O amadurecimento da sustentabilidade
No meio de tantos desafios, ansiedades e incertezas que o atual momento nos impõe, temos a oportunidade de aprender, crescer e evoluir ou paralisar pelo medo e pela insegurança. Vejo ao meu redor diversos atores aprendendo com a atual situação. Eles estão repensando o seu papel e a melhor forma de atuar. A pandemia gerou enormes sequelas em questões sociais e econômicas que serão difíceis de superar, mas impulsionou importantes transformações. Estamos amadurecendo como sociedade e nos tornando mais conscientes dos desafios sociais que nos cercam. Esta enorme tomada de consciência em relação às questões sociais pode ser percebida em atitudes:
- Estamos nos tornando indivíduos mais solidários, doadores e atentos às desigualdades sociais.
- Investidores despertam para a importância de direcionar seus recursos para gerar impactos socioambientais positivos.
- Empresas passam a valorizar mais suas relações com seus públicos de interesse. O respeito à diversidade e a relação com as comunidades passam a ser importantes por conta das novas demandas da sociedade impulsionada pela consagrada sigla ESG (Environmental, social, governance).
- Famílias Empresárias vão além de suas tradicionais doações filantrópicas e buscam impacto social através dos negócios. Impulsionam Negócios de Impacto e migram para Investimentos Sustentáveis.
É muito importante que estes movimentos sejam genuínos, integrados e estratégicos para que realmente adicionem valor. Caso contrário, tais movimentos podem apenas contribuir para as necessidades imediatas e emergenciais, e não trarão a evolução esperada para atingirmos um novo patamar de consciência social e economia 4.0. Migraremos para ciclos mais integrados, virtuosos e regenerativos como, por exemplo, a economia circular, ao invés da economia linear do descarte. Novas práticas envolvendo reuso de ativos existentes, baixas pegadas de carbono e produtos com boas credenciais socioambientais também são aprimoramentos necessários para que as empresas apresentem diferencial estratégico e performance financeira a longo prazo.
Mas e na prática? Você já pensou em como pode atuar? Ou em como influenciar um avanço nos nossos desafios sociais? Qual seria a sua estratégia, da sua família ou a da sua empresa para serem mais sustentáveis? Fazer uma avaliação de Impacto para empresas B e descobrir os gaps existentes? Integrar os ODS nas praticas da Empresa através do SDG Compass?
O inédito estudo lançado pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU em parceria com a plataforma Stilingue, demonstra o quanto o tema da sustentabilidade cresceu em termos de visibilidade de 2019 para 2021. Os impactos deste movimento em diferentes setores e a percepção sob a ótica de Proprietários, Sócios de empresas assim como CEOs e Presidentes de Conselhos. Para entender melhor este movimento, o estudo através de inteligência artificial, nos mostra que vivemos um boom ESG: No ultimo ano discussões sobre o assunto em redes sociais cresceram mais de 6 vezes, mas suas aplicações práticas ainda são pouco estruturadas. Segundo os 308 respondentes dos 1,1 mil membros da rede de signatários, as iniciativas mais identificadas atualmente são: Mecanismos de compliance e governança que inibam praticas desleais, gestão de resíduos, criação de instancias que contribuam para integridade da organização, apoio emergencial a COVID-19, apoio as comunidades do entorno e políticas de equidade de gênero. Sendo as ações sociais emergenciais, as atividades com impacto social positivo mais citadas pelos respondentes. Quanto a questão do termo ESG, para CEOs e Presidentes do Conselho, o termo só foi novidade em 2020 para 11%, diferentemente do cenário encontrado entre Proprietários ou Sócios que foi de 23%.
As megatendências sociais demandadas pelo S do ESG - como políticas de diversidade, inclusão, ética com colaboradores e relações com comunidades vizinhas - estão em pauta não somente por parte dos investidores, mas também da sociedade em geral. Consumidores e colaboradores farão escolhas cada vez mais conscientes e, os negócios que não avançarem de forma transversal e transformadora em relação à sustentabilidade perderão competitividade. As empresas que não redesenharem a forma de gerar lucro e não traçarem um claro propósito que gere significado, deixarão de atrair talentos e clientes satisfeitos. Aderir a estratégias e práticas operacionais que levem em conta critérios ESG é gerir riscos e gerar vantagem competitiva na nova economia de um capitalismo consciente voltado para seus stakeholders e não somente para o “bottom line”’.
Muitos instrumentos, inclusive os de regulação, vão fazer com que grandes empresas que não adotarem a sustentabilidade por convicção venham a faze-lo por convocação. O importante é traçar estratégias e começar a atuar para aos poucos avançar e não ficar para trás.
O ISE, Índice de Sustentabilidade da Bolsa tem menor volatilidade e valorizou 294,73%, enquanto o IBOVESPA valorizou 245,06% no mesmo período, desde que foi criado em 2005. Isto comprova o quanto o mercado de captais valoriza a importância das externalidades e um olhar mais voltado para as demandas da sociedade e das novas gerações.
Os desafios sociais de nosso país vão muito além! Outros atores como filantropos, famílias empresárias, investidores do mercado financeiro, intelectuais e empreendedores sociais também devem estar atentos aos impactos socioambientais. Todos nós podemos gerar impacto social positivo através de nossas escolhas e investimentos. É possível investir ou trabalhar em empresas que tenham respeito às causas que defendemos e buscar bons lucros respeitando estas causas. Cabe aos investidores financeiros e famílias empresárias detentoras de grandes ativos uma reflexão de onde estão colocando os seus recursos. Elas podem selecionar - fazer um negative screening - e investir em empresas ou ativos financeiros que gerem menores externalidades socioambientais. Doações também podem ir além das carências sociais mais básicas e podem ser um relevante incentivo a pequenos empreendedores socioambientais. Processos de Venture Philantropy por exemplo, geram inclusão social e proporcionam um crescimento do número de Negócios de Impacto que serão absorvidos no passo seguinte pelo mercado financeiro.
Para evoluirmos socialmente precisaremos inovar! Sem inovação não conseguiremos implementar novos modelos criativos para: erradicação da pobreza, educação de qualidade, igualdade de gênero, trabalho decente, redução das desigualdades e todos outros desafios elencados nos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis da ONU). Precisamos mobilizar capital, somar esforços e atuar de forma sinérgica para que empresas, governos, elite econômica, intelectual e indivíduos em geral estejam engajados com práticas mais sustentáveis.
Especialista em governança de empresas familiares. Formação de conselhos – consultivos e de administração, conselho de família e conselho de sócios
3 a👏👏👏
Senior Advisor & Head of Family Social Impact at Cambridge Family Enterprise Group (CFEG)
3 aParabéns Bea Johannpeter pelo excelente e inspirador artigo! Sim, temos que inovar e refletir sobre como poder impactar. Todos nós somos responsáveis pela mudança. Parabéns!!! Aprendo muito com você.
Senior Advisor and Associate Partner CFEG Brasil na Cambridge Family Enterprise Group (CFEG)
3 aBea. Excelente texto. Vamos divulga lo. Parabéns e um texto consciente e sensível. Ler e um aprendizado.
Gerente Geral de Bem-Estar e Saúde Gerdau Brasil
3 aÓtimo texto! Nos leva a fazer importantes reflexões sobre as nossas responsabilidades diante dos desafios sociais.