na condução da história. Se isso for feito, o resultado pode ser ótimo. Diferente de tudo que você já fez e em sintonia com o mundo atual. Vale a pena, e muito, tentar este caminho narrativo.
É isso aí. Em breve, estarei de volta para disponibilizar para vocês o primeiro capítulo do ebook “Escrevar a Sua Melhor História”. Imperdível para quem deseja melhorar a redação e se comunicar bem. Até lá!