O barulho dos inocentes
Diariamente, por volta das cinco da tarde, próximo à minha casa, inicia-se uma festa bastante intensa. Costuma durar por volta de trinta a quarenta e cinco minutos, e, após a explosão de intensidade e ruído, o silêncio impera até a manhã seguinte, quando, por volta das seis da manhã, inicia-se nova festa. Essa é a rotina dos passarinhos, e ocorre em todos os lugares.
A natureza é muito didática e ao observá-la temos a chance de aprender muito sobre nós mesmos. É muito interessante o êxtase dos passarinhos no começo e no fim da tarde, como se estivessem realmente celebrando uma festa. O barulho é ensurdecedor, as aves revoam e o céu, mesmo próximo às nossas cabeças, vira um grande salão de festas. Costumo dizer que é a festa da natureza, celebrando o encerramento – ou início – de mais um dia.
Durante o dia, se nos concentrarmos um pouco, escutaremos o barulho dos pássaros, mas, durante à noite o silêncio é gritante, indicando claramente um processo diário de celebração, trabalho, celebração e descanso. Os pássaros não têm boletos para pagar, não têm carreira, não têm carros e casas a serem compradas e pagas, e não têm churrascos aos fins de semanas regados a muito álcool. Então por que eles celebram, trabalham, celebram e descansam? O que eles celebram? Talvez o façam pois é da natureza deles.
E a nossa natureza humana? É algo semelhante à dos pássaros, ou é isso que muitos vivemos: Celebrações durante o dia, trabalhando durante à noite, trabalho cujo objetivo está sempre fora do próprio trabalho, caminhos sem direções, e muito barulho. Barulho o tempo todo?
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Para existir celebração, há de existir primeiramente o silêncio, seja aquele com barulho (o laboral) ou aquele real (do descanso). O silêncio é o nosso ponto de encontro com nossa natureza, faz com que reconectemos com tudo o que está a nossa volta, e, principalmente, com tudo o que está dentro de nós. Dentro de cada um de nós vive um universo completo, conhecido por microcosmos. Somos gestores desse microcosmos e precisamos conhecê-lo para gerenciá-lo.
O silêncio nos coloca no presente, nos faz reconhecer o passado e nos prepara para o futuro. E é, ao silenciar, que estamos aptos a nos conectar com a realidade. E é só neste contato com a realidade que nos tornamos capazes de decidirmos bem, afinal, o que diferencia a natureza humana da das outras espécies é essa capacidade te tomar um decisão.
Silenciemo-nos.