O ano em que o mundo parou
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O ano em que o mundo parou

Do ponto de vista econômico, 2020 já era previsto como desafiante pela maior parte dos analistas de mercado do país. Apenas para citarmos um exemplo, após três meses seguidos de queda, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central (popularmente conhecido como a prévia do PIB) apresentou leve crescimento de 0,35% – movimento que fez com o que fechássemos o primeiro bimestre com alta de 0,33% (no comparativo com o mesmo período de 2019).


Com a chegada da COVID-19 – que rapidamente ganhou dimensões de pandemia global – os índices de mercado como o IBC-Br (que, em síntese, indicavam um ano de retomada árdua, lenta e com percalços ao longo do caminho) perderam a relevância para um ambiente de negócios perdido em meio a incerteza, instabilidade e falta de clareza sobre as medidas que deveriam ser tomadas tanto para preservar vidas, quanto para salvaguardar empresas de todos os portes que, nos melhores cenários, tiveram de apertar e muito os cintos para conseguir sobreviver.

O fato é que poucos países e empreendimentos estavam preparados para a maior crise humanitária e econômica da história contemporânea. Um volume imenso de negócios fechou as portas em meio às idas e vindas da política brasileira e das medidas de apoio para o empresariado que – sobretudo, para muitos pequenos e médios empreendedores – foram insuficientes ou vieram tarde demais.

Dentro deste contexto, não é exagero afirmar que alguns setores literalmente pararam no ápice da pandemia do coronavírus. Segundo um estudo do Sebrae, por exemplo, 98% do setor de eventos foi afetado pela crise e teve perdas que variaram de 76% a 100% em alguns nichos do mercado. Segundo a Abrape (Associação Brasileira dos Promotores de Evento), aproximadamente 300 mil eventos foram cancelados no país, com a associação projetando demissões de 840 mil trabalhadores no segmento até outubro. 

Outro mercado que literalmente parou foi o de turismo. Segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT), em abril deste ano, a queda na movimentação global de turistas foi de 97% na movimentação, com perdas de US$195 bilhões durante o primeiro quadrimestre do ano. 

De acordo com lista do Ministério da Economia, outros setores bastante afetados foram os de transportes, a indústria automotiva e de calçados, além do setor artístico/cultural; mas o fato é que, em maior ou menor escala, poucos setores passaram ilesos da crise e, mesmo os mercados que conseguiram crescer durante a pandemia tiveram de redobrar seus esforços no desenho de estratégias inteligentes para se posicionar em um ambiente de negócios apreensivo e caótico.

Lições aprendidas

Se foi possível extrair algo positivo de um cenário tão desafiador, ele envolve o aprendizado de algumas lições que, no plano econômico, podem nos auxiliar a superar contextos de crise profunda:

  • É fundamental manter sempre as finanças equilibradas e contar com reservas tanto para cenários de crise, quanto para investimentos que podem ser necessários em um processo de pivotagem ou diferenciação de mercado;
  • Projeções são apenas projeções – trabalhe com elas, mas esteja pronto para enfrentar diferentes cenários, inclusive os mais adversos;
  • A incerteza – por mais que, por vezes, ignoremos esse fato – faz parte do mercado e, em maior ou menor grau, ela influenciará os rumos do seu negócio;
  • Temos de ter coragem para testar alternativas, errar e acertar, pois é dentro deste movimento que inovamos e, por vezes, conseguimos encontrar saídas.  

Um futuro desafiador

Embora tais precauções não sejam capazes de garantir que teremos sucesso diante de cenários tão complexos como o que vivemos em 2020 – certezas, mais do que nunca, não existem em uma jornada empreendedora – elas podem servir como um norte para que o ambiente empreendedor saia mai forte da crise e, acima de tudo, para que nos prepararemos para os novos e grandes desafios do ciclo econômico que já bate à porta.

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