O barco tá afundando. Se você acha que precisa de um líder para salvar... vai tomar banho. Literalmente.

    A situação é assim, o barco está afundando, 100 pessoas a bordo e somente 50 coletes. Não tem bote salva vidas e os coletes não suportam mais de uma pessoa. As pessoas, sem saber o que fazer, esperam, esperam, esperam... ninguém sabe o que, mas esperam... Até que um clima de barbárie se instala no barco, vai dar assassinato em breve... E daí:

 Situação 1)

        - surge um líder – faz um discurso empolgado, fala das opções humanas, de situações em que os homens se uniram para enfrentar a vida, afinal se o destino colocou aquele desafio é porque tem de ser e vamos lá. No final todos se perdoam mutuamente, pois quem não tem pecado que atire a primeira pedra. As pessoas se abraçam, fazem uma oração emocionada, mesmo os mais durões choram, sim, choram, que coisa linda!! Choram pela primeira vez na vida. E abraços, emocionados e morrem afogados Ah! Com a exceção de dois: um que era surdo, não ouviu o discurso e pegou dois coletes (lembram dos 50 coletes ?  ) e se jogou n’água com os dois coletes. E outro, que de tão emocionado acabou tropeçando e caindo do barco e foi salvo pelo surdo.

Situação 2)

            - surge um comandante, faz uma lista de requisitos físicos de sobrevivência, organiza a fila, distribui os coletes para os 50 menos aptos. Enquanto isso organiza outra equipe que vai buscar objetos que flutuam e os distribui para os 50 mais aptos. Todos se jogam ao mar. 95 sobrevivem.

 Como cada um é lembrado:

 - o discurso do líder é utilizado até hoje em citações emocionadas de como resgatar o espírito de equipe mesmo em momentos negros e adversos ( se lembram do cara que de tão emocionado caiu do barco e foi salvo pelo surdo? Pois bem, ele é o apóstolo deste líder ). O local onde afundou o barco leva seu nome e é local de romaria de dinâmicas e treinamento de integração, onde no mesmo local reproduzem o discurso do líder para motivar as equipes e até simulam o naufrágio para identificar novos líderes. E o líder é lembrado até hoje como um exemplo de líder.

 - o comandante é lembrado como o cara que matou 5. Mesmo pelos 95 que se salvaram.

 Esta história de colocar os líderes como uma coisa de outro mundo, salvadores de empresas, gente isso é muito engraçado.

Líderes são emotivos, e emotivos têm algumas características que só atrapalham. Vamos ficar encima de algumas:

 - Emotivos precisam da aprovação constante dos outros – sim, emotivos são movidos a emoção, precisam desesperadamente que os outros gostem deles. Isso os torna fracos de princípios, ou seja, os líderes muitas vezes, para manter a simpatia dos outros acabam fazendo coisas que vão ao contrário de seu discurso. Ou mesmo, chancelando atos em suas equipes que são contra os princípios que ele discursa. Tudo para se manter líder, tudo para manter o afeto dos outros, pois se for contra os liderados ele não será mais amado e conseqüentemente não será mais líder.

- Emotivos tem dificuldade de avaliar a realidade e acabam criando um mundo de fantasias, onde vivem, eles vêem a realidade de forma distorcida sendo incapazes de uma avaliação crítica e fundamentada, principalmente de si mesmo. E pior, qualquer crítica é tida como um ataque pessoal. Daí cria-se times: os que me amam e os que me odeiam. Isso porque não se sustentam no campo das idéias, tudo vira um jogo passional.

- Pessoas precisam de líderes, pois precisam direcionar seu querer, mas troca este direcionamento de forma muito rápida, tal é a necessidade que as pessoas têm de admirar alguém. Mas cuidado senhor líder, eles amam amar alguém que sirva aos seus interesses de momento e se você deixar de servi-los eles não vão te admirar e você vai deixar de ser líder. Por isso que os líderes têm princípios tão frágeis, que via de regra se sustentam só no discurso e não entre seus liderados.

É lógico que uma empresa precisa de líderes. Pois são estes caras que conseguem fazer atitudes extremamente impopulares ( como redução de pessoal, aumento de competitividade interna, e outras coisinhas mais ) virarem objeto de lágrimas de consagração empresarial. Afinal, o líder não tem comprometimento com a realidade, ele é emotivo e consegue despertar a emoção nas outras pessoas fazendo com que elas também não percebam a realidade.

Líderes foram necessários ao duro caminho que as empresas brasileira tiveram rumo a qualidade ( isso no inicio dos anos 90 ), pois vai explicar que tudo o que o operário fazia tava errado? As empresas tiveram de fazer profundos cortes e reestrutura e quem estava lá para transformar as lágrimas de dor em lágrimas de esperança e alegria? Os líderes.

Mas agora os tempos são outros, a água bate no traseiro e precisamos de gente que pense a realidade e não a fantasia da liderança ( a começar pelo Planalto). Mas depois da exaltação profética dos líderes quem quer ser lembrado como o que matou 5?

Se você sente, mas sente muito, cuidado, você pode ser um líder.