Economia x Saúde
A verdade é que nunca foi uma questão de batalha pelo nível de importância, porque além da complementaridade, ambas são mutuamente exclusivas.
"Primeiro salvamos o povo, e depois a economia" - Lula da Silva, ex-presidente do Brasil
Actualmente o mundo está a atravessar momentos sombrios, que têm posto à prova todas as nossas crenças, e a possibilidade das coisas que, ainda ontem, pareciam impossíveis de acontecer, dentre as quais se encontra a notória recessão económica mundial.
As palavras do ex-presidente brasileiro Lula da Silva, embora correctas, espelham somente um lado da moeda, porque sem economia também não haverá pessoas.
Com a economia em declínio, se até mesmo os grandes negócios estão de certa forma tremidos, o que mais se pode dizer dos micro e pequenos empreendimentos? E olhando para a realidade moçambicana, onde muitos negócios são feitos ao calhas nos semáforos, e cuja receita do dia é canalizada quase que na totalidade, para o jantar e/ou para o pão no dia seguinte, o que será das tias que vendem frutas nos passseios, dos meninos que limpam os vidros dos carros quando o semáforo está vermelho, das Make-up artists do instagram (se não haverá assim tantos eventos nos próximos tempos), das meninas dos pequenos almoços (também do instagram), entre muitos outros micro e pequenos empreendimentos que têm dado um final do mês às pessoas?
Falar da contração económica no meio ao caos instalado pelo COVID-19, em que tememos pelas nossas vidas, chega a parecer ganância. No entanto é importante que percebamos que a economia mundial é tão importante quanto a saúde da população mundial, e que escolher uma em detrimento da outra, significa continuar a ter óbitos, porém por diferentes causas. Ou seja, com o mundo parado morreremos de fome, ou do vírus e outras doenças.
Pensar no futuro, face ao momento presente, não está fácil para ninguém. Pior ainda, para os empreendedores que não conseguirão manter seus negócios a partir da quarentena ou do isolamento social. Facto este, acrescido da indisponibilidade de uma poupança para garantir salários nos tempos de inactividade que se avizinham.
A verdade para qual ainda não estamos a olhar com atenção, é que num cenário pessimista, dentro de pouco tempo a taxa de desemprego vai subir mais alguns pontinhos, e com pessoas desempregadas a qualidade de vida fica, automaticamente, afectada. E por qualidade de vida afectada, refiro-me a redução do poder de compra de produtos básicos à nossa subsistência e até mesmo de medicamentos. Afinal nem todos podem contar com um seguro de saúde.
Portanto, as discussões sobre a relevância da economia no momento em que nos encontramos não deveriam roubar o nosso tempo, mas sim como fazer o sistema funcionar com o mínimo de dano possível.
Problemas já são muitos. Agora buscamos, mesmo, por soluções.
Hélia Matesso